Em gestão corrente ...como o País...

Julho 14 2009

Um texto de Jorge Carreira Maia no

www.averomundo-jcm.blogspot.com

 

 

Trabalhos de feitiçaria

 

 

 Por causa deste senhor e da senhora que superintende a educação chegou ao que chegou. Um dos aspectos mais graves é a contínua politização, entendida aqui como luta político-partidária, dos resultados dos exames nacionais. Aquilo que deveria ser motivo de reflexão serena e um indicador socialmente útil transformou-se, devido a certas feitiçarias dos nossos feiticeiros-mores, num espaço estéril de polémica e numa telenovela ao nível daquelas que a Justiça proporciona para gáudio da comunicação social e de nós, pobres indígenas, que não temos nada com que nos entreter. Ontem saíram os resultados dos exames do 9.º ano e logo a maga chefe veio anunciar que o país se deveria congratular com tais resultados, talvez organizar umas festas dos santos populares tão ao gosto das comunidades educativas, digo eu. Já a Associação de Professores de Português exige que o Ministério da Educação, isto é, a Confraria Nacional de Mágicos e Feiticeiros, explique a queda dos resultados, os quais apesar de caírem ainda merecem que o país se congratule com eles, segundo a Maga-Chefe. Portanto, os professores de português que se preparem. Se o PS ganhar as eleições com maioria absoluta lá vão apanhar com mais um daqueles extraordinários planos de salvação, como o que impera na Matemática. A educação tornou-se o refúgio dos amantes do plano. Todos os que adoravam os planos quinquenais soviéticos ou os planos de fomento do Estado Novo Salazarista encontraram um ninho e um nicho para aplicarem as suas inovadoras ideias sobre planeamento e planificação, em última análise ideias que conduzem à terraplanagem do saber e ao achatamento e à rasura do que deveria ser elevado.

 


 


Junho 30 2009
 
Recebi, por e-mail, este texto que me parece merecer uma atenta e aprofundada atenção:




'A CULPA É TODA SUA, SRª MINISTRA!'

"AS ESCOLAS PORTUGUESAS ESTÃO UM VERDADEIRO CAOS!!!!

Depois de ouvir hoje o que disse a Srª Ministra, depois de ler os
desabafos de muitos colegas nossos, na minha Escola, na blogosfera,
invadiu-me uma raiva que não consigo mais conter e gostaria de a
gritar ao Mundo.

Dizia a Srª Ministra, com o seu ar sereno, que "o processo de
avaliação de desempenho dos professores está a avançar de "forma
normal e com grande sentido de responsabilidade" na maioria das
escolas." e eu pergunto Srª Ministra:

- Quem tenta enganar? Os Professores? Os Pais dos alunos? A opinião
pública? A Comunicação social? Quem? A si própria? O seu governo?

Na maioria das Escolas, Srª Ministra, a situação é esta:

- Os Professores estão cansados, desmotivados, não aguentam tanto
trabalho para nada. Reuniões, grelhas, objectivos, mais reuniões,
relatório, mais reuniões... e continua assim, semana atrás de semana.
Resultado:

Os Professores não têm tempo para aquilo que gostam de fazer: ENSINAR!!!

A CULPA É TODA SUA, SRª MINISTRA!

Na maioria das escolas, muitos Professores que até agora eram
empenhados na preparação das suas aulas, limitam-se a fazer o mais
fácil, não têm tempo para pesquisa, para partilhar com os alunos. Os
alunos não aprendem!

A CULPA É TODA SUA, SRª MINISTRA!

Na maioria das Escolas muitos Professores que tinham ainda TANTO para
dar à Escola, eram o pilar da Escola, uma referência para os mais
novos, estão a abandonar, vão para a APOSENTAÇÃO, mesmo com
penalizações graves! É fácil perceber: por cada três que saem, entram
apenas dois, com vencimentos muito mais baixos. O factor economicista
sempre à frente!

Não lhe passa pela cabeça, Srª Ministra, o potencial humano que as
Escolas estão a perder e os efeitos de tal fuga!

A CULPA É TODA SUA, SRª MINISTRA!

Na maioria das Escolas, há Professores de baixa médica, Professores
esgotados que não aguentam mais esta loucura, que metem atestados e
então vem outro professor substituir ou não vem… não faz mal! os
alunos terão a farsa das aulas de substituição e, em vez de terem
Português ou Matemática, têm aula com um Professor de Ed. Física ou
Geografia… tanto faz, o que interessa é ter tudo ocupadinho,
Professores e Alunos. Srª Ministra, são muitas aulas em que os alunos
não têm aulas com o SEU professor, porque este está doente, em que a
matéria não é leccionada.

A CULPA É TODA SUA, SRª MINISTRA!

Na maioria das Escolas, os Professores andam às voltas com o novo
Estatuto do Aluno. A Srª Ministra mandou cá para fora um documento em
que obriga os alunos que faltam a fazerem uma prova de recuperação
mesmo que faltem porque não lhes apetece, um documento que não prevê
distinção entre os alunos que faltam porque estão doentes e aqueles
que ficaram a dormir até mais tarde. Os Professores têm que fazer a
prova! Fazer a prova, prepará-la, corrigi-la, plano de
recuperação…quantas horas implica tudo isto, Srª Ministra? Solução
fácil! Esqueçamo-nos de marcar faltas! Se isto é para ser a brincar,
nós fazemos-lhe a vontade.

A CULPA É TODA SUA, SRª MINISTRA!

Os Professores que até ao ano lectivo anterior eram uma classe que
partilhava, onde não se sentia, regra geral, a competição, deixaram de
confiar uns nos outros, vivem em função da avaliação de desempenho,
num verdadeiro egoísmo. Desconfiam do colega que o vai avaliar, querem
apanhar as quotas dos Excelentes ou Muito Bom. O mau estar nas Escolas
é geral, um clima de desconfiança instalou-se!

A CULPA É TODA SUA, SRª MINISTRA!

E dirá a Srª Ministra: "Os Professores não querem ser avaliados".
Engana-se Srª Ministra "Os Professores querem ser avaliados!!!! Sempre
foram, tal como Vossa Excelência é e será avaliada (talvez não precise
de tanta grelha, mas será!!). Os Professores fazem um trabalho
público! São avaliados diariamente. QUEREM UMA AVALIAÇÃO SÉRIA e não
um faz-de-conta.

