Em gestão corrente ...como o País...

Novembro 22 2007

   

   O Código Deontológico da Ordem dos Médicos proíbe liminarmente todas as formas de aborto (hoje em dia poeticamente designado como interrupção voluntária da gravidez), excepto quando há comprovado perigo de vida para a mãe.

   No entanto, sempre houve médicos que o praticaram, directa ou indirectamente, sem que alguma vez a Ordem tivesse feito fosse o que fosse sob o ponto de vista disciplinar.

   Mais: toda a gente sabe que em muitos hospitais públicos se praticava o aborto, antes da actual legislação, embora de uma maneira encapotada, utilizando outras designações.

   Não há memória  de que qualquer entidade (Administrações, Ministério, Ordem) actuasse, instaurando inquéritos ou processos disciplinares.

   Entretanto ocorreu o referendo e publicou-se a actual legislação (bastante permissiva) e os hospitais e médicos não objectores de consciência iniciaram a prática do aborto às claras, sem o secretismo e a clandestinidade de outros tempos.

   Tudo estava a decorrer calmamente e sem polémicas .

   Mas o Ministro da Saúde, com a sua habitual elegância de elefante em loja de porcelanas, quis abrir uma guerra onde ela não existia e, ameaçador, deu um prazo à Ordem para esta modificar o Código, subordinando-o à lei do aborto.

   Talvez  fizesse sentido se o Bastonário não tivesse vindo a público, imediatamente, declarar que a Ordem iria manter a sua tradicional prática de não accionar disciplinarmente os médicos que praticassem o aborto.

   Assim sendo não se percebe a violência das declarações ministeriais a não ser que se destinem, apenas, a lançar poeira sobre a incompetência e a falta de sensibilidade social que esta equipa ministerial vem demonstrando e que provoca criticas mesmo nas cúpulas de um partido tão domesticado e tão amorfo como o actual PS.

   À hipocrisia da Ordem (que proíbe mas fecha os olhos), contrapõe-se a paquidérmica elegância de um Ministro que inicia uma guerra que ninguém compreende.

   Mas o Ministro não tem mais que fazer?

   

 

 



Junho 19 2007

       

      O Dr. Paulo Mendo é um médico, politico e gestor de excepcional inteligência e lucidez, um dos poucos portugueses que possui uma visão estruturada e humanista do que deve ser um Seviço Nacional de Saúde para Portugal e para hoje.

      Subscreve às quintas-feiras, n' O Primeiro de Janeiro, uma coluna de opinião, não necessariamente sobre temas médicos.

      Na última, a 14/6/07, faz uma reflexão sobre o estado actual do exercício da medicina e a relação médico-doente que é simplesmente exemplar.

      Com a devida vénia (e um grande abraço de amizade e admiração) se trancreve o texto na sua totalidade. 

     

