Paulo de Carvalho tem (teve) uma das melhores vozes do último meio século, em Portugal.
O seu trabalho, como cantor e como autor de músicas, tem oscilado entre o muito bom e o suficiente menos(...).
Tem, também, o mérito de ter musicado e cantado alguns poemas do muito saudoso (e muito injustamente esquecido!) Fernando Assis Pacheco.
Esta canção, salvo erro com poema do Fernando, além de ser uma bela canção, tem a mais valia de recordar o meu tempo - tempo em que namorar nos cinemas (matinés e soirés, como então se dizia) eram momentos raros de grande prazer e felicidade, como só os cinquentões para cima podem compreender!
Marvão
não é, apenas,
um lindíssimo e bem conservado burgo medieval
e um imponente e espectacular castelo
é, também, um local único
de vigia e de contemplação
de uma paisagem deslumbrante
de dezenas de km por terras de Portugal e de Espanha.
Do alto dos seus 850 ms. de altitude,
(praticamente a pico!)
vê-se o Alto Alentejo, a Beira Baixa e a Extremadura raiana
e não só Castelo de Vide
logo ali à direita, em baixo,
apesar de estar num monte!
Não é a 1ª vez, nem será a última: mais um post rapinado ao "Corte na aldeia"
Ao contrário do que se pensa, o tempo caminha, mesmo no Alentejo!
E eu que o diga; ainda "ontem" cheguei para 2 semanas de férias e já passou uma!
Rapinado do "Corte na aldeia", este poema de Miguel Torga:
Alentejo
A luz que te ilumina,
Terra da cor dos olhos de quem olha!
A paz que se adivinha
Na tua solidão
Que nenhuma mesquinha
Condição
Pode compreender e povoar!
O mistério da tua imensidão
Onde o tempo caminha
Sem chegar!...
Miguel Torga
Mais um texto que merece todo o meu apoio: Mário Crespo no Jornal de Notícias.
O homem, jovem, movimentava-se num desespero agitado entre um grupo de mulheres vestidas de negro que ululavam lamentos. "Perdi tudo!" "O que é que perdeu?" perguntou-lhe um repórter.
"Entraram-me em casa, espatifaram tudo. Levaram o plasma, o DVD a aparelhagem..." Esta foi uma das esclarecedoras declarações dos autodesalojados da Quinta da Fonte. A imagem do absurdo em que a assistência social se tornou em Portugal fica clara quando é complementada com as informações do presidente da Câmara de Loures: uma elevadíssima percentagem da população do bairro recebe rendimento de inserção social e paga "quatro ou cinco euros de renda mensal" pelas habitações camarárias. Dias depois, noutra reportagem outro jovem adulto mostrava a sua casa vandalizada, apontando a sala de onde tinham levado a TV e os DVD. A seguir, transtornadíssimo, ia ao que tinha sido o quarto dos filhos dizendo que "até a TV e a playstation das crianças" lhe tinham roubado. Neste país, tão cheio de dificuldades para quem tem rendimentos declarados, dinheiro público não pode continuar a ser desviado para sustentar predadores profissionais dos fundos constituídos em boa fé para atender a situações excepcionais de carência. A culpa não é só de quem usufrui desses dinheiros. A principal responsabilidade destes desvios cai sobre os oportunismos políticos que à custa destas bizarras benesses, compraram votos de Norte a Sul. É inexplicável num país de economias domésticas esfrangalhadas por uma Euribor com freio nos dentes que há famílias que pagam "quatro ou cinco Euros de renda" à câmara de Loures e no fim do mês recebem o rendimento social de inserção que, se habilmente requerido por um grupo familiar de cinco ou seis pessoas, atinge quantias muito acima do ordenado mínimo. É inaceitável que estes beneficiários de tudo e mais alguma coisa ainda querem que os seus T2 e T3 a "quatro ou cinco euros mensais" lhes sejam dados em zonas "onde não haja pretos". Não é o sistema em Portugal que marginaliza comunidades. O sistema é que se tem vindo a alhear da realidade e da decência e agora é confrontado por elas em plena rua com manifestações de índole intoleravelmente racista e saraivadas de balas de grande calibre disparadas com impunidade. O país inteiro viu uma dezena de homens armados a fazer fogo na via pública. Não foram detidos embora sejam facilmente identificáveis. Pelo contrário. Do silêncio cúmplice do grupo de marginais sai eloquente uma mensagem de ameaça de contorno criminoso - "ou nos dão uma zona etnicamente limpa ou matamos." A resposta do Estado veio numa patética distribuição de flores a cabecilhas de gangs de traficantes e autodenominados representantes comunitários, entre os sorrisos da resignação embaraçada dos responsáveis autárquicos e do governo civil. Cá fora, no terreno, o único elemento que ainda nos separa da barbárie e da anarquia mantém na Quinta da Fonte uma guarda de 24 horas por dia com metralhadoras e coletes à prova de bala. Provavelmente, enquanto arriscam a vida neste parque temático de incongruências socio-políticas, os defensores do que nos resta de ordem pensam que ganham menos que um desses agregados familiares de profissionais da extorsão e que o ordenado da PSP deste mês de Julho se vai ressentir outra vez da subida da Euribor.
Por uma vez (!!!), totalmente de acordo com um texto de Fernanda Câncio publicado no Diário de Notícias.