Mas acha, Srª MINISTRA, que é avaliar seriamente um Professor, quando:

1 – Um colega (que pode ter menos habilitações e não é da área
disciplinar) vai assistir a TRÊS aulas em 150 aulas que um Professor
dá à turma? É tão fácil BRILHAR em três aulas, mesmo que nas outras
147 não se faça nada! Os Professores já tiveram aulas assistidas nos
estágios…. Sabem fazê-lo. Não têm medo disso, Srª Ministra!!! Isto é
avaliação séria, Srª Ministra?
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2 – Um colega Coordenador de Departamento é de Francês/Inglês
(excelente profissional na sua área, mas como viveu muitos anos em
França, tem dificuldades na língua Portuguesa) vai avaliar um colega
de Estudos Portugueses que, por não ter tido tantos cargos como o
primeiro, não é TITULAR e por isso vai ser avaliado nas suas aulas de
Português (com 30 anos de serviço) pelo primeiro. Isto é avaliação
séria, Srª Ministra?

3 – Um colega de Educação Tecnológica, com uma licenciatura da
Universidade Aberta obtida há alguns anos, vai avaliar colegas de
MATEMÁTICA do seu Departamento (Ciências Exactas), alguns já com o
Mestrado na área (Repito: os colegas são excelentes profissionais, mas
não PODEM SER avaliadores de quem tem mais ou diferentes habilitações
do que eles. Eles não têm culpa e muitos desejavam não representar tal
papel). Isto é avaliação séria, Srª Ministra?

4 – Um dos elementos da avaliação dos alunos é a progressão dos
resultados escolares dos seus alunos. Srª Ministra, é tão fácil
falsear a progressão dos resultados escolares dos alunos…se NÃO formos
sérios e quisermos contribuir apenas para o sucesso estatístico. Acha
que os Professores, sabendo que estes dados contam para a sua
avaliação, vão dar classificações baixas? Isto é avaliação séria, Srª
Ministra?

5 – E o dito portefólio ou "dossier pedagógico" ser outro factor na
avaliação?! É tão fácil, hoje em dia, enchê-lo com materiais LINDOS,
pedagógicos….mesmo que os alunos nem os tenham visto, mesmo que estes
materiais não sejam nossos. Isto é avaliação séria, Srª Ministra?

E finalmente, uma das aberrações do 2/2008

6 – O Presidente do Conselho Executivo, e simultaneamente Presidente
do Conselho Pedagógico, não precisa ser TITULAR! Como explica isto Srª
Ministra? A senhora Ministra criou esta distinção entre TITULARES e
PROFESSOR! Então os Professores TITULARES não seriam aqueles que iriam
desempenhar as funções de maior responsabilidade nas Escolas, um grupo
altamente qualificado? Ou será que o Presidente do CE e do CP não é um
cargo de responsabilidade? Como justifica que não seja necessário o
título de TITULAR, se para outros cargos de menor importância, como
Coordenador de Departamento ou de Directores de turma tal cargo é
exigido? EXPLIQUE Srª Ministra! E quando este mesmo Presidente do
Conselho Executivo tem apenas o equivalente ao antigo 7º ano (ou seja,
é bacharel, depois de uma formação à distância de alguns meses)? Há
TANTOS nas nossas escolas! Vai avaliar colegas com mestrados e
licenciaturas? É ele que vai avaliar TODOS os colegas da Escola.
Muitas vezes, para além de ter habilitação muito inferior aos
avaliados, há anos que não lecciona! Isto é avaliação séria, Srª
Ministra?

7 – Claro que há Professores, como há médicos, como há advogados, como
há MINISTROS menos competentes. Mas acha que é assim que a situação
vai melhorar? Quem não é tão bom profissional, vai continuar a não
sê-lo e os bons agora também não têm tempo para o ser. Por que razão
não se ajuda com avaliação formativa aqueles que têm mais
dificuldades, sem o intuito de os penalizar? Acha que é justo um
avaliador faltar às aulas das suas turmas (12avaliadosx3 aulas de
90mn= é só fazer as contas) para ir avaliar colegas? E os alunos ficam
entregues a outros Professores que podem não ser seus? Então primeiro
a avaliação dos Professores e depois a dos alunos?

Isto é avaliação séria, Srª Ministra?

Srª Ministra:

- Sou uma professora que, tal como milhares neste país (a senhora viu
quantos no 8 de Março, mas fez que não viu!), dediquei toda a minha
vida ao Ensino. Dei sempre o meu melhor, trabalhei com gosto para os
meus alunos, férias, fins-de-semana, noites; gosto de ensinar mas
sinto-me REVOLTADA por a srª Ministra nos ter tirado (ou querer tirar)
esse grande prazer: ENSINAR!

- Sou uma Professora que, tal como milhares neste país, poderia ir
agora para a reforma, mesmo com penalizações, mas VOU RESISTIR, não
vou deixar que me obriguem a abandonar com mágoa, os meus alunos, a
minha Escola!

- Sou uma Professora que confio no bom senso e tenho esperança que
ainda vá a horas de não deixar a degradação atingir, ainda mais as
nossas escolas.

- Srª Ministra oiça gente que sabe, (muita gente) dizer que é um crime
o que se está a passar nas escolas portuguesas. Medina Carreira disse
há poucos dias que se os pais tivessem a verdadeira percepção do que
se está a passar na Escola em Portugal, viriam para a rua. Ele sabe do
que fala.

- Srª Ministra OIÇA os Professores. Eles estão nas Escolas, no
terreno. Mais do que ninguém, eles estão a dizer-lhe que assim NÃO
teremos sucesso educativo. Assim, o sucesso será apenas ESTATÍSTICO e
ECONÓMICO!

OS PROFESSORES (na sua maioria) SÃO SÉRIOS! QUEREM ENSINAR E QUEREM
QUE OS SEUS ALUNOS APRENDAM! CONFIE NELES!OIÇA-NOS SRª MINISTRA!

E para terminar, um poema de Alberto Caeiro que encontrei hoje no blog
Terrear e uma frase de JMA.

Des (aprender)

Procuro despir-me do que aprendi
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu...

