Helena Almeida,
série de 9 fotografias pintadas, 1979
Soneto de amor
Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!
José Régio, in
"Eros de passagem", Poesia Erótica Contemporânea,
selecção de Eugénio de Andrade, Campo das Letras, Porto, 1997
A casa do padre:
repare-se nas cantarias de granito das portas,
janelas e varanda;
repare-se nas paredes em blocos de granito
e na varanda com colunas em pedra e tecto de madeira.
O largo do tribunal novo
com as varandas da biblioteca
e as traseiras da casa do padre.
Uma casa tipica da classe média,
com os seus blocos de granito,
as águas furtadas altas e trabalhadas
e a profusão de portas, janelas e varandas.
O antigo tribunal,
todo em blocos de granito.
Um solar
(da família ? -agradece-se a indicação)
grande mas muito harmonioso.
Uma rua de casas recuperadas.
E perguntam os caros leitores: S. Comba Dão - lugar de culto?, porquê?
Contra a v. possível expectativa, por 2 simples razões:
- a primeira, porque foi lá que a minha mulher viveu, cresceu e se tornou mulher;
- a segunda, como homenagem ao meu cunhado Miguel que sempre se manteve ligado a S. Comba, lá construíu casa e lá faleceu, ainda novo, há cerca de 2 meses.
Acresce que a vila apresenta património edificado que justifica a designação de lugar de culto.
Comecemos pela Igreja Matriz:
e continuemos pela ponte que está defronte;
à esquerda, uma bela casa em fim de restauro
à direita, uma vista parcial do casario antigo
para trás, o largo da Biblioteca e do Tribunal.
Nas manhãs de sábado,
no outono,
as ruas de Castelo de Vide
fervilham de actividade:
cães nas varandas
(com botas a secar)
gatos a passear
multidões de velhas comadres
a comentarem os acontecimentos
guaritas medievais
a espreitar e vigiar
o fotógrafo
paredes, portas, varandas e janelas
a espregiçarem-se ao sol
enquanto as flores
irrompem de todos os buracos da calçada
Encantos tamanhos
não há noutro lugar!
Amor, é um arder, que se não sente
Amor,é um arder, que se não sente;
É ferida que dói, e não tem cura;
É febre, que no peito faz secura;
É mal, que as forças tira de repente.
É fogo, que consome ocultamente;
É dor, que mortifica a Criatura;
É ânsia a mais cruel, e a mais impura;
E frágua, que devora o fogo ardente.
É um triste penar entre lamentos;
É um não acabar sempre penando;
É um andar metido em mil tormentos.
É suspiros lançar de quando, em quando;
E quem me causa eternos sentimentos;
É qum me mata, e vida me está dando.
Abade de Jazente, in
"366 poemas que falam de amor", antologia de Vasco Graça Moura,
Quetzal Ed., Lisboa 2004
A vida agitada
dos sábados de manhã,
no outono.
As cores do outono
estendem-se à Igreja Matriz,
sob o olhar atento das
Torres de Menagem e da Igreja de S. João
e de alguns turistas de passagem.
Enquanto a Câmara Municipal
se mantém impávida e serena.
É Castelo de Vide
no seu máximo encanto!
Os lagartos ao sol
Expõe ao sol a perna escalavrada,
no Jardim do Príncipe Real,
uma velha inglesa. Não há nada
tão bonito (pra mim), so natural.
E conversamos: "Heliterapia
medicina barata em Portugal."
Accionista do sol, ajudo à missa:
"But, não muito, que senão faz mal."
Gozosos, eu e a velha, ali ficamos
à mercê de meninos e marçanos.
Ela, a inglesa, de perninha à vela;
e eu, o português, à perna dela.
Tavez que, se Briol nos consevara,
alguém um dia nos ajardinara.
Alexandre O'Neill, in
"De ombro na ombreira", Cadernos de poesia 3, Ed. D. Quixote, 1969
Cesária Évora é como o vinho do Porto.
Aqui em "Rotcha 'Scribida",
com o magnifíco Paulino Vieira
em piano e harmónica.
E fuma! e bebe!
Ai a ASAE!!!
Francisco José Viegas, um poeta (este blogue já publicou vários dos seus poemas) e romancista da família da "esquerda", escreveu este post , no "A origem das espécies", que vale a pena ler:
Ah, país de moralistas e de vigilantes! Claro que fez jeito «a gaffe de Manuela Ferreira Leite». Na verdade, de outra maneira não poderíamos ouvir de novo Alberto Martins com aquela voz de surda indignação e inequívoca superioridade moral (a mesma que o levou a manter-se surdo e mudo a propósito do caso DREN/Charrua, por exemplo – para provar que democracia é só palavreado), a criticar a falta de cultura cívica? Às 15h40 de ontem, o relato do Jornal de Negócios dizia que toda a sala se tinha rido e que se tratava de ironia. Mas – ah! – não se pode ironizar sobre coisas sérias. As coisas sérias devem deixar-se para as pessoas demasiado sérias.
Sim, dá-lhes jeito, como vigilantes de colégio interno, «a gaffe de Manuela Ferreira Leite». Mas não passa disso mesmo: gente com queda para o pequeno escândalo, levantando a virtuosa batina com a pontinha dos dedos, enquanto dão saltinhos junto dos charcos: «Já te molhaste! Já te molhaste!»
P.S.- Claro que há outra imagem para esta onda de escandalizados, e que vai do toque florentino à divisão Panzer: vamos aproveitar o deslize enquanto não nos apanham nos nossos.
