Gosto, francamente, disto:
uma negra crescida no sul de Espanha
cantando flamenco
à maneira de jazz!
Gosto, francamente, disto:
uma negra crescida no sul de Espanha
cantando flamenco
à maneira de jazz!
Há dias
Há dias em que julgamos
que todo o lixo do mundo nos cai
em cima. Depois
ao chegarmos à varanda avistamos
as crianças correndo no molhe
enquanto cantam.
Não lhes sei o nome. Uma
ou outra parece-se comigo.
Quero eu dizer: com o que fui
quando cheguei a ser
luminosa presença da graça,
ou da alegria.
Um sorriso abre-se então
num verão antigo.
E dura, dura ainda.
Eugénio de Andrade, in
"Os lugares do lume", 1998
Folhas novas
Fins de fevereiro. Saí para te esperar. Vi folhas novas num arbusto da alameda - isso mesmo, aquele que dá os copos, que à note cheiram alto - e senti-me rejuvenescido. Voltei para casa e até me esqueci de ver o correio.
Ruy Belo, in
"Obra Poética de Ruy Belo" - "Homem de palavras", Ed. Presença, Lisboa 1997.
Canção
Tu eras neve.
Branca neve acariciada.
Lágrima e jasmim
no limiar da madrugada.
Tu eras água.
Água do mar se te beijava.
Alta torre, alma, navio,
adeus que não começa nem acaba.
Eras o fruto
nos meus dedos a tremer.
Podíamos cantar
ou voar, podíamos morrer.
Mas do nome
que maio decorou,
nem a cor
nem o gosto me ficou.
Eugénio de Andrade, in
"Até amanhã"
De "Corte na aldeia", a vida como ela é:
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Arnaldo Jabor
Jorge Carreira Maia no indispensável "A ver o mundo":
José Pacheco Pereira no "Abrupto":
19:19 (JPP)
AS BIOGRAFIAS DO NADA
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Não é crime nenhum não ter biografia "antifascista", em particular quando se era demasiado novo para se perceber em que país é que se vivia. Mas existe a mania de encontrar sempre algum obscuro traço de oposição ao regime, uma legitimidade a anteriori no antes do 25 de Abril. Esse exercício existe no PSD, onde já tem levado a situações um pouco caricatas, mas é mais comum no PS. Já Guterres, que nunca teve qualquer vislumbre de oposição e que, bem pelo contrário, estava a iniciar uma carreira de jovem quadro tecnocrático no regime, atribuía-se uma vago "trabalho social" que manifestaria a sua insatisfação, logo o embrião de um embrião de um embrião de oposição a Salazar e Caetano. Agora é Sócrates que, supostamente, se "deliciava" junto com o pai na leitura dos "livros incómodos para o regime", encomendados através da Seara Nova, como refere hoje uma reportagem na revista NS distribuída com o Diário de Notícias e Jornal de Notícias. Coitado do jovem José Sócrates, então com 15 ou 16 anos, a "deliciar-se" com os sérios e macambúzios livros da Seara Nova... Será que quem disse, ou quem escreveu isto, faz mesmo ideia que livros eram esses? Será que quem disse ou quem escreveu isto, faz mesmo ideia que a expressão "deliciar" é um completo absurdo para descrever a atitude de alguém que, antes do 25 de Abril, lia "livros incómodos para o regime"?
O problema destas biografias de gente sem biografia, biografias do nada, é que se enchem de factos irrelevantes e triviais, interpretados de modo a construir uma "imagem", quando não há nada de interessante para essa construção. A não ser mostrar como se pode ter sucesso no plano político com pouco mais que nada de vida ou nada na vida. E Sócrates está longe de ser único.
Na margem de um rio
São assim os amigos, frágeis, como dunas.
Altas labaredas os consomem
e dizem nomes, recados de amor.
Nada os habita quando damos as mãos,
os rostos recortados no frio azul
para reparar o que nos une e o que nos afasta.
São assim os amigos, vêm
com uma ferida móvel entre os dedos
juto de mim. Perdidos eu os encontro,
aos amigos,ao que por ser frágil perdura
como uma claridade um nome branco.
Francisco José Viegas, in
"Metade da VIda", Ed. Quasi, Lisboa, 2002.
A meu favor
A meu favor
Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
Esta noite ou uma noite qualquer
A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde a aventura recomeça.
Alexandre O'Neill, in
"Poemas de Amor", org. Inês Pedrosa,
Publ. D. Quixote, Lisboa, 2003.
Depois da miséria nacional
contida nos 2 posts anteriores,
apetece recordar,
quem não fazendo títulos de jornal,
justifica algum orgulho pátrio;
de novo, em memória do
Mestre Martins Correia,
mestre das coisas da vida e da arte.
(2 esculturas em bronze policromado)
Meia dúzia de titulos tirados ao acaso, na comunicação social de hoje, dão-nos bem ideia do estado a que o nosso país chegou após os últimos 13 anos de desgoverno (dos quais 10 foram do PS).
Universidades que encerram, intermitentemente, para poupar dinheiro; delinquentes já aos 10 anos; clientes que pedem preços e saldos às prostitutas (até esta "actividade" está em crise!); assaltos à mão armada por todo o país e constantemente; mulheres a conduzir quase em coma alcoólico; milhares de desempregados (500.000?) e milhares de "ainda" empregados, mas que não recebem salários; reuniões de emergência para fazer face à subida constante dos assaltos a casas; "doutoramentos" (!!!) comprados na net (atenção "Eng.º" Sócrates, já pode comprar um doutoramento para juntar à sua "licenciatura" dominical!) e, finalmente, mais violência mais violência!!!
