Em gestão corrente ...como o País...

Dezembro 06 2008

 

   Do "Blafémias":   

Educação sem dimensão *

Publicado por CAA em 6 Dezembro, 2008

ministraaaA cedência não envergonha nenhum actor político – muito pelo contrário.
Se uma proposta não tem condições mínimas para ser executada, se provocou muitos mais malefícios do que os eventuais proveitos que poderia recolher, a atitude política mais avisada e prudente é procurar algum resto de consenso capaz de evitar a destruição completa das intenções iniciais. Só que para isso é preciso grandeza: principalmente, nos protagonistas políticos.
A ministra da Educação jurou que não cederia um milímetro. Ela e os seus ajudantes atiçaram a mais feroz oposição social desde o PREC. Colocaram-se a si e ao Governo num beco quase sem saída. Se existisse grandeza assumiriam o seu falhanço. Mas querem perder gritando vitória – também não têm grandeza suficiente para isso.

      

* CM, 5.XII.2008

Publicado em Blasfemos na imprensa, Educação | 6 Comentários »

      


 


Outubro 30 2008

    

Ora tomem, para pensarem durante o fim de semana:

(rapinado, com a devida vénia, do Blasfémias)

 

E como se transforma num problema de injustiça social o falhanço das políticas ditas de apoio aos mais desfavorecidos

Publicado por helenafmatos em 30 Outubro, 2008

     

Lendo este artigo do JN Ranking favorece escolas de alunos de classes privilegiadas fica-se ciente que há que acabar com esta injustiça, esta iníqua diferenciação social.

Aliás o artigo até cita um ”investigador da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e um dos primeiros participantes no programa de avaliação das escolas oficiais”, Para Pedro Oliveira, que defende que “seria interessante se os rankings mostrassem a origem social dos alunos para se perceber o posicionamento das escolas nas listagens”Um outro investigador citado pelo JN, “Ivo Domingues, sociólogo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, põe a tónica do êxito dos colégios privados na continuidade que proporcionam às classes média e alta de manterem os seus privilégios sociais e culturais.” Mais um bocadinho e estamos a defender o fim do ensino privado, essa estratégia das «classes média e alta de manterem os seus privilégios sociais e culturais.»

Provavelmente o ensino privado é isso neste momento. Ou seja qualquer pessoa com dois dedos de informação tem sérias reservas  em deixar os seus filhos frequentarem uma coisa apalhaçada, onde cada vez se ensina menos e pode nem se lhes garantir a segurança. Onde se um menino se quiser levantar, desatar aos pontapés, chamar isto e aquilo aos professores tal não passa duma performance expressiva. E onde cada vez mais a avaliação e a exigência são condicionadas às ficções ministeriais.

Não por acaso os filhos da nossa classe política frequentam sobretudo até ao 9º ano o ensino privado. Em alguns casos até já nem são escolas privadas portuguesas mas sim estrangeiras como é o caso da escola alemã. E muitos mais debandarão do ensino público caso os ditames do conselho nacional de educação sejam seguidos pois poucos estarão para arriscar que os seus filhos sejam cobaias da introdução do «melhor modelo escolar do mundo em Portugal.»

Ao contrário do que diz o artigo do JN não são os filhos dos pobres que fazem baixar o nível do ensino. Quem destruiu o ensino público foram aqueles que resolveram fazer experimentalismo social nas escolas. Como é claro foram os primeiros a tirar de lá os filhos e agora acusam os mesmos pobres de não terem rendimento escolar. Se não tivessem desautorizados os professores e funcionários, se não tivessem baixado o nível de exigência curricular, se tivessem exigido responsabilidade às famílias pelo comportamento dos seus filhos… enfim se se tivessem comportado como uma escola a escola pública teriam certamente ajudado muito mais os pobres.

