Em gestão corrente ...como o País...

Julho 14 2009

Um texto de Jorge Carreira Maia no

www.averomundo-jcm.blogspot.com

 

 

Trabalhos de feitiçaria

 

 

 Por causa deste senhor e da senhora que superintende a educação chegou ao que chegou. Um dos aspectos mais graves é a contínua politização, entendida aqui como luta político-partidária, dos resultados dos exames nacionais. Aquilo que deveria ser motivo de reflexão serena e um indicador socialmente útil transformou-se, devido a certas feitiçarias dos nossos feiticeiros-mores, num espaço estéril de polémica e numa telenovela ao nível daquelas que a Justiça proporciona para gáudio da comunicação social e de nós, pobres indígenas, que não temos nada com que nos entreter. Ontem saíram os resultados dos exames do 9.º ano e logo a maga chefe veio anunciar que o país se deveria congratular com tais resultados, talvez organizar umas festas dos santos populares tão ao gosto das comunidades educativas, digo eu. Já a Associação de Professores de Português exige que o Ministério da Educação, isto é, a Confraria Nacional de Mágicos e Feiticeiros, explique a queda dos resultados, os quais apesar de caírem ainda merecem que o país se congratule com eles, segundo a Maga-Chefe. Portanto, os professores de português que se preparem. Se o PS ganhar as eleições com maioria absoluta lá vão apanhar com mais um daqueles extraordinários planos de salvação, como o que impera na Matemática. A educação tornou-se o refúgio dos amantes do plano. Todos os que adoravam os planos quinquenais soviéticos ou os planos de fomento do Estado Novo Salazarista encontraram um ninho e um nicho para aplicarem as suas inovadoras ideias sobre planeamento e planificação, em última análise ideias que conduzem à terraplanagem do saber e ao achatamento e à rasura do que deveria ser elevado.

 


 


Outubro 15 2008

Assustam-se as belas e pobres escravas

 

 

William McGregor Paxton – Nausicaa - 1937


Assustam-se as belas e pobres escravas
envoltas no corpo, a natureza lho deu,
ao verem a terrível luz de Ulisses,
náufrago entre náufragos,
a emudecer a sombra que do mar vinha.

Entre tanta mulher de corpo resfriado pela água,
aquecido pelo sol do mediterrâneo,
apenas uma enfrenta o desconhecido
e a sua mão lhe entrega para o levar
à cidade, para que o cuidem e lhe tragam
o conforto que os dias passados roubaram.

Nausícaa, filha real, reconheceu no estrangeiro
não o escravo a que tudo teme,
mas um igual, apenas maltratado pelas águas
e pelo destino adverso que tudo pode.
No segredo do seu coração, já o filho de Ulisses
encontrara o conforto para a sua solidão.

 

 

 


Setembro 25 2008

Já tão perto da eternidade

 

 

Paul Gustave Fischer - Sunbathing in the Dunes (1916)

Já tão perto da eternidade
abria-se, entre grãos de areia
e o vento suave vindo do mar,
a precisa imagem que aos deuses
oferece o precário paraíso.

Do mar, não havia sussurro,
nem a sombra maculava a branca pele
que aos olhos rasgava.

Deusas de luz assim tão luminosa
descansavam da penosa imortalidade
e tudo na calma da tarde se incendiou:
a água tinta de azul, o céu tisnado de branco,
a erva que o vento inclinava
ou os corações: ao tempo abandonavam
a exausta melancolia.

Tão perto da eternidade
eram os dias que Agosto trazia.

 

 

     

 

   Rapinado de "A Ver O Mundo"

      


 


Julho 17 2008

               

 

   Muitas vezes em desacordo com as posições e análises politicas de Jorge Careira Maia, a verdade é que, também muitas vezes, me apetece fazer minhas algumas das suas análises.

   O texto que se segue merece a minha total concordância.

   Excelente, Jorge!

  

  

Há, sobre as causas do atraso de Portugal, um persistente equívoco. A teoria oficial centra-o no défice de formação e de qualificação dos portugueses. Há dias, o ministro Vieira da Silva, em debate com o bispo D. Manuel Clemente, afirmava: "O que precisamos é de atacar o nosso défice mais profundo, que é o défice do conhecimento, da educação e da formação." 

Como consequência desta teoria, a escola portuguesa, durante a democracia, tem sido vítima das mais tontas intervenções, desde a trágica Reforma de Roberto Carneiro até à fúria persecutória dos docentes por parte do actual governo, passando pela paixão de Guterres. Toda esta gente pensa que a escola é o lugar onde a sociedade portuguesa se há-de redimir.