Opinião

A Medicina e a Clínica


Paulo Mendo*

Há mais de vinte anos afirmei que a clínica, sobretudo em ambulatório, tinha que ser lenta e demorada poque só assim permitia a criação do clima de empatia necessário entre médico e doente.
Era a defesa da chamada medicina lenta que, curiosamente, despertou reacções de incompreensão de muitos colegas porque, na altura, vivia-se no convencimento de que a técnica médica e os progressos diagnósticos davam ao clínico rapidamente tudo aquilo que ele precisava para um diagnostico rápido, podendo por isso, diminuir o tempo médio das consultas e ter a seu cargo muito mais doentes!
O tempo tem vindo a confirmar que esta é uma visão errada e muito redutora da importãncia da relação entre doente e clinico, visão que despreza o essencial relacionamento entre os dois e centra erradamente o médico sobre a doença sem se preocupar em, investigar, com o seu doente, os comportamentos, hábitos, problemas e angústias que fazem com que cada pessoa “faça” a sua própria doença.
Mas infelizmente continua a ser esta a visão corrente na medicina actual, sobretudo a especializada e hospitalar, que priveligia a doença, esquecendo o doente.
A enorme confiança, com justa razão, nos avanços da tecnologia médica tem feito com que o médico se “esqueça” de ouvir o doente e, pressionado pelo tempo e confiante nos exames técnicos, reduza o dossier do seu cliente a um conjunto de resultados de exames que pouco ou nada lhe dizem sobre o doente a que pertencem.
E as razões são várias, a mais importante das quais talvez seja a burocratização e massificação dos serviços de saúde.
A necessária racionalidade da gestão, a contenção de custos, a organização do trabalho, a luta contra os desperdícios, são essenciais, mas transformam, tantas vezes, as relações de compreensão, apoio e delicadeza para com os doentes, amedrontados, angustiados e, tantas vezes desamparados, em frias relações burocráticas em que o papel, o cartão, a guia, ou o cumprimento de labiríntica burocracia se sobrepõem à humana ajuda ao nosso semelhante.
E é esse o perigo mortal das grandes organizações estatais de serviços.
Envolvidos neste processo, em que os objectivos se medem pelo número de doentes tratados, diminuição dos tempos de internamento, número de actos praticados, número de consultas efectuadas, muitos médicos, felizmente nem todos, esquecem o doente que está perante eles e, confiantes nos exames que pediram e interessados apenas no rápido diagnóstico, “despacham” a consulta sem que o “seu” doente tenha tido sequer a possibilidade de explicar as suas queixas porque não há tempo para isso.
E o mal é que, com a persistência destes comportamentos, se gerou uma cultura de serviço que se estende à sociedade, transformando o cidadão num “utente” que procura o médico, para ver se tem as tensões boas, ou se não é diabetico, ou procurando uma cura como se esta estivesse dependente do número de análises e de exames que o médico pedir.
Costumo dizer que se vai ao médico como se vai a um posto dos Correios. Neste pede-se um selo ou manda-se uma carta, No médico pedem-se diagnósticos rápidos com análises. Em ambos os sítios ninguém se ficou a conhecer, o que, se é natural nos Correios é um desastre inadmíssivel em medicina clínica.
Esta situação tem sido levantada, discutida e analisada pelos médicos de família, nas suas associações, nos seus congressos e nas suas publicações.
Porque o médico de família sabe que é a vida de cada um, que são os nossos hábitos, os nossos vícios, o nosso temperamento, os grandes formatadores da forma como a doença, ou a simples perturbação de saúde, se manifesta em cada um de nós. Por isso, sente e sabe a importância de conquistar a confiança dos seus clientes, de os estimular a serem intervenientes interessados e co-responsáveis pelo próprio tratamento, de fazerem equipa consigo e nele confiarem, porque não duvidam da sua compreensão e ajuda.
Foi precisamente a importância dada à colheita de uma minuciosa história do doente e à uma rigorosa apreciação clínica dos sinais e sintomas, que tornaram a medicina francesa da primeira metade do seculo XX, a melhor do mundo na sua capacidade de tratar, compreender e centrar toda a sua acção no doente.
É esta capacidade de ver no seu cliente um ser humano e não um simpes portador de uma doença, que é essencial em medicina familiar e contitui, por isso, motivo de preocupação e de estudo de propostas adequados, como é o caso com as Unidades de Saúde Familiar (USF) em incrementação nos cuidados primários do SNS.
Mas mesmo na área hospitalar, é essencial a delicadeza do atendimento e a franca informação do doente, porque vindo este já referenciado pelo seu médico de família e sendo hospitalizado para tratamento, corre o risco de ser completamente esquecido como pessoa, eclipsado na luta técnica entre a medicina e a sua doença.
Aliás ainda há dias, no “Público” de 10 de Junho, um longo artigo anunciava a saída de um livro da autoria de Jerome Groopman sobre a medicina e os médicos na sua relação com a doença e os doentes, onde são denunciados os perigos dos comportamentos profissionais “científicos”, tecnicamente excelentes mas que esquecem o doente.
De notar que o autor do livro, que vai ser publicado em Portugal, é um eminente professor da Harvard Medical School, investigador de fama mundial nas áreas da oncologia e SIDA, da neurobiologia e da genética das doenças degenerativas do sistema nerovso, com mais de cento e cinquenta artigos de investigação publicados, para além de ser um frequente editorialista do “Washington Post” e do “New York Times”e escritor de vários livros de política e filosofia da saúde.
Enfim uma voz autorizada escutada em todo o mundo científico que esperamos seja ouvida em Portugal.