Alberto Caeiro

P.S. Peço desculpa a quem me ler, pela agressividade de algumas
expressões, mas tenho de soltar este grito de REVOLTA! Aos puristas
linguísticos, também, mas a intenção não foi fazer prosa. Imaginei a
Srª Ministra à minha frente e pus no papel aquilo que gostaria de lhe
dizer.

Peço desculpa também por não me identificar (por enquanto). Não o
costumo fazer, mas as razões são óbvias!

"A grande e inadiável urgência de desaprender. De ver. Mesmo que isso
nos custe. Porque a alternativa só pode ser a cegueira" JMA in blog
Terrear

 


Dezembro 06 2008

 

   Do "Blafémias":   

Educação sem dimensão *

Publicado por CAA em 6 Dezembro, 2008

ministraaaA cedência não envergonha nenhum actor político – muito pelo contrário.
Se uma proposta não tem condições mínimas para ser executada, se provocou muitos mais malefícios do que os eventuais proveitos que poderia recolher, a atitude política mais avisada e prudente é procurar algum resto de consenso capaz de evitar a destruição completa das intenções iniciais. Só que para isso é preciso grandeza: principalmente, nos protagonistas políticos.
A ministra da Educação jurou que não cederia um milímetro. Ela e os seus ajudantes atiçaram a mais feroz oposição social desde o PREC. Colocaram-se a si e ao Governo num beco quase sem saída. Se existisse grandeza assumiriam o seu falhanço. Mas querem perder gritando vitória – também não têm grandeza suficiente para isso.

      

* CM, 5.XII.2008

Publicado em Blasfemos na imprensa, Educação | 6 Comentários »

      


 


Novembro 11 2008

    

   O Liceu Nacional Infanta D. Maria (era assim que se chamava no meu tempo) tem sido, ao longo dos anos, a escola pública mais bem classificada no ranking das secundárias do país.

    Isto pressupõe, como a comunicação social tem afirmado, um corpo docente estável, qualificado, dedicado, de alto nível e sem faltas.

   Portanto, um corpo docente candidato a ficar muito bem classificado na avaliação dos professores.

   Esta tarde surge a noticia de que os professores, por unanimidade!!!, tinham decidido suspender o processo de avaliação.

   Assim, cai por terra a ideia sempre subjacente nas palavras da Ministra de que só os maus professores é que estavam contra o modelo de avaliação.

   E se estes professores, em principio os mais bem classificados do país, estão contra é porque o modelo está mal concebido e/ou mal executado.

   E se está mal concebido ou está a ser mal executado, a primeira obrigação de uma ministra responsável (e inteligente) é arrepiar caminho e alterar, ou substituir, o que a prática mostra estar errado.

   Não é possível reformar o ensino contra todos os professores, mesmo os melhores!

   O resto é miopia, intransigência e estupidez autoritária.

   Também com aqueles Secretários de Estado!

   Haja Deus!

     


  


Outubro 31 2008

   

   Francisco José Viegas no "A Origem das Espécies" tem esta ideia brilhantemente irónica mas que encerra um grande perigo:

o inefável e indescritível Valtr Lemos, Secretário de Estado socialista (sim esse vereador da Câmara de Penamacor pelo CDS, que perdeu o mandato por faltas injustificadas!!!) pode julgar que é a sério e pô-la em prática!!!

    

   

31 de Outubro de 2008
||| Chumbos.
     

O Conselho Nacional da Educação vem propor que acabem os chumbos até ao 9.º ano – é uma medida e tanto, que o Sr. Secretário de Estado Valter Lemos festeja com as mãos ambas, uma vez que parece ser ele o encarregado de velar pelas estatísticas. Acho que o Sr. Secretário Lemos está a ser modesto em matéria de “mecanismos de alternativa a chumbos”. Defendo que, na hora do baptismo, perdão, no registo civil, seja atribuído logo o 9.º ano a cada pequeno cidadão. Assim, evitam-se logo os chumbos. Parece, além do mais, que o chumbo é visto como uma tentativa de responsabilizar os alunos e os pais, o que – no entender do Sr. Secretário Lemos e do sempre espantoso Albino Almeida, da confederação dos paizinhos – não pode acontecer. Sim, de facto, onde é que isto se viu? Na Finlândia?

[Da coluna do Correio da Manhã.]


 


 

[ Publicado por FJV ]

 


Outubro 30 2008

   

   Concordo com José Ricardo Costa em Ponteiros Parados

  

CAMARADA LAVOISIER

 
Se quisermos compreender a tragédia do ensino em Portugal, teremos de regredir até ao passado revolucionário, maoista e estalinista da actual ministra da educação.
 
A ilusão comunista que, na companhia do nazismo, conduziu aos maiores pesadelos do século XX, partia do pressuposto de que a realidade poderia ser transformada através de uma planificação laboratorialmente conduzida. A realidade podia ser a fome, a miséria, a repressão, mas o delírio utópico de muitos via nisso uma espécie de dores de crescimento, normais no caminho para o paraíso.

As estatísticas, os números, a propaganda, mostravam a superioridade do modelo, concebido por iluminados que não percebiam nada da realidade mas a quem as verdades eram sobrenaturalmente reveladas. Só que a prática mostrava exactamente o contrário.

A farsa que existe hoje no actual sistema de ensino resulta de uma ideologia e atitude mental muito semelhante. Pessoas que fizeram cursos, depois mestrados, depois doutoramentos, que escreveram livros e vão a colóquios e conferências, consideram que, através de leis e mais leis e mais leis, ou de manipulações burocráticas, a realidade atinge a perfeição desejada. Depois, o desejo de ver uma determinada realidade faz-nos ver essa mesma realidade ainda que para isso se faça muita batota e malabarismos estatísticos.

O Estalinismo é como a natureza. Não ganhou nem perdeu. Apenas se transformou.

   

 

 


Outubro 30 2008

    

Ora tomem, para pensarem durante o fim de semana:

(rapinado, com a devida vénia, do Blasfémias)

 

E como se transforma num problema de injustiça social o falhanço das políticas ditas de apoio aos mais desfavorecidos

Publicado por helenafmatos em 30 Outubro, 2008

     

Lendo este artigo do JN Ranking favorece escolas de alunos de classes privilegiadas fica-se ciente que há que acabar com esta injustiça, esta iníqua diferenciação social.

