Em gestão corrente ...como o País...

Agosto 12 2007

  

   Miguel Torga, pseudónimo do médico Adolfo Rocha, nasceu há precisamente cem anos.

   Natural e criado no planalto transmontano, do qual nunca se desligou, fez toda a sua vida profissional e literária em Coimbra onde tinha um consultório, no Largo da Portagem, com uma vista fantástica sobre o Mondego e Santa Clara.

   Tive o privilégio de, em criança, ter sido consultado por ele por causa de um problema de ouvidos (Miguel Torga era otorrinolaringologista).

   Até hoje os meus pais referem, com muito orgulho, que Miguel Torga no final da consulta, além de ter elogiado o meu comportamento - pouco habitual em crianças, referiu  que eu tinha um olhar inteligente e uma cabeça semelhante à do Napoleão!

   Este exagero simpático do grande mestre exacerbou-me de tal modo o ego que o primeiro livro que li, mal comecei a soletrar letras e sílabas foi, claro, "O Senhor Ventura", logo seguido por "Os Bichos".

   Na esteira dos grandes escritores portugueses do século XIX (Eça e Camilo) e do século XX (Aquilino, Ferreira de Castro, José  Rodrigues Migueis, Carlos Oliveira, o injustamente esquecido Fernando Namora) Miguel Torga foi o último dos grandes senhores da literatura portuguesa a deixar-nos, com uma idade já provecta.

   Eterno candidato ao Nobel, nunca o recebeu - não viveu em tempos politicamente correctos para essa atribuição; coube a outro, com bem menos qualidades literárias, humanas e politicas a honra do Nobel; paciência, não foi a última vez que se cometeram injustiças!

   Hoje, dia do centenário do seu nascimento, Coimbra comemora a efeméride, inaugurando uma casa museu onde o escritor viveu várias décadas.

   Miguel Torga, personalidade independente de todas as amarras, disciplinas e jogos partidários, nunca escondeu simpatia pelo PS, tendo apoiado públicamente o PS em diversas fases da democracia portuguesa.

   Mário Soares, enquanto governante ou Presidente, nunca foi a Coimbra sem visitar Miguel Torga.

   A Câmara Municipal de Coimbra, promotora das celebrações, é presidida pelo Dr. Carlos Encarnação, do PSD.

   O Governo, presidido por um engenheiro com a licenciatura tirada nas condições que se conhecem, é do PS.

   Ninguém do governo se deslocou a Coimbra à homenagem a Miguel Torga. Nem aquela figura risível a imitar uma rameira do Bairro Alto nem o careca, estalinista até ao dia em que o PS lhe deu cama, mesa, tacho e roupa lavada.

   António Arnaut, fundador do PS e "pai" do SNS já protestou.

   Enfim, mais um episódio de Salazarismo sem Salazar!

    


 


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