Curiosamente o artigo do JN refere que só frequenta o  Colégio S. João de Brito «quem pode pagar os 460 euros de mensalidade mensal no Ensino Secundário» lamento informar mas todos pagamos mais ou menos isso por cada aluno que frequenta uma qualquer escola pública. O custo por aluno nas piores escolas do ranking não é certamente muito diferente do apresentado nas mensalidades do citado São João de Brito. Feitas as contas as piores classificadas até saem muito mais caras porque as reprovações agravam os custos.

  

Publicado em Geral | 105 Comentários »

   


   

 


Outubro 17 2008

  Do Blasfémias, com a devida vénia: 

Despesa pública

Publicado por Gabriel Silva em 17 Outubro, 2008

Não desceu, aumentou.
Política de contenção? Não existiu, gastou-se cada ano mais.
Redução de despesa pública? Uma mentira.
A diminuição do déficite público face ao pib (que não depende do governo), apenas se alcançou com aumento significativo da receita arrecadada.
O Estado gasta cada vez mais. E paga-se ainda mais.


Despesa Pública em milhões de euros. 
Dados do Ministérios das Finanças e INE. 
Os valores para 2008 e 2009 são os que constam dos respectivos OE.

 


Julho 21 2008

   

   Do"Blasfémias", este post:

     

a mais velha profissão do mundo
     

   Sócrates e Kadafi, tendo ambos salientado a «grande amizade» entre os governos dos dois países (Sócrates, 19 de Julho, Líbia)

   O Primeiro-Ministro de Portugal, José Sócrates, considerou ontem “verdadeiramente esmagadores” os índices de crescimento económico que Angola tem vindo a registar nos últimos anos. (Sócrates, 17 de Julho, Angola)
   O primeiro-ministro, José Sócrates, agradeceu esta quarta-feira ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o acordo para que a GALP entre na exploração, produção e comercialização de petróleo venezuelano. (Sócrates, 14 de Maio,
Venezuela)

   José Sócrates considera que a China está a mudar a ordem mundial, é uma das mais pujantes economias emergentes, e que Portugal tem de estar presente, de ter mais empresas na China, independentemente dos juízos políticos que se façam, nomeadamente acerca da situação dos direitos humanos. «Temos de moldar a nossa política externa à medida que vão evoluindo as mudanças geopolíticas (Sócrates, Janeiro 2007, China)

   Governo recusa receber Dalai Lama (Setembro 2007, Portugal)



publicado por Rui Castro às 08:42
link do post | Nelson Mandela faz hoje 90 anos | parabéns pá (7) |

 


Julho 13 2008

Para ler e pensar:

Fim de um modelo *

Publicado por CAA em 16 Junho, 2008

                   

Esta é uma crise de várias crises que confluíram num mesmo momento.
   Sobretudo na Europa, o modelo que predomina ainda é o Estado Providência – os poderes públicos intervêm nas actividades dos cidadãos, moldando-as aos objectivos estatais e tentam promover amplos benefícios sociais concedidos por um aparelho administrativo agigantado, tudo suportado através do pagamento de impostos.

   Por exemplo, mais de metade da riqueza produzida em Portugal serve para pagar a máquina do Estado.

   E os auxílios sociais aumentam enquanto diminui o número de contribuintes – logo, os impostos estão numa irracional espiral de crescimento de que não se consegue ver o fim.
   Abundam as interpretações simplistas de que estamos perante uma crise do chamado neoliberalismo – só que não é esse modelo que está em vigor.

   Esta é a crise da lógica governativa que está em toda a parte: o Estado Social, agora mais merecedor do nome de Estado Tributário.
  O ‘politicamente correcto’ agita o papão de um liberalismo que não existe com o objectivo insidioso de camuflar as ineptidões do ‘Estado Papá/Mamã(**) que se esboroa diante dos nossos olhos.

            

* HERESIAS, Correio da Manhã, 15.VI.2008

** Essa expressão é da autoria de José Manuel Moreira


 


Maio 13 2008

   

   Rapinado, com a devida vénia, do "Blasfémias".

   Oh Sócrates! Põe a senhora em Ministra, já!!!

