Estas são as mulheres, levando
nas mãos os castiçais de fogo da sua manhã,
subindo uma escada de silêncio para dentro
das casas de onde vieram, empurrando
as portas dos rios mais fundos para entrarem
nos palácios do abismo, e os iluminarem
com as lâmpadas nuas dos seus corpos. Ouço
as suas vozes crescerem no interior
dos montes, num fulgor amarelo de flores
vagarosas como as mãos que nascem
dos seus braços. Estas mulheres são imensas
como as nuvens que atravessam a paisagem,
e escrevem na página do céu o nome
dos deuses que as amaram, transformando-as
em árvores, em astros, em animais
incalculáveis num prado breve como
a sua eternidade. Dizem-me que as suas vozes
são roucas, que os seus cabelos cobrem
os arvoredos do horizonte, que os seus dedos
contam os amantes na exaustão da madrugada. E
empurro-as para o corredor da memória,
para que se percam numa vociferação de sombras,
como se não soubessem o caminho do átrio
onde as espero, e não viessem tapadas
por um manto de orvalho, gota a gota escorrendo
dos seus lábios.