Aliás o artigo até cita um ”investigador da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e um dos primeiros participantes no programa de avaliação das escolas oficiais”, Para Pedro Oliveira, que defende que “seria interessante se os rankings mostrassem a origem social dos alunos para se perceber o posicionamento das escolas nas listagens”Um outro investigador citado pelo JN, “Ivo Domingues, sociólogo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, põe a tónica do êxito dos colégios privados na continuidade que proporcionam às classes média e alta de manterem os seus privilégios sociais e culturais.” Mais um bocadinho e estamos a defender o fim do ensino privado, essa estratégia das «classes média e alta de manterem os seus privilégios sociais e culturais.»

Provavelmente o ensino privado é isso neste momento. Ou seja qualquer pessoa com dois dedos de informação tem sérias reservas  em deixar os seus filhos frequentarem uma coisa apalhaçada, onde cada vez se ensina menos e pode nem se lhes garantir a segurança. Onde se um menino se quiser levantar, desatar aos pontapés, chamar isto e aquilo aos professores tal não passa duma performance expressiva. E onde cada vez mais a avaliação e a exigência são condicionadas às ficções ministeriais.

Não por acaso os filhos da nossa classe política frequentam sobretudo até ao 9º ano o ensino privado. Em alguns casos até já nem são escolas privadas portuguesas mas sim estrangeiras como é o caso da escola alemã. E muitos mais debandarão do ensino público caso os ditames do conselho nacional de educação sejam seguidos pois poucos estarão para arriscar que os seus filhos sejam cobaias da introdução do «melhor modelo escolar do mundo em Portugal.»

Ao contrário do que diz o artigo do JN não são os filhos dos pobres que fazem baixar o nível do ensino. Quem destruiu o ensino público foram aqueles que resolveram fazer experimentalismo social nas escolas. Como é claro foram os primeiros a tirar de lá os filhos e agora acusam os mesmos pobres de não terem rendimento escolar. Se não tivessem desautorizados os professores e funcionários, se não tivessem baixado o nível de exigência curricular, se tivessem exigido responsabilidade às famílias pelo comportamento dos seus filhos… enfim se se tivessem comportado como uma escola a escola pública teriam certamente ajudado muito mais os pobres.

Curiosamente o artigo do JN refere que só frequenta o  Colégio S. João de Brito «quem pode pagar os 460 euros de mensalidade mensal no Ensino Secundário» lamento informar mas todos pagamos mais ou menos isso por cada aluno que frequenta uma qualquer escola pública. O custo por aluno nas piores escolas do ranking não é certamente muito diferente do apresentado nas mensalidades do citado São João de Brito. Feitas as contas as piores classificadas até saem muito mais caras porque as reprovações agravam os custos.

  

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Outubro 30 2008

 

   Do 31 da armada, com a devida vénia:

 

É fazer as contas

Em 2006, as escolas públicas e privadas apresentavam um indice de 17,5 por cento de resultados positivos nos exames nacionais de Matemática do 12º ano. Em 2007, esses valores atingiram os 65 por cento. Em 2008, o Ministério da Educação anuncia ufano que se chegou aos 96 por cento de resultados acima dos 9,5. É a prova provada de que há melhorias no sistema educativo.

 

Ou então há eleições para o ano, não sei.



 

       

 


Outubro 19 2008

   Por mail, recebi esta carta aberta qe passo a transcrever:

 

 

 

Sr. Engº José Sócrates,


Antes de mais, peço desculpa por não o tratar por Excelência nem por Primeiro-Ministro, mas, para ser franca, tenho muitas dúvidas quanto ao facto de o senhor ser excelente e, de resto, o cargo de primeiro-ministro parece-me, neste momento, muito pouco dignificado.


Também queria avisá-lo de antemão que esta carta vai ser longa, maspenso que não haverá problema para si, já que você é do tempo em que o ensino do Português exigia grandes e profundas leituras. Ainda pensei em escrever tudo por tópicos e com abreviaturas, mas julgo que lhe faz bem recordar o prazer de ler um texto bem escrito, com princípio, meio e fim, e que, quiçá, o faça reflectir (passe a falta de modéstia).


Gostaria de começar por lhe falar do 'Magalhães'. Não sobre os erros ortográficos, porque a respeito disso já o seu assessor deve ter recebido um e-mail meu. Queria falar-lhe da gratuitidade, da inconsequência, da precipitação e da leviandade com que o senhor engenheiro anunciou e pôs em prática o projecto a que chama de e-escolinha.


O senhor fala em Plano Tecnológico e, de facto, eu tenho visto a tecnologia, mas ainda não vi plano nenhum. Senão, vejamos a cronologia dos factos associados ao projecto 'Magalhães':

. No princípio do mês de Agosto, o senhor engenheiro apareceu na televisão a anunciar o projecto e-escolinhas e a sua ferramenta: o portátil Magalhães.

. No dia 18 de Setembro (quinta-feira) ao fim do dia, o meu filho traz na mochila um papel dirigido aos encarregados de educação, com apenas quatro linhas de texto informando que o 'Magalhães' é um projecto do Governo e que, dependendo do escalão de IRS, o seu custo pode variar entre os zero e os 50 euros.  Mais nada! Seguia-se um formulário com espaço para dados como nome do aluno, nome do encarregado de educação, escola, concelho, etc. e, por fim, a oportunidade de assinalar, com uma cruzinha, se pretendemos ou não adquirir o 'Magalhães'.

. No dia 22 de Setembro (segunda-feira), ao fim do dia, o meu filho traz um novo papel, desta vez uma extensa carta a anunciar a visita, no dia seguinte, do primeiro-ministro para entregar os primeiros 'Magalhães' na EB1 Padre Manuel de Castro. Novamente uma explicação respeitante aos escalões do IRS e ao custo dos portáteis.

. No dia 23 de Setembro (terça-feira), o meu filho não traz mais
papéis, traz um 'Magalhães' debaixo do braço.


Ora, como é fácil de ver, tudo aconteceu num espaço de três dias úteis em que as famílias não tiveram oportunidade de obter esclarecimentos sobre a futura utilização e utilidade do 'Magalhães'. Às perguntas que colocámos à professora sobre o assunto, ela não soube responder.
Reunião de esclarecimento, nunca houve nenhuma.

