No dia do centenário do nascimento de Miguel Torga, um poema publicado em 1958.
Recorde-se que, então, Salazar governava com mão de ferro, censura à comunicação social, PIDE e prisões politicas (para quem "abusava", pensando pela sua própria cabeça) e assassinatos quando não ia de outro modo!
O regime salazarento/fascista ainda não tinha sofrido o "abalo" do General Humberto
Delgado.
(Porque será que sinto que, infelizmente, este poema voltou a ter plena actualidade?)
Flor da Liberdade
Sombra dos mortos, maldição dos vivos.
Também nós... Também nós... E o sol recua.
Apenas o teu rosto continua
A sorrir como dantes,
Liberdade!
Liberdade do homem sobre a terra,
Ou debaixo da terra.
Liberdade!
O não inconformado que se diz
A Deus, à tirania, à eternidade.
Sepultos, insepultos,
Vivos amortalhados,
Passados e presentes cidadãos:
Temos nas nossas mãos
O terrível poder de recusar!
E é essa flor que nunca desespera
No jardim da perpétua primavera.
Miguel Torga,
in "Orfeu Rebelde", 1958