Em gestão corrente ...como o País...

Maio 11 2008

         

   Ontem, o "Geração 60" publicou este post que não resisto a rapinar.

O guardador de sonhos.



   Malograda a fuga para a frente que foi o regresso de Camacho, Luís Filipe Vieira não perdeu tempo enquanto não lançou o mítico Rui Costa como uma oportuna cortina de fumo para tapar o total desnorte em que se encontra o futebol do Benfica. Mas ciente que dimensão da tragédia é bíblica, logo se entreteve a acenar com a ideia de um fundo de 60 milhões para construir mais um «dream team». Só que a massa tende a não aparecer e é preciso manter a malta entretida até ao próximo plebiscito. Vieira regressa ao baú das memórias felizes da nação benfiquista e desenterra desta vez o «special one» Eriksson.
   Que mais glórias benfiquistas se prestarão ao ingrato papel de escudos humanos de um homem que tinha obrigação de perceber que o seu tempo acabou? Já faltou mais para que alguém se lembre de contratar o espírito do Bella Gutman.

     


 

emgestaocorrente às 23:01

Maio 11 2008

 

A pressa 

           

A pressa

com que se despe

             

Nem na alma lhe  apetece

qualquer veste

           

A pressa

com que se despe

      

Até da carne e da pele

se pudesse

         

David Mourão-Ferreira

in "Obra Poética"

            


 

emgestaocorrente às 17:42

Maio 11 2008

     

TARDE

 

 

Teus olhos húmidos eram lagos

em que nosso desejo se mirava.

Tua boca entreaberta era a mensagem

do teu corpo moço que se dava. 

Teu hálito quente

embrulhado de desejo

vinha de não sei lá que profundezas

em que de amor tuas entranhas se abrasavam.

E havia, amor, a envolver-nos,

essa solidão enorme

entre pinheiros, céu e terra quente

da tarde que dorme ... 

João José Cochofel

in "Obra Poética"

     


 

emgestaocorrente às 17:24

Maio 11 2008

 

Através do "Bicho Carpinteiro", conheci o "Corte na aldeia" donde retirei, com a devida vénia, este post.

      

Coisas dignas de castigo

           

 


Nenhum corpo mais lácteo e sem defeito,
mais róseo, escultural, ou feminino,
pode igualar-se o seu branco e divino
imóvel, nu, sobre o comprido leito! -

Nada se lhe iguala! - O ferro do assassino
podia, hoje, matá-la, que o meu peito
seria o esquife embalsamado e fino
daquele corpo sem rival, perfeito.

Por isso é muito altiva e apetecida.
E o gozo sensual de a ver vencida
há-de ser forte, estranho, singular...

Como o das coisas dignas de castigo
- ou qual amante sarcedote antigo,
derrubando uma deusa de um altar.


Gomes Leal
           

emgestaocorrente às 16:17

Maio 09 2008

     

   Ontem dormi uma valente sesta até à hora de jantar.

    

      

   A certa altura acordei com muito barulho e vi que a Tita e o Gô estavam a jantar lá em casa.

   Saltei logo para o colo da minha Tita que me levou a um sitio da minha casa onde aparece uma menina igualzinha a mim e com quem gosto muito de brincar; o mais engraçado é que essa menina tem uma avó igualzinha à minha Tita!

       

     

 

   Depois fui brincar para o colo da minha irmã Sofia.

                 

  

         

   Mas de repente deu-me a fome e destei a chorar.

                

     

   O meu pai ainda tentou acalmar-me, mas ele não tinha o que eu queria!

     

      

   Então, a minha mãe pôs-me ao colo e deu-me de mamar.

   Fiquei logo outra!

   Até desatei a rir, embora sempre atenta à Sony do meu Gô (gosto de ficar de frente!).

   

        

     

   Depois votei para o colo da minha irmã.

     

     

   Nessa altura o meu Gô já estava com sono e a dizer que tinha de ir para casa dormir, porque se levanta às 6h30 para ir para o hospital.

   Foi nessa altura que ele e a Tita deram os parabéns aos meus pais e fiquei, então,  a saber que fiz 3 meses de idade.

   Há idades melhores?