Portanto, explique-me, senhor engenheiro: o que é que o seu Governo pensou para o 'Magalhães'? Que planos tem para o integrar nas aulas?
Como vai articular o seu uso com as matérias leccionadas? Sabe, é que 50 euros talvez seja pouco para se gastar numa ferramenta de trabalho, mas, decididamente, e na minha opinião, é demasiado para se gastar num brinquedo. Por favor, senhor engenheiro, não me obrigue a concluir que acabei de pagar por uma inutilidade, um capricho seu, uma manobra de
campanha eleitoral, um espectáculo de fogo de artifício do qual só sobra fumo e o fedor intoxicante da pólvora.

Seja honesto com os portugueses e admita que não tem plano nenhum.
Admita que fez tudo tão à pressa que nem teve tempo de esclarecer as escolas e os professores. E não venha agora dizer-me que cabe aos pais aproveitarem esta maravilhosa oportunidade que o Governo lhes deu e ensinarem os filhos a lidar com as novas tecnologias. O seu projecto chama-se e-escolinha, não se chama e-familiazinha!  Faça-lhe jus!
Ponha a sua equipa a trabalhar, mexa-se, credibilize as suas
iniciativas!

Uma coisa curiosa, senhor engenheiro, é que tudo parece conspirar a seu favor nesta sua lamentável obra de empobrecimento do ensino assente em medidas gratuitas.

Há dias arrisquei-me a ver um episódio completo da série Morangos com Açúcar. Por coincidência, apanhei precisamente o primeiro episódio da nova série que significa, na ficção, o primeiro dia de aulas daquela miudagem. Ora, nesse primeiro dia de aulas, os alunos conheceram a sua professora de matemática e o seu professor de português. As imagens
sucediam-se alternando a aula de apresentação de matemática por contraposição à de português. Enquanto a professora de matemática escrevia do quadro os pressupostos da sua metodologia - disciplina, rigor e trabalho - o professor de português escrevia no quadro os
pressupostos da sua - emoção, entrega e trabalho. Ora, o que me faz espécie, senhor engenheiro, é que a personagem da professora de matemática é maldosa, agressiva e antiquada, enquanto que o professor de português é um tipo moderno e bué de fixe. Então, de acordo com os princípios do raciocínio lógico, se a professora de matemática é maldosa e agressiva e os seus pressupostos são disciplina e rigor, então a disciplina e o rigor são coisas negativas. Por outro lado, se o professor de português é bué de fixe, então os pressupostos da emoção e da entrega são perfeitos. E de facto era o que se via.
Enquanto que na aula de matemática os alunos bufavam, entediados, na aula de português sorriam, entusiasmados.

Disciplina e rigor aparecem, assim, como conceitos inconciliáveis com emoção e entrega, e isto é a maior barbaridade que eu já vi na minha vida. Digo-o eu, senhor engenheiro, que tenho uma profissão que vive das emoções, mas onde o rigor é 'obstinado', como dizem os poetas. Eu
já percebi que o ensino dos dias de hoje não sabe conciliar estes dois lados do trabalho. E, não o sabendo, optou por deixar de lado a disciplina e o rigor. Os professores são obrigados a acreditar que para se fazer um texto criativo não se pode estar preocupado com os erros ortográficos. E que para se saber fazer uma operação aritmética não se pode estar preocupado com a exactidão do seu resultado. Era o que faltava, senhor engenheiro!

Agora é o momento em que o senhor engenheiro diz de si para si: mas esta mulher é um Velho do Restelo, que não percebe que os tempos mudaram e que o ensino tem que se adaptar a essas mudanças? Percebo, senhor engenheiro. Então não percebo? Mas acontece que o que o senhor engenheiro está a fazer não é adaptar o ensino às mudanças, você está a esvaziá-lo de sentido e de propósitos. Adaptar o ensino seria afinar as metodologias por forma a torná-las mais cativantes aos olhos de uma geração inquieta e voltada para o imediato. Mas nunca diminuir, nunca desvalorizar, nunca reduzir ao básico, nunca baixar a bitola até ao nível da mediocridade.

Mas,  por falar em Velho do Restelo...

... Li, há dias, numa entrevista com uma professora de Literatura Portuguesa, que o episódio do Velho do Restelo foi excluído do estudo d'Os Lusíadas. Curioso, porque este era o episódio que punha tudo em causa, que questionava, que analisava por outra perspectiva, que é algo que as crianças e adolescentes de hoje em dia estão pouco habituados a fazer. Sabem contrariar, é certo, mas não sabem questionar. São coisas bem diferentes: contrariar tem o seu quê de gratuito; questionar tem tudo de filosófico. Para contrariar, basta bater o pé. Para questionar, é preciso pensar.

Tenho pena, porque no meu tempo (que não é um tempo assim tão distante), o episódio do Velho do Restelo, juntamente com os de Inês de Castro e da Ilha dos Amores, era o que mais apaixonava e empolgava a turma. Eram três episódios marcantes, que quebravam a monotonia do discurso de engrandecimento da nação e que, por isso, tinham o mérito de conseguir que os alunos tivessem curiosidade em descodificar as suas figuras de estilo e desbravar o hermetismo da linguagem. Ainda hoje me lembro exactamente da aula em que começámos a ler o episódio de Inês de castro e lembro-me das palavras da professora Lídia, espicaçando-nos, estimulando-nos, obrigando-nos a pensar. E foi há 20 anos.

Bem sei que vivemos numa era em que a imagem se sobrepõe à palavra, mas veja só alguns versos do episódio de Inês de Castro, veja que perfeita e inequívoca imagem eles compõem:

'Estavas, linda Inês, posta em sossego,

De teus anos colhendo doce fruito,

Naquele engano d'alma ledo e cego,

Que a fortuna não deixa durar muito (...)'

Feche os olhos, senhor engenheiro, vá lá, feche os olhos. Não consegue ver, perfeitamente desenhado e com uma nitidez absoluta, o rosto branco e delicado de Inês de Castro, os seus longos cabelos soltos pelas costas, o corpo adolescente, as mãos investidas num qualquer bordado, o pensamento distante, vagueando em delícias proibidas no leito do príncipe? Não vê os seus olhos que de vez em quando escapam às linhas do bordado e vão demorar-se na janela, inquietos de saudade,
à espera de ver D. Pedro surgir a galope na linha do horizonte? E agora, se se concentrar bem, não vê uma nuvem negra a pairar sobre ela, não vê o prenúncio do sangue a escorrer-lhe pelos fios de cabelo?
Não consegue ver tudo isto apenas nestes quatro versos?