O problema é que, por mais que se mexa na escola, o nosso atraso persiste sem alteração. O que se continua a ignorar é a cultura e a atitude que os portugueses exibem na vida comunitária, é ela que está na base do mau desempenho social, económico, político e também escolar. Que atitude é essa?

O Presidente da República, no discurso do 10 de Junho, tocou no problema ao dizer: "Temos de começar por ser exigentes e rigorosos connosco". O problema de Portugal não é a falta de conhecimento e de educação escolar; é, antes, a falta de rigor e de exigência que os portugueses colocam naquilo que fazem, incluindo na escola. Um país que tem por lema a expressão «desenrasquei-me» pode ser muito «desenrascado», mas nunca passará de um país medíocre. Onde deveria haver trabalho sério, profundo e continuado, há um mero «desenrascanço». Portugal é assim o lugar onde até as coisas que aparentam ser bem feitas estão cheias de buracos, truques e armadilhas escondidos, que se manifestarão na primeira oportunidade.

O problema não é a falta de escolarização, mas a forma como lidamos com a vida. Se não queremos nem gostamos de estudar é porque estamos convencidíssimos, devido à experiência social, que o conhecimento serve para pouco e o que interessa mesmo é que o pessoal se «desenrasque», seja lá como for. Mas onde assenta esta cultura lusíada do «desenrasca»?

 

   

Esta cultura funda-se numa experiência de sobrevivência. No fundo, as elites nacionais, sociais, económicas e políticas, no seu «desenrascanço» atávico, nunca permitiram à maioria dos portugueses outra coisa para além da mera sobrevivência. Sobreviver não é viver de forma digna, sobreviver é «desenrascar-se» para não morrer à míngua. É isto que os portugueses fazem na escola, nas empresas, nas relações económicas, na política; até na religião, através da promessa, se tenta iludir a divindade. Em todo o lado enganam a realidade para fugir à miséria que os ameaça. O nosso principal problema é a falta de rigor e de exigência connosco fundada no círculo vicioso entre miséria e «desenrascanço». O resto é conversa de políticos que vivem, também eles, da miséria do «desenrascanço».

A VER O MUNDO
http://averomundo-jcm.blogspot.com

 

O nosso atraso


Julho 15 2008

   Via "A Ver o Mundo", blogue de frequência diária, este poema de Jorge Carreira Maia

A viagem tem

 

A viagem tem
um sabor de cal
quando vou por ti,
na rua, deslumbrado.

Oiço então os pássaros
que o Inverno traz
e no seio da terra
logo se escondem.

Vejo-os vivos, pálidos,
infelizes mármores
que da pedra foram
por tuas mãos libertos.

Cantam livres do
coração que assim,
com tão doces modos,
em mim os prendeu.

 

Jorge Carreira Maia,

Pentassílabos, 2008

    


 


Abril 06 2008

Sexta-feira, 4 de Abril de 2008

Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt - Dez

 

10 – Gustav Klimt - Kirche in Cassone Landschaft mit Zypressen ), 1913 [Igreja em Cassone (Paisagem com ciprestes)]


Dez

Se o mundo houvera um centro ali o teria,
naquela igreja maculada de cansaços,
e todos lá iriam com pétalas na mão
e as mágoas que infestam de negro a vida.

Não cantariam nem se ouviria pelas águas
o soluçar trazido pelo naufrágio da solidão.
Passariam homens e mulheres e os olhos
ficariam presos nas janelas abertas
ou nas casas onde a rude vida
se tece na placidez jubilosa das vielas.

Para ali correriam todas as barcas
e a viagem encontraria o seu fim
entre brancas paredes e um Cristo dorido
pela luz de um sol aguado de cal e ciprestes.


Jorge Carreira Maia, Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt , 2008

      

Outro blogue de visita diária obrigatória

é o "A ver o mundo", de Jorge Carreira Maia,

de onde retirei esta pequena pérola.

      

 

 



Fevereiro 09 2008

Há uns tempos atrás, ainda no reinado de Santana Lopes, se não estou em erro, o Dr. Mário Soares disse que, caso não estivéssemos na União Europeia, já teria ocorrido um golpe militar. O dito não foi levado a sério por ninguém. No entanto, aquelas palavras deveriam ter alertado os espíritos para a crescente degradação da situação política do país. Quem frequenta a blogosfera, por exemplo, percebe que há, entre os blogues mais consultados – blogues que formam a opinião da gente da classe média entre os vinte e os quarenta anos –, muitos que fazem uma clara apologia do fim deste regime. Há uma cultura que cresce e que se instala, cultura essa que roça, muitas vezes, a apologia do autoritarismo político.