ANGOLA NÃO É NOSSA
Do"Blasfémias", este post:
Sócrates e Kadafi, tendo ambos salientado a «grande amizade» entre os governos dos dois países (Sócrates, 19 de Julho, Líbia)
O Primeiro-Ministro de Portugal, José Sócrates, considerou ontem “verdadeiramente esmagadores” os índices de crescimento económico que Angola tem vindo a registar nos últimos anos. (Sócrates, 17 de Julho, Angola)
O primeiro-ministro, José Sócrates, agradeceu esta quarta-feira ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o acordo para que a GALP entre na exploração, produção e comercialização de petróleo venezuelano. (Sócrates, 14 de Maio, Venezuela)
José Sócrates considera que a China está a mudar a ordem mundial, é uma das mais pujantes economias emergentes, e que Portugal tem de estar presente, de ter mais empresas na China, independentemente dos juízos políticos que se façam, nomeadamente acerca da situação dos direitos humanos. «Temos de moldar a nossa política externa à medida que vão evoluindo as mudanças geopolíticas (Sócrates, Janeiro 2007, China)
Governo recusa receber Dalai Lama (Setembro 2007, Portugal)
Francisco José Viegas no "Origem das Espécies" escreveu o post que a seguir se publica.
O retrato do primeiro-ministro é o de um gestor em dificuldades, e é pena.
Enquanto deixa aos outros – medíocres – a tarefa de fazer política, ele anda de malas aos tombos, a fazer negócios aqui e ali, em Angola e na Líbia, onde estão mercados ao nosso alcance.
A política está pobre e ele aproveita para captar fundos. Longe do PS doméstico, uma espécie de rumor distante e cacofónico, Sócrates distribui elogios a Eduardo dos Santos e a Khadafi, como se isso não tivesse importância.
Não deve ter, porque daqui a nada vem Hugo Chávez e os dois darão um forte abraço em nome dos negócios e do petróleo.
Portugal transforma-se num cenário atípico da política de emergência, flutuando e vendendo ao melhor preço.
Não é isso que ela, a política, tem sido nos últimos tempos?
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Descobri, hoje, o blogue
de Joana Rosa Bragança
que penso tratar-se de uma jovem pintora/ilustradora
de Olhão (a da Restauração...).
A visitar com atenção.
Para que conste, aqui se publicam 2 desenhos
(O sono e Banhos primaveris)
Muitas vezes em desacordo com as posições e análises politicas de Jorge Careira Maia, a verdade é que, também muitas vezes, me apetece fazer minhas algumas das suas análises.
O texto que se segue merece a minha total concordância.
Excelente, Jorge!
A VER O MUNDO O nosso atraso Há, sobre as causas do atraso de Portugal, um persistente equívoco. A teoria oficial centra-o no défice de formação e de qualificação dos portugueses. Há dias, o ministro Vieira da Silva, em debate com o bispo D. Manuel Clemente, afirmava: "O que precisamos é de atacar o nosso défice mais profundo, que é o défice do conhecimento, da educação e da formação." Como consequência desta teoria, a escola portuguesa, durante a democracia, tem sido vítima das mais tontas intervenções, desde a trágica Reforma de Roberto Carneiro até à fúria persecutória dos docentes por parte do actual governo, passando pela paixão de Guterres. Toda esta gente pensa que a escola é o lugar onde a sociedade portuguesa se há-de redimir. O problema é que, por mais que se mexa na escola, o nosso atraso persiste sem alteração. O que se continua a ignorar é a cultura e a atitude que os portugueses exibem na vida comunitária, é ela que está na base do mau desempenho social, económico, político e também escolar. Que atitude é essa? O Presidente da República, no discurso do 10 de Junho, tocou no problema ao dizer: "Temos de começar por ser exigentes e rigorosos connosco". O problema de Portugal não é a falta de conhecimento e de educação escolar; é, antes, a falta de rigor e de exigência que os portugueses colocam naquilo que fazem, incluindo na escola. Um país que tem por lema a expressão «desenrasquei-me» pode ser muito «desenrascado», mas nunca passará de um país medíocre. Onde deveria haver trabalho sério, profundo e continuado, há um mero «desenrascanço». Portugal é assim o lugar onde até as coisas que aparentam ser bem feitas estão cheias de buracos, truques e armadilhas escondidos, que se manifestarão na primeira oportunidade. O problema não é a falta de escolarização, mas a forma como lidamos com a vida. Se não queremos nem gostamos de estudar é porque estamos convencidíssimos, devido à experiência social, que o conhecimento serve para pouco e o que interessa mesmo é que o pessoal se «desenrasque», seja lá como for. Mas onde assenta esta cultura lusíada do «desenrasca»?
http://averomundo-jcm.blogspot.com
Jorge
Carreira Maia
Via "A Ver o Mundo", blogue de frequência diária, este poema de Jorge Carreira Maia
A viagem tem
um sabor de cal
quando vou por ti,
na rua, deslumbrado.
Oiço então os pássaros
que o Inverno traz
e no seio da terra
logo se escondem.
Vejo-os vivos, pálidos,
infelizes mármores
que da pedra foram
por tuas mãos libertos.
Cantam livres do
coração que assim,
com tão doces modos,
em mim os prendeu.
Jorge Carreira Maia,
Pentassílabos, 2008