   (E as reprovações já foram proibidas? Ainda não? E não há uma petição on-line?)

   Meu caro Jorge Carreira Maia ("A ver o mundo"): que diz a isto? Merece bem uma crónica sua!

No meu tempo era mais simples, mas sabíamos a tabuada.

Publicado por jcd em 12 Maio, 2008

 

“Na escola desejável, alunos e professores encontram no seu quotidiano um fio condutor apelativo e comum, que é o de aprender e ensinar competências, num cenário estruturante e holístico onde ser pessoa é ser tolerante, flexível, crítico, e é, também, ser capaz de desempenhos ajustados à exigência de uma sociedade global multidiferenciada, que apela a saberes mobilizáveis, conhecimentos reais e instrumentais, muito para lá da simples informação trazida pelos conteúdos, em si mesmos redutores e simplistas.”

 

Miriam Rodrigues Aço, Professora Titular, hoje no Público.

       


 


Maio 09 2008

       

   A PJ era uma policia com prestigio e credibilidade, mesmo durante a ditadura salazarista.

   Mantinha-se afastada da "politica", era estável e discreta e, normalmente, resolvia os casos criminais com rapidez.

   Hoje temos uma policia instável, que muda constantemente de direcção (6 Directores em 10 anos - nenhum deles completou o mandato!!!), que ao fim de 1 ano de desaparecimento da pequena Madie não faz a mínima ideia do que lhe aconteceu (a policia espanhola encontrou a pequena Mariluz, no fundo do mar, em pouco mais de 1 mês) e que parece estar completamente politizada e, pior, ao serviço de estratégias partidárias (Casa Pia e não só).

   Por outro lado, a "Justiça", que tem dominado a PJ (os seus dirigentes máximos têm sido magistrados), desde que foi ocupada pelos inúmeros "laborinhos" que por aí pululam, dedica-se preferencialmente a julgar velhinhas acusadas de furtos nos Lidl no valor de 1 ou 2 €, a sistematicamente deixar prescrever as grandes fraudes (Partex, UGT) e a proferir sentenças em que condenam pessoas por se presumir que tenham praticado determinado acto, numa data desconhecida mas que se presume ter ocorrido entre ... e ... (vários anos atirados ao acaso), presumindo-se um valor entre ... e ... (mais números atirados ao acaso!) - juro que já li sentenças assim redigidas e confirmadas pela Relação e pelo Supremo!!! Provas? Para quê? Presume-se e atira-se para a cadeia!!!

   Publicam-se, a seguir e com a devida vénia, 2 post do "Blasfémias" sobre a "Justiça" portuguesa.

       

A propósito do resto do país de que fala o CAA

Publicado por helenafmatos em 8 Maio, 2008

Algo mais poderia ter sido feito a este nível” – lê-se, segundo o “Correio da Manhã”, no acórdão da Relação de Lisboa que anulou a pena de 25 anos de prisão a que fora condenado Franquelim Lobo. O caso deste homem que nos foi apresentado como o maior traficante de droga português é exemplar de como (não) se acusa, (não) se condena e (não) se absolve em Portugal. O primeiro julgamento, aquele em que Franquelim foi condenado a 25 anos de prisão, foi anulado porque a acusação fundamentava-se em escutas que afinal seriam ilegais. Na repetição do julgamento a prova baseou-se no depoimento dum ex-cúmplice que se terá provado ter prestado falsas declarações. A outra prova era um telemóvel que se demonstrou estar desactivado à altura dos factos: “Nem sequer se fez um despiste do contacto telefónico, para saber da utilização do mesmo.” - concluem os juízes da Relação. E os portugueses podem concluir o quê? Que um criminoso pode agradecer a erros vários da acusação o ser ilibado ou que um inocente pode ser acusado de crimes gravíssimos com base em provas como um telemóvel que nem sequer se verificou se estava activado em deteminada data? E no fim, perante tanta inoperância, tudo se resume a um “Algo mais poderia ter sido feito a este nível”? Todos os dias em Portugal se criticam os serviços de saúde e o ensino público. É certo que o primeiro gere mal e o segundo apresenta maus resultados. Mas nada desses erros se assemelham ao falhanço clamoroso que actualmente se regista na investigação criminal e na Justiça. A “este nível” está perigosamente a perder-se a noção da realidade.

