Cortina
Peço-te que feches
a cortina
e à sua sombra já estremeço nua
Vens-ne cobrir o frio
com o teu calor
e à nossa roda já tudo flutua
Maria Teresa Horta, in
"Só de amor", Quetzal Ed., Lisboa, 1999
Cortina
Peço-te que feches
a cortina
e à sua sombra já estremeço nua
Vens-ne cobrir o frio
com o teu calor
e à nossa roda já tudo flutua
Maria Teresa Horta, in
"Só de amor", Quetzal Ed., Lisboa, 1999
Que surpresa
a dos dedos
quando percorrem o corpo
ou espalham os cabelos
pelas costas
despidas
Em breve será o ventre
e em seguida
as pernas lentas
mansamente erguidas
In "Maria Teresa Horta - Poesia Reunida", Dom Quixote, Lisboa, 2009
Joelho
Ponho um beijo
demorado
no topo do teu joelho
Desço-te a perna
arrastando
a saliva pelo meio
Onde a língua
segue o trilho
até onde vai o beijo
Não há nada
que disfarce
de ti aquilo que vejo
Em torno um mar
tão revoto
no cume o cimo do tempo
E os lençóis desalinhados
como se fosse
de vento
Volto então ao teu
joelho
entreabrindo as pernas
Deixando a boca
faminta
seguir o desejo nelas
Maria Teresa Horta, in
"Só de amor"
O teu corpo
Um corpo secreto
e espesso
por onde deslize o silêncio
A saliva da tarde
que vire o desejo
do avesso
Mara Teresa Horta, in
"Só de amor"
(Para um fim de tarde de outono)
O desejo aceso
O desejo aceso
na lareira do corpo
Com a sua chama
sem rumo
em forma de asa
Maria Teresa Horta, in
"Só de amor"
Incêndio
Tu acendes a chama
do meu corpo
pões a lenha ao fundo
em sítio seco
Procuras no desejo
o ponto certo
e convocas aí
o lume certo
Se a madeira demora
a ganhar fogo
tomas-me as pernas
e deitas lento o vinho
Riscas os fósforos todos
e depois
é mais um incêndio
que adivinho
Maria Teresa Horta, in
"Só de amor"
Sinopse do livro "Inquietude" de Maria Tersa Horta, Edições Quasi
DESATO Às vezes invento outras vezes desgraço Desbravo os sentidos
castigo ou desato Deponho o que sei acrescento o que faço Às vezes
construo outras vezes desfaço
Tacteio à minha
volta
e é só fulgor
Tento deslumbrar
o sol que cega
Demoro-me demasiado
no calor
Para a minha sede
nenhuma água chega
Maria Teresa Horta,
in "Só de amor"