*Médico
Ex-ministro da Saúde

         




Maio 22 2007

            

      A AESE, Escola de Direcção e Negócios, em colaboração com o IESE (Instituto de Estudos Superiores de Economia) de Barcelona e a Universidade de Navarra ministra várias pós-graduações de excelência; é muito conceituado o MBA, o PADE, o PDE e, últimamente, o PADIS (Programa de Alta Direcção de Instituições de Saúde). -

      O PADIS tem 2 edições anuais: a primeira inicia-se em Abril nas magnificas instalações da AESE em Lisboa e a segunda em Outubro no Porto.

      Tive a honra, o proveito e o prazer de frequentar o IV PADIS, o ano passado. Na altura foi-me impossível, por razões profissionais, fazer a visita à Clinica Universitária de Navarra, visita que integra a parte curricular do PADIS.

      Acompanhei agora, nessa visita, os elementos que frequentam o VI PADIS.

      Os 4 posts que se seguem apresentam algumas das fotografias tiradas durante esta visita.

      Uma saudação a todos os elementos do PADIS e cumprimentos especiais aos professores da AESE que nos acompanharam: o indispensável Dr. José Fonseca Pires e o calmo e atento Eng.º Vasco Bordado.

     

 

 



Janeiro 28 2007

 


 

Entrevista
“Correia de Campos é um homem inteligente”
António Ventura, presidente do Conselho de Administração do hospital de Alcobaça

      Texto completo em www.jornaldeleiria.pt/index.php?article=7615&visual=18mytopic=3 

(clicar).

  

emgestaocorrente às 18:50

Janeiro 23 2007

 

 

      Em meados de Dezembro, no meio do maior aparato na comunicação social, é distribuido, pelas instituições de saúde, um despacho ministerial que proibe a todos os profissionais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), a acumulação com funções de coordenação e/ou directivas no sector privado.

      Agor, após publicação em Diário da República, e no meio dos protestos do costume (Ordem dos Médicos, quem havia de ser?), o Ministro com a delicadeza que os elefantes usam para sair de uma loja de porcelanas, dá o dito por não dito, e diz que, afinal, aquela acumulação é permitida aos médicos que estiverem com horário semanal de 20 horas.

      O problema é que esse horário não existe ...!

 

 


 

 


Janeiro 22 2007

  

 

      Na última semana, uma vez mais, o povo e a comunicação social entreteve-se com episódios de "revista à portuguesa" só possíveis de acontecer em Portugal.

      Um dos mais espantosos (e ridiculos) teve como pano de fundo o controlo da assiduidade e do cumprimento dos horários em hospitais.

      Tradicionalmente esse controlo, na função pública (e não só nos hospitais), é efectuado por assinatura de livros ou de folhas de ponto, à entrada e à saída.

      Quando nas empresas privadas já estava generalizado o uso de meios electrónicos, algumas instituições de saúde públicas montaram aparelhos mecânicos.

      Ainda hoje, em muitas instituições de saúde públicas, os médicos, nos primeiros dias do mês assinam, de afogadilho, as folhas do mês anterior!

      Escusado será salientar todo o tipo de abusos e fraudes que este sistema permite.

      Há pouco mais de meia dúzia de anos, e por pressão da Inspecção-Geral da Saúde, saíram directrizes no sentido daquele controlo ser feito por meios mecânicos ou eletrónicos em todos os hospitais.

      Como acontece com alguma frequência, a generalidade das administrações hospitalares, submersas em deficits e dividas crescentes, a braços com subfinanciamentos crónicos, "passaram" ao lado e aplicaram as escassas verbas disponíveis em aquisições de material e equipamento que consideraram mais prioritário.

      Com nova insistência da I-GS, alguns hospitais dispuseram-se, agora, a adquirir meios electrónicos de contolo com reconhecimento da impressão digital de cada trabalhador, óbviamente um método muito menos susceptível de permitir abusos e fraudes.

      O Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, foi o (ou um dos) primeiro(s).

      Foi o bom e o bonito!

      Os Directores de Serviço (ou ex-, ou futuros ex-, ou ex- futuros ex-, ainda não se percebeu bem) puseram-se em bicos dos pés e apresentaram um abaixo-assinado em que ameaçavam uma demissão colectiva.

      A comunicação social sõfrega de pequenos escandalos e fogos fátuos, pôs-se a caminho na esperança  de novos acontecimentos que enchessem as primeiras páginas e fizessem vender papel e tempo de antena (sim que Matosinhos, nesse aspecto, não é uma terra qualquer!).

