in "Cadernos de poesia 4, O poeta apresenta o poeta"
Publicações D. Quixote, Lisboa, 1969
De volta ao "Corte na aldeia":
Com este anoitecer sombrio
de vento, chuva e frio
acendam a lareira e ouçam
esta velha canção de
Vinicius de Moraes e Tom Jobim
em várias versões e um extra:
o próprio Vinicius a dizer o Soneto da Fidelidade!
Tom Jobim ao piano,
Toquinho na viola,
Miúcha na voz
e Vinicius de Moraes no copo.
Que saudades desta gente!
(Até se desculpa o frio, o vento e a chuva da tarde lá de fora)
Rapinado, claro!, do "Corte na Aldeia":
É incrível!
Durante dias e dias procurei esta canção (do velho Vinicius de Moraes )
para me meter com o meu genro, João Leiria,
antes da minha neta Madalena nascer.
Não consegui!
Agora, por mero acaso, encontrei-a.
Ainda vai a tempo
com um abraço ("paternal") para o João.
Já "postei" vários poemas do grande Vinicius de Moraes
(clicar nas tags respectivas, na coluna da esquerda).
No entanto nunca tinha "postado" nenhuma música.
Faço-o agora, relembrando os idos anos 60, quando Vinicius, ainda vivo,
visitava, com alguma regularidade, o nosso país
e a televisão transmitia os seus concertos!
(e não era "serviço público"...)
Quando a madrugada entrou eu estendi o meu peito nu sobre o teu peito
Estavas trémula e teu rosto pálido e tuas mãos frias
E a angústia do regresso morava já nos teus olhos.
Tive piedade do teu destino que era morrer no meu destino
Quis afastar por um segundo de ti o fardo da carne
Quis beijar-te num vago carinho agradecido.
Mas quando meus lábios tocaram teus lábios
Eu compreendi que a morte já estava no teu corpo
E que era preciso fugir para não perder o único instante
Em que foste realmente a ausência de sofrimento
Em que realmente foste a serenidade.
Vinicius de Moraes
in "O poeta apresenta o poeta"
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinicius de Moraes ,
in "O poeta apresenta o poeta"