Ora tomem e orgulhem-se do nosso país!
("TSF" de hoje)
Um aluno, com 10 anos, do 5º ano de uma escola em Faro agrediu à dentada uma professora, um caso que envolveu a polícia e do qual a docente pretende apresentar queixa nos próximos dias, disse a própria à Lusa.
("Diário Digital" de hoje)
02 Fevereiro 2009 - 00h30
Prostituição: Custos elevados em casas levam mulheres para a rua
Clientes querem sexo mais barato
É uma actividade como tantas outras e está igualmente a sofrer com a crise financeira. As dificuldades no negócio do sexo no Algarve estão a levar dezenas de prostitutas para as estradas, com destaque para a EN125 – a principal via da região turística – onde cerca de 20 mulheres estão a oferecer serviços sexuais.
Os números, ao que o CM conseguiu apurar, são bastante reveladores e apontam para a quase duplicação das mulheres a escolherem as estradas para ganhar a vida a vender o corpo. A razão é simples: "Os clientes querem sexo cada vez mais barato e trabalharem em apartamentos começa a custar muito dinheiro", justificou Daniela ao CM, uma estrangeira ligada ao negócio do sexo em apartamentos da região.
Segundo dados apurados pelo nosso jornal através do MAPS – Movimento de Apoio à Problemática da Sida –, há neste momento nas ruas da região cerca de 150 mulheres a prostituir-se. Portimão, Quarteira, Olhão e, recentemente, ao longo da EN125 são as zonas preferidas para o negócio. Em 2007 o número não chegava a 80 mulheres, o que significa que quase duplicou durante o ano de 2008.
("Correio da Manhã" de hoje
02 Fevereiro 2009 - 00h30
Há cerca de uma semana, o mesmo posto de abastecimento de combustíveis tinha sido roubado por dupla de encapuzados
As bombas da Petro-Reiros em Vandoma, Paredes, foram anteontem assaltadas por uma dupla de encapuzados armados de pistolas cerca de uma semana depois do último assalto. Aquela estação de serviço já foi alvo de três roubos em pouco mais de um mês.
("Correio da Manhã" de hoje)
02 Fevereiro 2009 - 00h30
Detida pela GNR em Canelas, Vila Nova de GaiaCondutora apanhada com 3,35 g/l de álcool
Uma mulher de 42 anos foi apanhada na madrugada de ontem pela GNR a conduzir com 3,35 g/l de álcool no sangue, quando circulava na freguesia de Lagarteira, Canelas, Vila Nova de Gaia.
("Correio da Manhã" de hoje)
Crise. Muitas empresas ainda não pagaram subsídio de Natal
("Diário de Notícias" de hoje)
Homem baleado
Assalto violento em Gaia
Três homens encapuzados e armados assaltaram esta segunda-feira o gerente do Intermarché de Avintes, Gaia, baleando o responsável e roubando cerca de 30 mil euros.
Do "Correio da Manhã" de hoje uma excelente crónica de António Ribeiro Ferreira; com a devida vénia:
02 Fevereiro 2009 - 13h08
Estado do Sítio
Lavandaria rosa
O senhor Presidente da República classificou o caso Freeport como um assunto de Estado. É natural que esta afirmação de Cavaco Silva já esteja a ser devidamente analisada pela central de contra-informação rosa que pretende reduzir o processo de Alcochete a uma campanha negra, uma miserável cabala, uma urdidura, uma infame ignomínia montada por uma central que pretende atingir pessoal e politicamente o senhor Presidente do Conselho e, por tabela, decapitar a direcção do Partido Socialista.
Nada de novo, portanto. A imaginação dos pobres agentes da central de contra-informação rosa anda, manifestamente, pelas ruas da amargura. Imaginam que os bons resultados obtidos no processo de pedofilia da Casa Pia se vão repetir neste caso Freeport. Acontece que as situações são diferentes, a violação de menores não se compara à corrupção ou ao tráfico de influências e, para azar dos contra-informadores, no terreno também anda uma autoridade inglesa, a Serious Fraud Office, que legitimamente quer saber para que bolsos foram parar uns milhões de libras de uma empresa britânica que acabou falida e vendida a baixo preço a um grupo liderado por altas figuras da política norte-americana, com estreitos laços a eminentes figuras deste sítio corrupto, manhoso, pobre, deprimido e obviamente cada vez mais mal frequentado.
É evidente que a estupidez e tacanhez dos agentes da central de contra-informação vai ao ponto de negar legitimidade às autoridades ingleses de investigar personalidades lusas, sejam elas quais forem, suspeitas de ter participado de forma criminosa no processo de licenciamento do Freeport. É evidente que a central de contra-informação tem alguns pequenos problemas. Não conseguiu explicar até agora porque é que o Ministério Público luso decidiu entrar numa empresa e numa casa de um tio do senhor Presidente do Conselho e tenta atirar para o caixote do lixo uma interessante conversa entre tio e sobrinho em que é denunciada uma tentativa de extorsão de dinheiro.
É obvio que os e-mails enviados pelo primo aos promotores a pedir contrapartidas e as mensagens destes para a empresa a justificar o pedido de avultadas verbas para subornos são, para os contra-informadores, não factos mas apenas peças da tal campanha negra. Neste sítio, pelos vistos, não há corruptos e corruptores. Só há gente que fez fortunas por milagre e uns tantos almocreves que fazem autênticos milagres nas lavandarias do regime.
Há mais de 40 anos
cantava-se assim
e namorava-se, em bailes de garagem,
ao som destas canções.
(Que saudades! E os mais novos não terão inveja?).