Digno de nota foi o artigo, publicado no passado sábado no Expresso, pelo general Garcia Leandro, o militar que dirige o Observatório de Segurança. O título é elucidativo: "A falta de vergonha". A que se refere o general? Ao "modo como se tem desenvolvido a vida das grandes empresas, nomeadamente da banca e dos seguros, envolvendo BCP e Banco de Portugal, incluindo remunerações dos seus administradores e respectivas mordomias, transformou-se num escândalo nacional, criando a repulsa generalizada." Refere também "a promiscuidade entre o poder político e o económico", a "falta de confiança que existe nos responsáveis políticos deste regime (sic)".

Mas o general diz mais. Não resisto a continuar as citações: "Se sinto a revolta crescente daqueles que comigo contactam, eu próprio começo a sentir que a minha capacidade de resistência psicológica a tanta desvergonha, (…), vai enfraquecendo todos os dias (sic)." E logo a seguir o general acrescenta: "Já fui convidado para encabeçar um movimento de indignação contra este estado de coisas e tenho resistido (sic)." E diz mais: "Mas a explosão social está a chegar. Vão ocorrer (sic) movimentos de cidadãos que já não podem aguentar mais o que se passa." E escreve, como uma espécie de paliativo: "É óbvio que não será pela acção militar que tal acontecerá, não só porque não resolveria o problema mas também porque o enquadramento da UE não o aceitaria; não haverá mais cardeais e generais para resolver este tipo de questões."

Parece que o Dr. Soares tinha razão. Tirando o enquadramento da UE, todas as outras condições para um golpe parecem reunidas: corrupção, políticos sem crédito, classes médias desfeitas, empobrecimento da população, insegurança e medo a crescer. A pergunta é então a seguinte: quanto vale a democracia portuguesa sem a Europa? Zero. Foi a isto que o bloco central conduziu o país. Uma crise que leve ao fim da União e a democracia portuguesa não dura dois dias. Como interpretar as palavras do general que dirige o Observatório de Segurança? Um grito de revolta? Não sejamos ingénuos. Foram um aviso. E quem te avisa teu amigo é.

        

   Nas últimas semanas tenho-me limitado a postar poesia pintura e música neste blogue.

   A siuação poliica, social e económica está de tal modo degradada que é penoso pensá-la e escrever sobre ela.

   

   Este post, do Prof. Jorge Carreira Maia, publicado no "Jornal Torrejano" desta semana aponta ao cerne da questão.

   Rapina-se, com a devida vénia.

  


A VER O MUNDO     http://averomundo-jcm.blogspot.com


 

As palavras do general


Novembro 25 2007

         

   Jorge Carreira Maia no seu blogue "A Ver o Mundo"  publica, hoje, um post    que sintetiza muito bem o olhar criticamente desencantado com que muitos portugueses, especialmente os mais jovens de há 32 anos, revêem o antes, o durante e o após 25 de Novembro de 1975.

   Em meia dúzia de linhas descreve o sentimento de uma fatia não negligenciável de portugueses.

25 de Novembro  

Faz hoje 32 anos que acabaram as ilusões revolucionárias. O 25 de Novembro de 1975 orientou “definitivamente” o país para o Ocidente e para a democracia representativa. Para mim, naquela altura, foram dias de desesperança revolucionária. Ainda não tinha vinte anos e julgava, pelos 19 meses de revolução, que tudo era possível e que esse possível era o melhor que poderia acontecer. Não, não era tudo possível. Tão pouco o possível que eu queria era grande coisa, como, pouco depois da ressaca, iria descobrir. Das cinzas da ilusão revolucionária, nasceu uma nova ilusão, a de nos tornarmos europeus e ricos e civilizados. E agora, que ilusão ilumina o caminho dos portugueses?

 

 



Novembro 05 2007

             

   Já anteriormente chamei a atenção dos meus leitores para a excelência de dois cronistas/comentaristas de um pequeno jornal, semanario, de provincia - o Jornal Torrejano.

   Ambos com formação e mantendo pontos de vista de "esquerda", o que torna a minha opinião insuspeita, são professores em escolas secundárias da cidade (Torres Novas), e, penso que, ambos de Filosofia.

   A semana passada ambos escreveram sobre aspectos actuais do ensino.