Como não me está a apetecer falar sobre Manuela Ferreira Leite, aqui vai uma slecção de textos publicados pelo 31 da Armada
"A presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, perguntou hoje se “não é bom haver seis meses sem democracia” para “pôr tudo na ordem”, a propósito da reforma do sistema de justiça.
No final de um almoço promovido pela Câmara de Comércio Luso-Americana, Manuela Ferreira Leite elegeu a reforma do sistema de justiça “como primeira prioridade” para ajudar as empresas portuguesas.
Questionada sobre o que faria para melhorar o sistema de justiça, a presidente do PSD demarcou-se da atitude do primeiro-ministro, José Sócrates, que “na tomada de posse anunciou como grande medida reduzir as férias do juiz”.
Defendendo a ideia de que não se deve tentar fazer reformas contra as classes profissionais, Manuela Ferreira Leite declarou: “Eu não acredito em reformas, quando se está em democracia…”.
“Quando não se está em democracia é outra conversa, eu digo como é que é e faz-se”, observou em seguida a presidente do PSD, acrescentando: “E até não sei se a certa altura não é bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia”.
“Agora em democracia efectivamente não se pode hostilizar uma classe profissional para de seguida ter a opinião pública contra essa classe profissional e então depois entrar a reformar - porque nessa altura estão eles todos contra. Não é possível fazer uma reforma da justiça sem os juízes, fazer uma reforma da saúde sem os médicos”, completou Manuela Ferreira Leite.
Manuela Ferreira Leite sabe do que fala. Manuela Ferreira Leite foi ministra da educação.
publicado por Rodrigo Moita de Deus às 10:12
Tudo visto e lido, parece que Ferreira Leite terá querido ter um desabafo irónico. Não é grave, revela apenas pouca vocação. O mais preocupante, no entanto, não é isso. O que assusta é Ferreira Leite pensar que bastavam seis meses sem Democracia para endireitar isto. Seis meses? Tudo direitinho? Não me parece. Nem com muita ironia.
publicado por Henrique Burnay às 10:47
A comunicação social voltou a selecionar aquilo que Manuela Ferreira Leite transmite.
publicado por Rodrigo Moita de Deus às 16:16
É impressão minha o nosso venerável Pacheco Pereira parece ter pouca vocação para king ou king maker? Ser líder distrital ou parlamentar correu-lhe mal, ser mentor espiritual da Senhora não está a ser um sucesso.
publicado por Henrique Burnay às 16:47
publicado por Rodrigo Moita de Deus às 17:13
Entre aqueles que percebem e se revêem nas palavras de Manuela Ferreira Leite (no seu sentido sarcástico) e aqueles que concordam com a declaração de Manuela Ferreira Leite (no seu sentido literal), ainda arranjamos uma maioria democrática para governar.
Estava a passar pelo "Dias de um fotógrafo" quando vi esta muito interessante foto que, com a devida vénia, adiante se rapina.
O Financial Times considera Teixeira dos Santos o pior Ministro das Finanças da UE (ver post anterior).
Teixeira dos Santos ainda é o único ministro deste governo que merece algum respeito e credibilidade.
Se alguém lá fora conhecesse gelatinas políticas como o porcelana chinesa da agricultura ou o bimbo das farturas da economia, como os classificariam?
Rapinado, claro!, do "Corte na Aldeia":
SEM COMENTÁRIOS:
Ministro | País | Economia | Política | Estabilidade | Classificação média |
Jyrki Katainen | Finlândia | 4 | 4 | 3 | 3,8 |
Peer Steinbruck | Alemanha | 2 | 11 | 2 | 4,7 |
Jean-Claude Juncker | Luxemburgo | 7 | 9 | 1 | 6,4 |
Anders Borg | Suécia | 9 | 3 | 6 | 6,6 |
Wouter Bos | Holanda | 11 | 4 | 4 | 7,5 |
Jan Pociatek | Eslováquia | 1 | 16 | 16 | 8,5 |
Christine Lagarde | França | 15 | 2 | 5 | 9,1 |
Lars Rasmussen | Dinamarca | 10 | 10 | 7 | 9,4 |
George Alogoskoufis | Grécia | 3 | 18 | 15 | 9,9 |
Wilhelm Molterer | Aústria | 6 | 17 | 10 | 10,1 |
Jacek Rostowski | Polónia | 5 | 15 | 18 | 10,6 |
Didier Reynders | Bélgica | 11 | 12 | 8 | 10,7 |
Miroslav Kalousek | República Checa | 7 | 13 | 17 | 10,8 |
Alistair Darling | Reino Unido | 19 | 1 | 9 | 11,6 |
Giulio Tremonti | Itália | 14 | 7 | 13 | 11,7 |
Janos Veres | Hungria | 11 | 8 | 19 | 11,7 |
Pedro Solbes | Espanha | 16 | 6 | 12 | 12,2 |
Brian Lenihan | Irlanda | 18 | 13 | 14 | 15,7 |
Teixeira dos Santos | Portugal | 17 | 19 | 11 | 16,4 |
Fonte: OCDE, Markit, Comissão Europeia e painel Financial Times | |||||
Nota: 1 = melhor classificação |
E já que falámos em Pedro Caldeira Cabral,
que bem que fica com Graça Morais
e com esse outro grande transmontano
Miguel Torga
Pedro Caldeira Cabral,
em guitarra portugesa
(em homenagem ao músico e à sua irmã gémea - Zica,
minha recente amiga)