   Não sei, mas depois digo-vos.

   Até à próxima crónica!

             


 

 

emgestaocorrente às 23:31

Maio 09 2008

       

   A PJ era uma policia com prestigio e credibilidade, mesmo durante a ditadura salazarista.

   Mantinha-se afastada da "politica", era estável e discreta e, normalmente, resolvia os casos criminais com rapidez.

   Hoje temos uma policia instável, que muda constantemente de direcção (6 Directores em 10 anos - nenhum deles completou o mandato!!!), que ao fim de 1 ano de desaparecimento da pequena Madie não faz a mínima ideia do que lhe aconteceu (a policia espanhola encontrou a pequena Mariluz, no fundo do mar, em pouco mais de 1 mês) e que parece estar completamente politizada e, pior, ao serviço de estratégias partidárias (Casa Pia e não só).

   Por outro lado, a "Justiça", que tem dominado a PJ (os seus dirigentes máximos têm sido magistrados), desde que foi ocupada pelos inúmeros "laborinhos" que por aí pululam, dedica-se preferencialmente a julgar velhinhas acusadas de furtos nos Lidl no valor de 1 ou 2 €, a sistematicamente deixar prescrever as grandes fraudes (Partex, UGT) e a proferir sentenças em que condenam pessoas por se presumir que tenham praticado determinado acto, numa data desconhecida mas que se presume ter ocorrido entre ... e ... (vários anos atirados ao acaso), presumindo-se um valor entre ... e ... (mais números atirados ao acaso!) - juro que já li sentenças assim redigidas e confirmadas pela Relação e pelo Supremo!!! Provas? Para quê? Presume-se e atira-se para a cadeia!!!

   Publicam-se, a seguir e com a devida vénia, 2 post do "Blasfémias" sobre a "Justiça" portuguesa.

       

A propósito do resto do país de que fala o CAA

Publicado por helenafmatos em 8 Maio, 2008

Algo mais poderia ter sido feito a este nível” – lê-se, segundo o “Correio da Manhã”, no acórdão da Relação de Lisboa que anulou a pena de 25 anos de prisão a que fora condenado Franquelim Lobo. O caso deste homem que nos foi apresentado como o maior traficante de droga português é exemplar de como (não) se acusa, (não) se condena e (não) se absolve em Portugal. O primeiro julgamento, aquele em que Franquelim foi condenado a 25 anos de prisão, foi anulado porque a acusação fundamentava-se em escutas que afinal seriam ilegais. Na repetição do julgamento a prova baseou-se no depoimento dum ex-cúmplice que se terá provado ter prestado falsas declarações. A outra prova era um telemóvel que se demonstrou estar desactivado à altura dos factos: “Nem sequer se fez um despiste do contacto telefónico, para saber da utilização do mesmo.” - concluem os juízes da Relação. E os portugueses podem concluir o quê? Que um criminoso pode agradecer a erros vários da acusação o ser ilibado ou que um inocente pode ser acusado de crimes gravíssimos com base em provas como um telemóvel que nem sequer se verificou se estava activado em deteminada data? E no fim, perante tanta inoperância, tudo se resume a um “Algo mais poderia ter sido feito a este nível”? Todos os dias em Portugal se criticam os serviços de saúde e o ensino público. É certo que o primeiro gere mal e o segundo apresenta maus resultados. Mas nada desses erros se assemelham ao falhanço clamoroso que actualmente se regista na investigação criminal e na Justiça. A “este nível” está perigosamente a perder-se a noção da realidade.

*PÚBLICO, 6 de Maio

Publicado em Geral | 36 Comentários »

      

Como o resto do País *

Publicado por CAA em 8 Maio, 2008

Quando fui advogado surpreendi-me com o modo primitivo como se fazia a investigação criminal em Portugal. Garantem-me que agora é muito pior. As condições de trabalho das polícias (todas) estão ao nível da indigência. Mas o pior é a desmotivação de quem está no terreno. Falar com um agente da PJ, hoje em dia, é uma experiência psicológica ainda mais aflitiva do que ouvir as histórias de professores em escolas problemáticas.
Claro que a culpa não é de Alípio Ribeiro. Nem deste ministro. Como sempre, entre nós, ela distribui-se por todos os vivos e os mortos – preferencialmente, estes últimos – sob a égide do princípio geral da irresponsabilidade pública.
Alípio Ribeiro voltou a falar de mais. Foi tão desastrado que ficou claro que a sua intenção era sair. Tal como tantos outros. Fugir dali para fora: esse é o elemento comum entre o topo e a base da PJ.