   Francamente gostei e, embora não concordando com a totalidade das ideias expessas (e seria mau se tal acontecesse), rapinei e publico de seguida as suas crónicas para proveito, espero eu, dos meus leitores que, na generalidade, não têm acesso àquele jornal.

        

    

Nos anos 80, vinham notícias do Afeganistão que falavam de uns estudantes de teologia que resistiam à ocupação soviética.

Ingenuamente, eu imaginava jovens com o ar angélico do padre Vítor Melícias, que passavam o dia a ler, meditar, enfim, a tratar da horta, e que saíram dos mosteiros para irem combater os materialistas dialécticos de Moscovo.

Porém, ao ver uns sujeitos andrajosos a bombardear as estátuas de Buda, com o mesmo entusiasmo que com que os caçadores, ao domingo, disparam sobre as lebres, comecei a perder as ilusões.

Ora, foi também isto que me aconteceu com os cientistas da educação. Que pensei eu quando comecei a ouvir falar deles? Em pessoas que dedicavam a vida a estudar a melhor maneira de levar as crianças, não só a saírem da escola sabendo muito mais do que quando entraram, mas também com a inteligência mais espicaçada.

Este meu idílio mental foi bom enquanto durou. Até ao dia em que comecei a perceber que trucidavam os alunos com a mesma pontaria com que os estudantes de teologia atiravam aos Budas e os caçadores às lebres.

São, pois, perigosos. Uma mistura de fanáticos com fé no mito do bom selvagem e de caçadores de lebres que esfolam a inteligência dos alunos, cientificamente educados pelos seus mestrados e doutoramentos. Mas o que é, afinal, um cientista da educação?

Alguém que passou anos a estudar para concluir que a educação deve estar centrada no aluno, que o insucesso escolar é sempre o resultado de um fracasso do professor, que este não é o detentor do saber nem está na aula para ensinar. É apenas um amigo que está ali para ajudar o aluno a pesquisar, a investigar, mas também para lhe dar quilos de auto-estima de modo a poder vir a ser um cidadão feliz.

Daí encarar com horror o facto de um menino poder chumbar, ainda que este ligue tanto ao estudo como um leão a uma couve-flor, ou saiba tanto do que lhe tentam ensinar como se tivesse a memória de um doente de Alzheimer.

Aliás, graças a este espírito evangélico, vai ser agora possível a um menino, depois de faltar 103 vezes às aulas durante um ano, porque não lhe apeteceu ir, fazer um exame para ter de passar.

A valorização científica de um professor é irrelevante, considerando-se mesmo reaccionária e conservadora a ideia de a escola ser um local onde os alunos tenham de usar o esforço e aprender com seriedade.

Daí a ideia de transformar a escola num ATL a tempo inteiro. E com disciplinas giras, como Estudo Acompanhado, Área de Projecto, Formação Cívica, as quais, para além de permitirem dar boas notas até a um ouriço-cacheiro, vão ainda contaminar as outras disciplinas, saindo os alunos da escola com o cérebro tão descompensado como o de um madeirense após um discurso de Alberto João Jardim.

Mas atenção. Por detrás de todo o folclore psicopedagógico que empesta o discurso do nosso talibã, esconde-se um burocrata e um frio tecnocrata. Um cientista da educação vê a escola como uma fábrica de automóveis na qual os professores têm de cientificamente aplicar os planos e metodologias inspirados nos seus nauseabundos mestrados e doutoramentos.

Adora ainda ver os professores em reuniões inúteis, a preencher papéis como se fossem funcionários do Registo Predial, ou então, último grito da moda, com os olhos tão especados num portátil como um esfomeado num cozido à portuguesa. Não sei explicar porquê, mas tem um fascínio quase erótico por planificações, matrizes, planos de aula ou grelhas de avaliação que parecem o cockpit de um Airbus.

O nosso talibã desconfia dos professores que lêem livros em vez de estarem a preencher relatórios, em reuniões, a preparar powerpoints para poder comunicar com alunos que se perdem ao fim de três frases, a transportar portáteis para a aula para os alunos pesquisarem informações na Internet que depois irão reproduzir como se tivessem o cérebro de um papagaio, ou a requisitar filmes para fomentar estratégias de ensino-aprendizagem (é assim que se diz) mais ricas e estimulantes.

Estes cientistas, só por si, não seriam de temer. O problema é a sua ligação ao poder político, ou pior, o facto de já serem eles o poder político. Estes talibãs não matam com explosivos. Mas matam. Matam com maçãs lindas e lustrosas com as quais recebem os alunos no início de cada ano lectivo.