Pois eu acho estes quatro versos belíssimos, de uma simplicidade arrebatadora, de uma clareza inesperada. É poesia, senhor engenheiro, é poesia! Da mais nobre, grandiosa e magnífica que temos na nossa História. Não ouse menosprezá-la. Não incite ninguém a desrespeitá-la.

Bem, admito que me perdi em divagações em torno da Inês de Castro. O que eu queria mesmo era tentar perceber porque carga de água o Velho do Restelo desapareceu assim. Será precisamente por estimular a diferença de opiniões, por duvidar, por condenar? Sabe, não tarda muito, o episódio da Ilha dos Amores será também excluído dos conteúdos programáticos por 'alegado teor pornográfico' e o de Inês de
Castro igualmente, por 'incitamento ao adultério e ao desrespeito pela autoridade'.

Como é, senhor engenheiro? Voltamos ao tempo do 'lápix' azul?

E já agora, voltando à questão do rigor e da disciplina, da entrega e da emoção: o senhor engenheiro tem ideia de quanta entrega e de quanta emoção Luís de Camões depôs na sua obra? E, por outro lado, o senhor engenheiro duvida da disciplina e do rigor necessários à sua concretização? São centenas e centenas de páginas, em dezenas de capítulos e incontáveis estrofes com a mesma métrica, o mesmo tipo de
rima, cada palavra escolhida a dedo... o que implicou tudo isto senão uma carga infinita de disciplina e rigor?

Senhor engenheiro José Sócrates:  vejo que acabo de confiar o meu filho ao sistema de ensino onde o senhor montou a sua barraca de circo e não me apetece nada vê-lo transformar-se num palhaço. Bem, também não quero ser injusta consigo. A verdade é que as coisas já começaram a descarrilar há alguns anos, mas também é verdade que você está a sobrealimentar o crime, com um tirinho aqui, uma facadinha ali, uma desonestidade acolá.

Lembro-me bem da época em que fiz a minha recruta como jornalista e das muitas vezes em que fui cobrir cerimónias e eventos em que você participava. Na altura, o senhor engenheiro era Secretário de Estado do Ambiente e andava com a ministra Elisa Ferreira por esse Portugal fora, a inaugurar ETAR's e a selar aterros. Também o vi a plantar árvores, com as suas próprias mãos. E é por isso que me dói que agora, mais de dez anos depois, você esteja a dar cabo das nossas sementes e a tornar estéreis os solos que deveriam ser férteis.

Sabe, é que eu tenho grandes sonhos para o meu filho. Não, não me refiro ao sonho de que ele seja doutor ou engenheiro. Falo do sonho de que ele respeite as ciências, tenha apreço pelas artes,  almeje a sabedoria e valorize o trabalho. Porque é isso que eu espero da escola. O resto é comigo.

Acho graça agora a ouvir os professores dizerem sistematicamente aos pais que a família deve dar continuidade, em casa, ao trabalho que a escola faz com as crianças. Bem, se assim fosse eu teria que ensinar o meu filho a atirar com cadeiras à cabeça dos outros e a escrever as redacções em linguagem de sms. Não. Para mim, é o contrário: a escola é que deve dar continuidade ao trabalho que eu faço com o meu filho.
Acho que se anda a sobrevalorizar o papel da escola. No meu tempo, a escola tinha apenas a função de ensinar e fazia-o com competência e rigor. Mas nos dias que correm, em que os pais não têm tempo nem disposição para educar os filhos, exige-se à escola que forme o seu carácter e ocupe todo o seu tempo livre. Só que infelizmente ela tem cumprido muito mal esse papel.

A escola do meu tempo foi uma boa escola. Hoje, toda a gente sabe que a minha geração é uma geração de empreendedores, de gente criativa e com capacidade iniciativa, que arrisca, que aposta, que ambiciona. E não é disso que o país precisa? Bem sei que apanhámos os bons ventos da adesão à União Europeia e dos fundos e apoios que daí advieram, mas
isso por si só não bastaria, não acha? E é de facto curioso: tirando o Marco cigano, que abandonou a escola muito cedo, e a Fatinha que andava sempre com ranhoca no nariz e tinha que tomar conta de três irmãos mais novos, todos os meus colegas da primária fizeram alguma coisa pela vida. Até a Paulinha, que era filha da empregada (no meu tempo dizia-se empregada e não auxiliar de acção educativa, mas, curiosamente, o respeito por elas era maior), apesar de se ter ficado pelo 9º ano, não descansou enquanto não abriu o seu próprio Pão Quente
e a ele se dedicou com afinco e empenho. E, no entanto, levámos reguadas por não sabermos de cor as principais culturas das ex-colónias e éramos sujeitos a humilhação pública por cada erro ortográfico. Traumatizados? Huuummm... não me parece. Na verdade, senhor engenheiro, tenho um respeito e uma paixão pela escola tais que, se tivesse tempo e dinheiro, passaria o resto da minha vida aestudar.

Às vezes dá-me para imaginar as suas conversas com os seus filhos (nem sei bem se tem um ou dois filhos...) e pergunto-me se também é válido para eles o caos que o senhor engenheiro anda a instalar por aí.
Parece que estou a ver o seu filho a dizer-lhe: ó pai, estou com
dificuldade em resolver este sistema de três equações a três
incógnitas... dás-me uma ajuda? E depois, vejo-o a si a responder com a sua voz de homilia de domingo: não faz mal, filho... sabes escrever o teu nome completo, não sabes? Então não te preocupes, é perfeitamente suficiente...

Vendo as coisas assim, não lhe parece criminoso o que você anda a fazer?

E depois, custa-me que você apareça em praça pública acompanhado da sua Ministra da Educação, que anda sempre com aquele ar de infeliz, de quem comeu e não gostou, ambos com o discurso hipócrita do mérito dos professores e do sucesso dos alunos, apoiados em estatísticas cuja real interpretação, à luz das mudanças que você operou, nos apresenta uma monstruosa obscenidade. Ofende-me, sabe? Ofende-me por me tomar por estúpida.