*PÚBLICO, 6 de Maio

Publicado em Geral | 36 Comentários »

      

Como o resto do País *

Publicado por CAA em 8 Maio, 2008

Quando fui advogado surpreendi-me com o modo primitivo como se fazia a investigação criminal em Portugal. Garantem-me que agora é muito pior. As condições de trabalho das polícias (todas) estão ao nível da indigência. Mas o pior é a desmotivação de quem está no terreno. Falar com um agente da PJ, hoje em dia, é uma experiência psicológica ainda mais aflitiva do que ouvir as histórias de professores em escolas problemáticas.
Claro que a culpa não é de Alípio Ribeiro. Nem deste ministro. Como sempre, entre nós, ela distribui-se por todos os vivos e os mortos – preferencialmente, estes últimos – sob a égide do princípio geral da irresponsabilidade pública.
Alípio Ribeiro voltou a falar de mais. Foi tão desastrado que ficou claro que a sua intenção era sair. Tal como tantos outros. Fugir dali para fora: esse é o elemento comum entre o topo e a base da PJ.

* Correio da Manhã, 7.V.2008

Publicado em Portugal | 8 Comentários »

                  


 

 


Maio 06 2008

         

   Os candidatos à presidência do PSD, revistos pelo "Blasfémias"               

 

                      


emgestaocorrente às 22:04

Maio 05 2008

   

   Ainda em reflexão, como muitos outros companheiros, encontrei este post no "Blasfémias", que nos dá algumas pistas que podem ser importantes para uma decisão.

   Com a devida vénia.      

Analogias ou imitações * (com Adenda)

Publicado por CAA em 5 Maio, 2008

        

                      

Em Setembro de 2004 o PS fez a sua escolha em directas. Manuel Alegre era o revivalismo da esquerda, feito de baladas fora de época e de romagens aos cemitérios – locais, aliás, onde as suas ideias pareciam fazer mais sentido. João Soares era um filho do partido, com uma imagem muito cultivada de modernaço habituado aos corredores do poder. Depois vinha Sócrates. Tinha pouco currículo. Também era um menino do partido, onde se tinha feito gente. Mas sem pedigree político. Nem preparação especial ou profissional. A sua experiência de vida limitava-se àquilo que o ‘aparelhês’ lhe tinha oferecido. É certo que já tinha sido ministro – só que de Guterres, naquele que foi o pior Governo que a nossa democracia consentiu.
Mas percebeu-se logo uma fronteira: Alegre e Soares representavam o passado; Sócrates era o candidato de um PS novo, capaz de atrair eleitores que raramente preferiam os socialistas.
Agora, nas directas do PSD, as coisas podem não ser muito diferentes. Ferreira Leite e Santana Lopes são a repetição de soluções já ensaiadas num arrepiante déjà vu. De modos distintos, simbolizam aquilo que o PSD foi desde 1995: um partido sem ideias, emaranhado em lutas intestinas obsessivamente fulanizadas e com péssimos resultados governativos.
Passos Coelho é o único que mostra alguma inovação ideológica no discurso e na atitude. Só ele faz pensar que, após as directas, o seu partido pode virar a triste página em que está. Tal como Sócrates em 2004.

* Heresias, Correio da Manhã, 4.V.2008

                    

ADENDA: Já depois deste artigo, li estas declarações de Passos Coelho. Tal como escrevi aqui, face à possibilidade de vitória o grande perigo é que PPC procure ser igual aos seus adversários. O centralismo está outra vez na moda, desta vez na versão perfidamente chamada ‘descentralização política’ - o que significa que o Governo central mantém os poderes administrativos intactos enquanto oferece alguns rebuçados de vago cariz político. Nesse modelo, Portugal permaneceria como o país mais centralizado da Europa. O que PPC vem defender é a manutenção do status quo. Nem mais nem menos.

