Portugal suporta uma crise, grave e duradoura, que é só sua e que só aos Portugueses compete resolver.
Já desperdiçámos um tempo precioso e nada fizemos para atenuá-la, muito menos para superá-la.
Poderemos empobrecer lentamente até que da Europa só nos reste a geografia.Poderemos fingir que tudo está no bom caminho, mesmo quando sabemos que não está. Poderemos confiar nos acasos, com um optimismo que é apenas uma imensa irresponsabilidade.
Uma coisa, porém, é certa: se não conseguirmos "mudar" o essencial da nossa sociedade, teremos o futuro comprometido.
A economia portuguesa regista uma década tão medíocre que só encontra paralelo próximo no fim da Monarquia e no princípio da República.
Daqui emergem fenómenos sociais graves, desiquilíbrios financeiros perigosos, desmedidos endividamentos público e externo.
Chegámos à beira do precipicio e, se dermos um passo em falso ou tardarmos na reacção, ninguém evitará um enorme sobressalto.
Medina Carreira,
"Portugal que futuro? O tempo das mudanças inadiáveis"
Ed. Objectiva, Lisboa; Setembro de 2009