Aliás, a sua Ministra da Educação é uma das figuras mais
desconcertantes que eu já vi na minha vida. De cada vez que ela fala, tenho a sensação que está a orar na missa de sétimo dia do sistema de ensino e que o que os seus olhos verdadeiramente dizem aos pais deste Portugal é apenas 'os meus sentidos pêsames'.

Não me pesa a consciência por estar a escrever-lhe esta carta. Sabe, é que eu não votei em si para primeiro-ministro, portanto estou à vontade. Eu votei em branco. Mas, alto lá! Antes que você peça ao seu assessor para lhe fazer um discurso sobre o afastamento dos jovens da política, lembre-se, senhor engenheiro: o voto em branco não é o voto da indiferença, é o voto da insatisfação! Mas, porque vos é conveniente, o voto em branco é contabilizado, indiscriminadamente, com o voto nulo, que é aquele em que os alienados desenham macaquinhos
e escrevem obscenidades.

Você, senhor engenheiro, está a arriscar-se demasiado. Portugal está prestes a marcar-lhe uma falta a vermelho no livro de ponto. Ah... espere lá... as faltas a vermelho acabaram... agora já não hácastigos...
 
Bem, não me vou estender mais, até porque já estou cansada de repetir 'senhor engenheiro para cá', 'senhor engenheiro para lá'. É que o meu marido também é engenheiro e tenho receio de lhe ganhar cisma.

Esta carta não chegará até si. Vou partilhá-la apenas e só com os meus E-leitores (sim, sim, eu também tenho os meus eleitores) e talvez só por causa disso eu já consiga hoje dormir melhor. Quanto a si, tenho dúvidas.

Para terminar, tenho um enorme prazer em dedicar-lhe, aqui, uma estrofe do episódio do Velho do Restelo. Para que não caia no esquecimento. Nem no seu, nem no nosso.

'A que novos desastres determinas
De levar estes Reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas,
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos e de minas
De ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? Que histórias?
Que triunfos? Que palmas? Que vitórias? '

Atenciosamente e ao abrigo do artigo nº 37 da Constituição da
República Portuguesa,

Uma mãe preocupada

     


 


Setembro 24 2008

Teoria da Educação

domingo, 27 de abril de 2008

John Wilmot, Segundo Conde de Rochester (Ditchley, 1 de abril de 1647 — 26 de julho de 1680), foi um libertino inglês, amigo do rei Carlos II e escritor de muita poesia satírica e obscena.

http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Wilmot

Acho que muuuuuuuuuita teoria de como educar os filhos vai por água abaixo assim que eles aparecem.

“Antes de casar eu tinha três teorias sobre educar crianças. Agora tenho três crianças e nenhuma teoria.” John Wilmot.


 

emgestaocorrente às 22:15

Maio 13 2008

   

   Rapinado, com a devida vénia, do "Blasfémias".

   Oh Sócrates! Põe a senhora em Ministra, já!!!

   (E as reprovações já foram proibidas? Ainda não? E não há uma petição on-line?)

   Meu caro Jorge Carreira Maia ("A ver o mundo"): que diz a isto? Merece bem uma crónica sua!

No meu tempo era mais simples, mas sabíamos a tabuada.

Publicado por jcd em 12 Maio, 2008

 

“Na escola desejável, alunos e professores encontram no seu quotidiano um fio condutor apelativo e comum, que é o de aprender e ensinar competências, num cenário estruturante e holístico onde ser pessoa é ser tolerante, flexível, crítico, e é, também, ser capaz de desempenhos ajustados à exigência de uma sociedade global multidiferenciada, que apela a saberes mobilizáveis, conhecimentos reais e instrumentais, muito para lá da simples informação trazida pelos conteúdos, em si mesmos redutores e simplistas.”

 

Miriam Rodrigues Aço, Professora Titular, hoje no Público.

       


 


Maio 09 2008

        

   Mais uma excelente crónica de José Ricardo Costa no Jornal Torrejano de ontem.

      

Quando, há tempos, chegou a vez de apresentar Descartes nas minhas aulas de Filosofia, decidi começar por falar de D. Quixote e dos seus famosos moinhos de vento. Eu tinha a noção de o D. Quixote ser aquele livro que, embora quase ninguém tenha lido, toda a gente conhece.

Não foi por acaso que falei nele. Descartes, na brincadeira, claro, parte do princípio de que tudo o que vemos no mundo poderá ser fruto da ilusão, do sonho, da loucura, o que, diga-se de passagem, pode ter vantagens e desvantagens.

Se desanima pensar que a Monica Bellucci pode não passar de um produto da nossa febril imaginação, há também a esperança de o ministro Silva Pereira poder não existir e ser apenas um boneco da Nintendo.

Ora bem, ninguém conhecia o episódio dos moinhos de vento. Fiquei em estado de choque. Ainda tive uma réstea de esperança: Sancho Pança? Sim?...

Não. Sancho Pança era-lhes tão familiar como Witold Lutoslawski e se eu dissesse que os moinhos de vento de La Mancha eram uma versão espanhola da nossa estação do Oriente, projectados por um arquitecto espanhol chamado Santiago Calatrava, ninguém iria reagir.

Há poucos dias, noutra turma, pedi aos alunos que me entregassem uns trabalhos por correio electrónico. Os professores, agora, são obrigados a serem modernos e fica bem no currículo dizer que se usam as novas tecnologias mesmo que os alunos possam não saber ler e escrever.

Na brincadeira, disse que não queria que me enviassem vírus. Um aluno, também na brincadeira, disse que iria mandar um "cavalo de Tróia" (um tipo de vírus). Eu, ainda na brincadeira, disse que não valeria a pena pois não tinha lá em casa nenhuma Helena para resgatar.

A brincadeira acabou ali. O aluno olhou para mim como se estivesse a olhar para um pós-estruturalista e eu, para o salvar, perguntei pela guerra de Tróia. Nicles. Ulisses? Nicles. Aquiles? Nicles. Eu, já desesperado, insisti:

– Mas sabe ao menos que raio de coisa é o cavalo de Tróia?

– Sei.

Animei-me um pouco

– O que é, então? – perguntei.