Publicado em Partidos, Política nacional | 23 Comentários »

             


 


Fevereiro 10 2008

     

   Está-se mesmo a ver que os betinhos bloquistas da manifestação são sócios  do Grémio Lisbonense, não está?

   Um post rapinado ao Blasfémias e a Helena Matos.      

           

         

Os manifestantes quererão ser senhorios do Grémio?
Publicado por helenafmatos em 9 Fevereiro, 2008
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Os senhores da foto (semanário SOL) insurgem-se contra a ordem de despejo determinada contra o Grémio Lisbonense. Para quem não saiba o Grémio Lisbonense ocupa dois andares no centro de Lisboa. Por esse espaço paga 333 euros de renda.Presumo que os senhores da foto estarão dispostos a adquirir as ditas instalações e a deixar manter-se lá pela mesma renda o dito Grémio Lisboense. A Câmara Municipal de Lisboa que declarou a utilidade pública do dito Grémio certamente que também pode contribuir. Ou até comprar o edifício e fazer um novo contrato com o Grémio pelos mesmos 333 euros.  Ou será que se considera que o senhorio do Grémio tem de arcar com os custos da “utilidade pública” mais a paixão que a associação suscita nestes manifestantes?
Neste caso encontram-se reunidos quase todos os ingredientes que levam à degradação dos edifícios do centro de Lisboa: rendas baixíssimas;  uma década em tribunal com recursos para o Constitucional e para o Supremo para se tentar efectuar um despejo ou fazer um novo contrato. Para efectuar o despejo o senhorio não deve alegar que a renda não chega sequer para pagar um seguro do edifício mas tem sim de ter meios económicos para se preparar para uma longa demanda nos tribunais onde terá de provar que  o inquilino vandalizou o edifício. No caso a acusação prende-se com o desaparecimento duns azulejos e a destruição do soalho mas mesmo que o inquilino não tivesse estragado nada com 333 euros de renda o senhorio conseguiria manter o soalho em condições? E restaurar os azulejos? Claro que não. Quem vandalizou o edifício é esta fantástica Lei das Rendas que no caso da Baixa de Lisboa condena à ruína os senhorios, os edifícios e também os inquilinos. Porque aquelas rendas de miséria que pagam levam a que vejam na mediocridade o seguro da  sua sobrevivência.
                

Fevereiro 10 2008

                                  

   O Blasfémias publica, hoje, este texto de Eça de Queiroz escrito em 1880 sobre a invasão do Afeganistão pelas tropas inglesas.

   Onde é que eu já vi esta cena?

      

«Foi assim em…..»

Publicado por Gabriel Silva em 10 Fevereiro, 2008

A propósito da situação no Afeganistão, onde pouco de concreto a intervenção da Nato tem conseguido, o Carlos Novais hoje recordou-me um texto de 1880 pleno de actualidade, pelo então diplomata Eça de Queirós.

«(…) Em 1847, os Ingleses – «por uma razão de estado, uma necessidade de fronteiras científicas, a segurança do império, uma barreira ao domínio russo da Ásia…» e outras coisas vagas que os políticos da Índia rosnam sombriamente retorcendo os bigodes – invadem o Afeganistão, e aí vão aniquilando tribos seculares, desmantelando vilas, assolando searas e vinhas: apossam- se, por fim, da santa cidade de Cabul; sacodem do serralho um velho emir apavorado; colocam lá outro de raça mais submissa, que já trazem preparado nas bagagens, com escravas e tapetes; e logo que os correspondentes dos jornais têm telegrafado a vitória, o exército, acampado à beira dos arroios e nos vergéis de Cabul, desaperta o correame e fuma o cachimbo da paz… Assim é exactamente em 1880.