Mas que ninguém entre em pânico. Estamos em Portugal e a falar da morte de coisas como saber, cultura, inteligência e boa educação.

Os pais, claro, aplaudem, os alunos rejubilam. Os professores, naturalmente, resignam-se.

jr_costa@clix.pt

     

    

    

   

Cientistas da Educação

Saíram os rankings dos exames nacionais. Este ano a propaganda em relação aos resultados obtidos por algumas, algumas, note-se bem, escolas privadas tem atingido a paranóia. Mas por que motivo certos colégios das grandes cidades obtêm melhores resultados que as escolas públicas? Há vários motivos. Uns são incontroláveis: situação geográfica, situação cultural e social dos pais, por exemplo, contribuem para explicar uma parte da diferença dos resultados.

Há, porém, outros motivos e estes são da responsabilidade do Ministério da Educação. Nesses colégios, o ensino é tradicional, o professor é a autoridade dentro da aula, o aluno e as famílias são responsabilizados pelo aproveitamento. Quem não gostar que se vá embora. Os professores estão concentrados no trabalho de ensinar.

No ensino público, há muito que não é isto o que se passa. Alunos e famílias não têm qualquer responsabilidade no aproveitamento escolar. Imagine o leitor o seguinte: um aluno não quer estudar, não lhe apetece, ou não quer ir às aulas. Acha que ele e a família são responsabilizados? Então, está enganado. Para o governo actual, o único responsável de o aluno não querer estudar ou de não querer pôr os pés na escola é o professor. Só o professor corre o risco de ser avaliado negativamente. Por outro lado, enquanto os professores dos colégios se concentram no acto de ensinar, o professor do ensino público é massacrado com reuniões, projectos, planos, relatórios, actas, grelhas, avaliações de escola e toda uma actividade idiota que o desvia da sua função: ensinar. No ensino público, tudo está feito, no âmbito da lei, para impedir os professores de ensinar.

Quem ler com olhos de ver o Estatuto da Carreira Docente, os documentos para avaliação de professores e o novo Estatuto do Aluno, tudo produções deste governo, descobre facilmente uma coisa: os alunos podem fazer o que lhes apetecer, podem ter o comportamento mais irresponsável que lhes aprouver. Só o professor corre o risco de ser «chumbado».

Nada disto se passa por acaso. Esta política tem duas finalidades: em primeiro lugar, humilhar os professores da escola pública para legitimar a sua proletarização; em segundo lugar, evitar que os alunos do interior e das classes socialmente menos favorecidas das grandes cidades vejam os seus filhos entrar para as grandes universidades. Os bons lugares da sociedade dependem de aprendizagens de alta qualidade. Ora as políticas educativas governamentais apenas tratam de assegurar a protecção àqueles que a situação social e cultural da família já protege.

A política educativa do actual governo é a mais abjecta de que tenho memória: nunca como agora se protegeu tanto os fortes e se prejudicou impiedosamente os fracos. O consulado de Lurdes Rodrigues vai ficar como um dos mais negros da história da educação em Portugal. Mas nada disto revolta os militantes socialistas?

                              


A VER O MUNDO     http://averomundo-jcm.blogspot.com


 

Rankings e outros embustes


Maio 23 2007

              

      Jorge Carreira Maia, professor do ensino secundário em Torres Novas, tem vindo a publicar no seu blogue (www.averomundo-jcm.blogspot.com) alguns poemas sobre o tempo e a sua passagem, tendo como pano de fundo Cardilium (villa romana) na periferia da cidade.

      Poesia densa, com um toque nostálgico de classicismo, acentuado pelo tema - os efeitos do passar do tempo, mas com uma linguagem moderna e actual a merecer uma leitura atenta e demorada.

      Pela sua qualidade, transcrevemos o último poema da série, com a devida vénia.

             

Cardílio XXIV

Nestas pedras tão rasas, o meu corpo
A tua carne deseja e, na brancura
De teus dedos, o rosto se suspende
Do voo mudo dos séculos. Efémero

Tijolo sob as ancas te sustenta,
Te rouba à gravidade e te suspende,
Na passagem de minhas mãos em alva
Face já pelo Outono cariada.

Na cicatriz dos gestos, na passagem
Oculta dessas mãos, abre-se o mundo
À névoa branca e fétida das pétalas

Em decomposição. Caminharemos
Pelas ruínas dos dias e abraçados
Deixaremos os campos, rios e as águas.

    

 

 


emgestaocorrente às 20:48

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