– Um vírus.

Há quem chame a isto ignorância. A famosa ignorância da juventude actual. Tenho as minhas dúvidas e vou explicar porquê.

Se um português normal não souber o que foi a batalha de Aljubarrota, é ignorante. Todos os portugueses normais estudaram História e, se não sabem isso, não sabem uma coisa que seria suposto saberem. Pronto, é ignorância.

Se um estudante de arquitectura não souber quem é Nadir Afonso, é ignorante. Se um professor de Português, de Filosofia ou de Física não souberem coisas básicas relativas às suas áreas, são ignorantes.

A ignorância mede-se pelo grau de expectativas. Eu não posso considerar ignorante um agricultor que nunca ouviu falar de Descartes. Seria ignorante, sim, se não soubesse qual a melhor altura do ano para semear alfaces. Como seria ignorante um professor de Filosofia que não soubesse falar de Descartes.

O que se passa com os nossos jovens, actualmente, não é um problema de ignorância. É um problema de isolamento. Eles não podem saber aquilo de que nunca ouviram falar. Eles sabem cada vez mais o que nós não sabemos e o que nós sabemos eles sabem cada vez menos.

A culpa não é só deles. É dos pais, porque têm mais que fazer. Mas é também da escola. A escola, por um lado, deixou de valorizar o saber e o conhecimento. É cada vez mais uma escola de Estudo Acompanhado, da Formação Cívica, da Área de Projecto, aberrações pedagógicas que acabam por contaminar as outras disiplinas.

Por outro lado, os professores, numa escola que despreza o saber e o conhecimento, acabam também por desvalorizar o saber e o conhecimento. Eu sou professor de Filosofia e, hoje, não preciso de ler absolutamente nada para o poder ser. Não precisaria de ler mais nada para além da TV Guia, para ser o professor de Filosofia que me pedem para ser.

É assim que as coisas estão e já deu para perceber que é assim que vão continuar a estar. E não é nada fácil lutar contra cavaleiros perigosos que gostam de se disfarçar de românticos moinhos de vento.

josericardoccosta@gmail.com

          

Moinhos de Vento


Abril 10 2008

   Do Blasfémias, rapinei este post que tem toda a razão de ser.

   A ler com atenção.     

O coração de Sócrates e o não-se-sabe do PSD

Publicado por CAA em 10 Abril, 2008

O primeiro-ministro disse esta quinta-feira, em Abrantes, que a educação «está no coração» do Governo. Para o seu maior era uma «paixão». Os resultados são os que se sabem. O PS, hoje e sempre, não consegue perceber que este sistema falhou e julga que derramando milhões em cima do descalabro a coisa melhora…

Que bom seria se o PSD apresentasse uma renovação completa das suas ideias acerca deste tema. Algumas sugestões: descentralização completa do sistema de ensino, fortíssima autonomia das escolas (incluindo selecção própria dos docentes), hierarquização da estrutura escolar, banimento efectivo das teses do ‘eduquês’, estabelecimento de uma lógica de mérito e de recompensa do esforço dos alunos, e, ainda, dupla possibilidade de escolha para as famílias: da escola pública preferida (independentemente do lugar da residência ou trabalho dos pais) e do tipo de escola com o cheque-educação. Para quando?


Dezembro 03 2007

 

        

   Há pouco, na Antena 1, no programa "Os dias do avesso", ouvi uma história de arrepiar que passo a contar.

   Numa escola do ensino secundário no norte do país uma matulona de 15 anos divertia-se, do lado de fora da sala de aula, a distribuir "calduços" (sic) a quem saía até que calhou a vez da própria professora ser brindada com um "calduço ".

   Em gesto instintivo, a professora retribuiu com uma estalada.

   A energúmena, com o civismo e a educação própria da nossa actual sociedade, respondeu com várias estaladas na professora.

   Pensam que a menina "rambo" foi expulsa da escola? Que alguma entidade responsável  penalizou os pais por terem criado um tal monstro? Que os pais foram à escola pedir desculpa pelo comportamento da filha?

   Estão muito enganados e não percebem nada dos novos processos educativos, das relações interpessoais dentro da "comunidade educativa" e de outros conceitos e práticas do eduquês " que destruíram todo o nosso sistema de ensino, afogado na irresponsabilidade total e na cobardia de quase todos os responsáveis pelo Ministério da Educação nos 33 anos da nossa democracia.

   A verdade é que a monstruosa adolescente mais a sua monstruosa mãe, foram à policia fazer queixa da professora!

   E que fez a policia? Internou o monstrinho numa casa de correcção e afagou a mãe com umas bastonadas bem aplicadas?

   Qual quê! Aceitou a queixa, e os agentes presentes devem ter dado graças a Deus, por a "menina" não lhes ter distribuído também uns calduços ".

   Mas o que é verdadeiramente preocupante é que a delinquente e a mãe se fizeram acompanhar por estações de televisão que transmitiram acriticamente os acontecimentos!

   No coments !

   Haja Deus!

    

   PS: o meu amigo Pedro Barroso tem uma canção em que diz que "Deus não existe, mas também não dorme".

   Pois eu penso que Ele anda mesmo a dormir!!!


 


Abril 15 2007

           

        

      Marques Mendes, líder do PSD, defendeu ontem, em Coimbra, várias reformas na politica de educação (do pré-escolar ao secundário), das quais se destacam:

  • cada escola deve escolher o seu pessoal docente e não docente, com sistemas remuneratóros próprios e diferenciados;
  • cada escola deve gerir o seu calendário, horários e cargas lectivas;
  • o Ministério deve apenas desempenhar um papel de regulação e de fiscalização.

      Estas medidas são de uma necessidade tão evidente que parece impossível a realidade consistir exactamente no contrário.

      Entretanto, recorde-se que Portugal já é o país que mais gasta em educação (expresso em termos de percentagem do PIB) mas continua a ser o que piores resultados apresenta!

    

      E já agora: porque não estender estas medidas a outros sectores (como a saúde) onde o centralismo está cada vez mais asfixiante, servindo as ARS e os seus boys apenas como correia de transmissão da vontade ditatorial do ministro e para o pouparem aos custos politicos dos primeiros embates dos constantes conflitos por ele, arrogantemente, provocados?

      

      

 

 



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