No nosso tempo, precisamente em 1847, chefes enérgicos, messias indígenas, vão percorrendo o território, e com grandes nomes de pátria, de religião, pregam a guerra santa: as tribos reúnem-se, as famílias feudais correm com os seus troços de cavalaria, príncipes rivais juntam-se no ódio hereditário contra o estrangeiro, o homem vermelho, e em pouco tempo é todo um rebrilhar de fogos de acampamento nos altos das serranias, dominando os desfiladeiros que são o caminho, a entrada da Índia… E quando por ali aparecer, enfim, o grosso do exército inglês, à volta de Cabul, atravancado de artilharia, escoando-se espessamente por entre as gargantas das serras, no leito seco das torrentes, com as suas longas caravanas de camelos, aquela massa bárbara rola-lhe em cima e aniquila-o.

Foi assim em 1847, é assim em 1880. Então os restos debandados do exército refugiam-se em alguma das cidades da fronteira, que ora é Gasnat ora Candaar: os Afegãs, correm, põem o cerco, cerco lento, cerco de vagares orientais: o general sitiado, que nessas guerras asiáticas pode sempre comunicar, telegrafa para o vice-rei da Índia, reclamando com furor «reforços e chá e açúcar!» (Isto é textual; foi o general Roberts que soltou há dias este grito de gulodice britânica; o Inglês, sem chá, bate-se frouxamente.) Então o governo da Índia, gastando milhões de libras como quem gasta água, manda a toda a pressa fardos disformes de chá reparador, brancas colinas de açúcar e dez ou quinze mil homens. De Inglaterra partem esses negros e monstruosos transportes de guerra, arcas de Noé a vapor, levando acampamentos, rebanhos de cavalos, parques de artilharia, toda uma invasão temerosa… Foi assim em 47, assim é em 1880.

Esta hoste desembarca no Indostão, junta-se a outras colunas de tropa hindu e é dirigida dia e noite sobre a fronteira em expressos a quarenta milhas por hora; daí começa uma marcha assoladora, com cinquenta mil camelos de bagagens, telégrafos, máquinas hidráulicas e uma cavalgada eloquente de correspondentes de jornais. Uma manhã avista-se Candaar ou Gasnat – e num momento é aniquilado, disperso no pó da planície, o pobre exército afegã com as suas cimitarras de melodrama e as suas veneráveis colubrinas de modelo das que outrora fizeram fogo em Diu. Gasnat está livre! Candaar está livre! Hurra! Faz-se imediatamente disto uma canção patriótica; e a façanha é por toda a Inglaterra popularizada numa estampa, em que se vê o general libertador e o general sitiado apertando-se a mão com veemência, no primeiro plano, entre cavalos empinados e granadeiros belos como Apoios, que expiram em atitude nobre! Foi assim em 1847; há-de ser assim em 1880.

No entanto, em desfiladeiro e monte, milhares de homens, que ou defendiam a pátria ou morriam pela fronteira científica, lá ficam, pasto de corvos o que não é, no Afeganistão, uma respeitável imagem de retórica: aí, são os corvos que nas cidades fazem a limpeza das ruas, comendo as imundícies, e em campos de batalha purificam o ar, devorando os restos das derrotas.
E de tanto sangue, tanta agonia, tanto luto, que resta por fim? Uma canção patriótica, uma estampa idiota, nas salas de jantar, mais tarde uma linha de prosa numa página de crónica…

Consoladora filosofia das guerras!

No entanto a Inglaterra goza por algum tempo a «grande vitória do Afeganistão» com a certeza de ter de recomeçar daqui a dez anos ou quinze anos; porque nem pode conquistar e anexar um vasto reino, que é grande como a França, nem pode consentir, colados à sua ilharga, uns poucos de milhões de homens fanáticos, batalhadores e hostis. A «política», portanto, é debilitá-los periodicamente, com uma invasão arruinadora. São as fortes necessidades de um grande império. Antes possuir apenas um quintalejo, com uma vaca para o leite e dois pés de alface para as merendas de Verão…(…)»

    


 


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