* Correio da Manhã, 7.V.2008

Publicado em Portugal | 8 Comentários »

                  


 

 


Maio 09 2008

        

   Mais uma excelente crónica de José Ricardo Costa no Jornal Torrejano de ontem.

      

Quando, há tempos, chegou a vez de apresentar Descartes nas minhas aulas de Filosofia, decidi começar por falar de D. Quixote e dos seus famosos moinhos de vento. Eu tinha a noção de o D. Quixote ser aquele livro que, embora quase ninguém tenha lido, toda a gente conhece.

Não foi por acaso que falei nele. Descartes, na brincadeira, claro, parte do princípio de que tudo o que vemos no mundo poderá ser fruto da ilusão, do sonho, da loucura, o que, diga-se de passagem, pode ter vantagens e desvantagens.

Se desanima pensar que a Monica Bellucci pode não passar de um produto da nossa febril imaginação, há também a esperança de o ministro Silva Pereira poder não existir e ser apenas um boneco da Nintendo.

Ora bem, ninguém conhecia o episódio dos moinhos de vento. Fiquei em estado de choque. Ainda tive uma réstea de esperança: Sancho Pança? Sim?...

Não. Sancho Pança era-lhes tão familiar como Witold Lutoslawski e se eu dissesse que os moinhos de vento de La Mancha eram uma versão espanhola da nossa estação do Oriente, projectados por um arquitecto espanhol chamado Santiago Calatrava, ninguém iria reagir.

Há poucos dias, noutra turma, pedi aos alunos que me entregassem uns trabalhos por correio electrónico. Os professores, agora, são obrigados a serem modernos e fica bem no currículo dizer que se usam as novas tecnologias mesmo que os alunos possam não saber ler e escrever.

Na brincadeira, disse que não queria que me enviassem vírus. Um aluno, também na brincadeira, disse que iria mandar um "cavalo de Tróia" (um tipo de vírus). Eu, ainda na brincadeira, disse que não valeria a pena pois não tinha lá em casa nenhuma Helena para resgatar.

A brincadeira acabou ali. O aluno olhou para mim como se estivesse a olhar para um pós-estruturalista e eu, para o salvar, perguntei pela guerra de Tróia. Nicles. Ulisses? Nicles. Aquiles? Nicles. Eu, já desesperado, insisti:

– Mas sabe ao menos que raio de coisa é o cavalo de Tróia?

– Sei.

Animei-me um pouco

– O que é, então? – perguntei.

– Um vírus.

Há quem chame a isto ignorância. A famosa ignorância da juventude actual. Tenho as minhas dúvidas e vou explicar porquê.

Se um português normal não souber o que foi a batalha de Aljubarrota, é ignorante. Todos os portugueses normais estudaram História e, se não sabem isso, não sabem uma coisa que seria suposto saberem. Pronto, é ignorância.

Se um estudante de arquitectura não souber quem é Nadir Afonso, é ignorante. Se um professor de Português, de Filosofia ou de Física não souberem coisas básicas relativas às suas áreas, são ignorantes.

A ignorância mede-se pelo grau de expectativas. Eu não posso considerar ignorante um agricultor que nunca ouviu falar de Descartes. Seria ignorante, sim, se não soubesse qual a melhor altura do ano para semear alfaces. Como seria ignorante um professor de Filosofia que não soubesse falar de Descartes.

O que se passa com os nossos jovens, actualmente, não é um problema de ignorância. É um problema de isolamento. Eles não podem saber aquilo de que nunca ouviram falar. Eles sabem cada vez mais o que nós não sabemos e o que nós sabemos eles sabem cada vez menos.

