Um texto de Jorge Carreira Maia no
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Trabalhos de feitiçaria
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Assustam-se as belas e pobres escravas
envoltas no corpo, a natureza lho deu,
ao verem a terrível luz de Ulisses,
náufrago entre náufragos,
a emudecer a sombra que do mar vinha.
Entre tanta mulher de corpo resfriado pela água,
aquecido pelo sol do mediterrâneo,
apenas uma enfrenta o desconhecido
e a sua mão lhe entrega para o levar
à cidade, para que o cuidem e lhe tragam
o conforto que os dias passados roubaram.
Nausícaa, filha real, reconheceu no estrangeiro
não o escravo a que tudo teme,
mas um igual, apenas maltratado pelas águas
e pelo destino adverso que tudo pode.
No segredo do seu coração, já o filho de Ulisses
encontrara o conforto para a sua solidão.
Rapinado de "A Ver O Mundo"
Muitas vezes em desacordo com as posições e análises politicas de Jorge Careira Maia, a verdade é que, também muitas vezes, me apetece fazer minhas algumas das suas análises.
O texto que se segue merece a minha total concordância.
Excelente, Jorge!
A VER O MUNDO O nosso atraso Há, sobre as causas do atraso de Portugal, um persistente equívoco. A teoria oficial centra-o no défice de formação e de qualificação dos portugueses. Há dias, o ministro Vieira da Silva, em debate com o bispo D. Manuel Clemente, afirmava: "O que precisamos é de atacar o nosso défice mais profundo, que é o défice do conhecimento, da educação e da formação." Como consequência desta teoria, a escola portuguesa, durante a democracia, tem sido vítima das mais tontas intervenções, desde a trágica Reforma de Roberto Carneiro até à fúria persecutória dos docentes por parte do actual governo, passando pela paixão de Guterres. Toda esta gente pensa que a escola é o lugar onde a sociedade portuguesa se há-de redimir. O problema é que, por mais que se mexa na escola, o nosso atraso persiste sem alteração. O que se continua a ignorar é a cultura e a atitude que os portugueses exibem na vida comunitária, é ela que está na base do mau desempenho social, económico, político e também escolar. Que atitude é essa? O Presidente da República, no discurso do 10 de Junho, tocou no problema ao dizer: "Temos de começar por ser exigentes e rigorosos connosco". O problema de Portugal não é a falta de conhecimento e de educação escolar; é, antes, a falta de rigor e de exigência que os portugueses colocam naquilo que fazem, incluindo na escola. Um país que tem por lema a expressão «desenrasquei-me» pode ser muito «desenrascado», mas nunca passará de um país medíocre. Onde deveria haver trabalho sério, profundo e continuado, há um mero «desenrascanço». Portugal é assim o lugar onde até as coisas que aparentam ser bem feitas estão cheias de buracos, truques e armadilhas escondidos, que se manifestarão na primeira oportunidade. O problema não é a falta de escolarização, mas a forma como lidamos com a vida. Se não queremos nem gostamos de estudar é porque estamos convencidíssimos, devido à experiência social, que o conhecimento serve para pouco e o que interessa mesmo é que o pessoal se «desenrasque», seja lá como for. Mas onde assenta esta cultura lusíada do «desenrasca»?
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Jorge
Carreira Maia
Via "A Ver o Mundo", blogue de frequência diária, este poema de Jorge Carreira Maia
A viagem tem
um sabor de cal
quando vou por ti,
na rua, deslumbrado.
Oiço então os pássaros
que o Inverno traz
e no seio da terra
logo se escondem.
Vejo-os vivos, pálidos,
infelizes mármores
que da pedra foram
por tuas mãos libertos.
Cantam livres do
coração que assim,
com tão doces modos,
em mim os prendeu.
Jorge Carreira Maia,
Pentassílabos, 2008
Dez
Se o mundo houvera um centro ali o teria,
naquela igreja maculada de cansaços,
e todos lá iriam com pétalas na mão
e as mágoas que infestam de negro a vida.
Não cantariam nem se ouviria pelas águas
o soluçar trazido pelo naufrágio da solidão.
Passariam homens e mulheres e os olhos
ficariam presos nas janelas abertas
ou nas casas onde a rude vida
se tece na placidez jubilosa das vielas.
Para ali correriam todas as barcas
e a viagem encontraria o seu fim
entre brancas paredes e um Cristo dorido
pela luz de um sol aguado de cal e ciprestes.
Jorge Carreira Maia, Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt , 2008
Outro blogue de visita diária obrigatória
é o "A ver o mundo", de Jorge Carreira Maia,
de onde retirei esta pequena pérola.
A VER O MUNDO http://averomundo-jcm.blogspot.com As palavras do general |
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Jorge Carreira Maia no seu blogue "A Ver o Mundo" publica, hoje, um post que sintetiza muito bem o olhar criticamente desencantado com que muitos portugueses, especialmente os mais jovens de há 32 anos, revêem o antes, o durante e o após 25 de Novembro de 1975.
Em meia dúzia de linhas descreve o sentimento de uma fatia não negligenciável de portugueses.
Já anteriormente chamei a atenção dos meus leitores para a excelência de dois cronistas/comentaristas de um pequeno jornal, semanario, de provincia - o Jornal Torrejano.
Ambos com formação e mantendo pontos de vista de "esquerda", o que torna a minha opinião insuspeita, são professores em escolas secundárias da cidade (Torres Novas), e, penso que, ambos de Filosofia.
A semana passada ambos escreveram sobre aspectos actuais do ensino.
Francamente gostei e, embora não concordando com a totalidade das ideias expessas (e seria mau se tal acontecesse), rapinei e publico de seguida as suas crónicas para proveito, espero eu, dos meus leitores que, na generalidade, não têm acesso àquele jornal.
Cientistas da Educação |
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A VER O MUNDO http://averomundo-jcm.blogspot.com Rankings e outros embustes |
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Jorge Carreira Maia, professor do ensino secundário em Torres Novas, tem vindo a publicar no seu blogue (www.averomundo-jcm.blogspot.com) alguns poemas sobre o tempo e a sua passagem, tendo como pano de fundo Cardilium (villa romana) na periferia da cidade.
Poesia densa, com um toque nostálgico de classicismo, acentuado pelo tema - os efeitos do passar do tempo, mas com uma linguagem moderna e actual a merecer uma leitura atenta e demorada.
Pela sua qualidade, transcrevemos o último poema da série, com a devida vénia.
Cardílio XXIV
Nestas pedras tão rasas, o meu corpo
A tua carne deseja e, na brancura
De teus dedos, o rosto se suspende
Do voo mudo dos séculos. Efémero
Tijolo sob as ancas te sustenta,
Te rouba à gravidade e te suspende,
Na passagem de minhas mãos em alva
Face já pelo Outono cariada.
Na cicatriz dos gestos, na passagem
Oculta dessas mãos, abre-se o mundo
À névoa branca e fétida das pétalas
Em decomposição. Caminharemos
Pelas ruínas dos dias e abraçados
Deixaremos os campos, rios e as águas.