      O inefável Bastonário da Ordem dos Médicos (as eleições não estão longe e já há outro candidato assumido) deu-se ao trabalho de se deslocar à provincia para reunir com meis dúzia de médicos e aparecer nas televisões e jornais a dizer dislates, arvorado em supremo defensor dos pobrezinhos dos doentes que, segundo o seu ponto de vista, são contra o controlo da da assiduidade e do cumprimento dos horários pelo pessoal hospitalar!

      Os sindicalistas do costume (e mais alguns anónimos) não perderam a oportunidade para aparecer nos media, repetindo as as mesmas aleivosias do Bastonário e, também, com o fito único de defenderem os interesses dos coitados dos doentes!

      Só assim os portugueses ficaram a saber, decerto estupefactos, que é contra o interesse dos doentes que os profissionais de saúde, designadamente os médicos, sejam assíduos, pontuais e cumpridores de horários!

      Outras personagens menores, mas também sequiosas de mediático protagonismo, como dirigentes sindicais e da Ordem dos Enfermeiros, aproveitaram a boleia e lá repetiram os mesmos disparates, mas cedo se apercebendo que o filme não era com eles, desapareceram pela esquerda baixa.

      De todas as outras categorias profissionais apenas um profundo silêncio.

      O Ministro, que também não perde uma oportunidade de aparecer nos media, teve a coragem de se deslocar ao local e de se reunir com os contestatários ao efectivo controlo do cumprimento dos horários.

      Mas com a delicadeza de um elefante numa loja de porcelanas, o Ministro, à saída, em vez de se dirigir directamente aos portugueses e explicar o que estava em jogo, enredou-se em assuntos laterais, que só aos próprios interessavam, enredando-se em considerações sobre a legalidade da demissão colectiva, em abaixo-assinado, das primas donas que desencadearam o processo e para as quais os cidadãos se estão completamente nas "tintas".

      Falando sério:

  • É de todo o interesse para os médicos (que na sua maioria são, óbviamente, pessoas de bem e cumpridoras dos seus deveres, muitas vezes para  além das obrigações legais) que a assiduidade e cumprimento integral de horários seja demonstrada por sistemas de controlo eficazes e credíveis.
  • Só assim se livram do anátema que os media e sucessivos governantes têm lançado, fazendo crer que os casos de incumprimento (que os há!) são generalizados.
  • Só assim credibilizam a exigência de pagamento de horas extraordinárias que, com alguma frequência, fazem e que só nas urgências são consideradas.
  • O sistema tem de ser flexível e gerido com inteligência e bom senso, não tendo em vista uma indesejável uniformização e controlo burocrático ao segundo, mas avaliar ao fim de um período razoável (semanal, quinzenal ou mensal) o grau de cumprimento e as eventuais necessidades de ajustamentos, bem como o "deve e haver" de horas de trabalho. Este ponto de vista foi também expresso pelo Ministro na TSF no passado sábado e se tivesse sido assumido logo no inicio teria evitado aleivosias como a do Bastonário que, concorrendo com o pior Herman, dizia que o sistema era perigoso para os doentes porque os cirurgiões tinham de abandonar operações a meio para virem ao sistema assinalar a sua impressão digital à hora exacta!
  • O sistema de controlo só por si tem pouco interesse se não for acompanhado pela monitorização da produtividade e da qualidade do trabalho efectuado por cada profissional e/ou respectiva equipa e, neste aspecto, os sistemas informáticos (como o Alert) podem ter uma importância fundamental.
  • Finalmente, e ponto mais importante, as duas últimas premissas têm de ter consequências: o mérito tem de ser recompensado (e não estamos a falar só de dinheiro) e o desleixo tem de ser penalizado (!) - promessa de dúzias de ministros e de governos mas que , até agora, continua atirada para as calendas gregas.

      Siga o Ministro esta linha de acção e terá, decerto, o apoio de todos os médicos (e são estes que estão efectivamente em causa) que cumprem e que se devotam ao exercício da sua profissão, muitas vezes para além  do que lhes é legalmente exigido.

      Assim, "a boa moeda poderá expulsar a má moeda"!

      (Publicado originalmente a 7/1/07)

 

 


 

 


  

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