A culpa não é só deles. É dos pais, porque têm mais que fazer. Mas é também da escola. A escola, por um lado, deixou de valorizar o saber e o conhecimento. É cada vez mais uma escola de Estudo Acompanhado, da Formação Cívica, da Área de Projecto, aberrações pedagógicas que acabam por contaminar as outras disiplinas.

Por outro lado, os professores, numa escola que despreza o saber e o conhecimento, acabam também por desvalorizar o saber e o conhecimento. Eu sou professor de Filosofia e, hoje, não preciso de ler absolutamente nada para o poder ser. Não precisaria de ler mais nada para além da TV Guia, para ser o professor de Filosofia que me pedem para ser.

É assim que as coisas estão e já deu para perceber que é assim que vão continuar a estar. E não é nada fácil lutar contra cavaleiros perigosos que gostam de se disfarçar de românticos moinhos de vento.

josericardoccosta@gmail.com

          

Moinhos de Vento


Maio 06 2008

            

   Perdoem-ne a babosice de avô, mas a minha neta Sofia também tem um blogue.

   Podem visitá-lo em "Sofiices".

           


emgestaocorrente às 22:36

Maio 06 2008

                                  

      

Os Beatles nos anos 60

Quem não sente saudades?

     


 

emgestaocorrente às 22:16

Maio 06 2008

                 

Expresso on-line

           

Madeira
Protesto de deputado PND suspende sessão da Assembleia Legislativa
José Manuel Coelho apresentou-se na sessão plenária com um relógio de cozinha pendurado ao pescoço numa acção de protesto contra o projecto de alteração do Regimento da ALM.
 

Os trabalhos da sessão plenária da Assembleia Legislativa da Madeira (ALM) foram hoje suspensos devido a uma acção de protesto do deputado do PND-M, José Manuel Coelho.

Este deputado apresentou-se na sessão plenária com um relógio de cozinha pendurado ao pescoço numa acção de protesto contra o projecto de alteração do Regimento da ALM em preparação pelo PSD-M, que alegadamente retira tempo de intervenção aos partidos da oposição nas suas intervenções e pedidos de esclarecimento (três minutos para tudo).

"Tenho que controlar o meu tempo", disse José Manuel Coelho apesar da insistência do presidente da ALM em exercício, Paulo Fontes, instruindo o deputado para que retirasse o relógio do pescoço ou então que saísse do plenário.

Apesar das duas advertências de Paulo Fontes, a sessão foi suspensa por 15 minutos para uma conferência de líderes e depois encerrada dada a manutenção da posição do deputado José Manuel Coelho.

Os deputados do PSD-M abandonaram a sessão plenária por considerarem "não haver condições de trabalho".

PSD-M, CDS/PP-M, PS-M e BE-M opuseram-se a esta forma de protesto e apelaram ao deputado para que se manifestasse por via da palavra mas não daquela forma que "não dignificava a assembleia".

         

Maio 06 2008

         

   Os candidatos à presidência do PSD, revistos pelo "Blasfémias"               

 

                      


emgestaocorrente às 22:04

Maio 06 2008

         

   Do blogue "A origem das espécies", de Francisco José Viegas, este olhar distante (em termos partidários), mas que permite uma interessante reflexão. 

           

||| Reler.
     
   A entrevista de Pedro Passos Coelho a António Ribeiro Ferreira, no CM de ontem, é um marco na história do PSD e é natural que suscite entusiasmo. Não sei onde andou Passos Coelho até agora mas, se esteve a estudar a lição, foi tempo bem empregue. Reconhece-se a sua filiação ideológica, mas percebe-se que o PSD das suas facções tradicionais não tem ali lugar. Também não se sabe até que ponto os militantes do partido, os que têm direito a voto, estão despertos para esse tipo de discurso e de ideias. É provável que a partir de agora ele venha a ser visto como o candidato com ideias mais modernas e dê voz ao eleitorado flutuante do PSD (a classe média das cidades) mais do que às concelhias – que têm sido um factor de atraso estrutural do partido. Se isso basta para ganhar as directas, não se sabe. Mas depois de ter dito o que disse está aberta a porta para a reforma antecipada dos dinossauros, de Santana a Jardim, passando por Menezes e pelo hemiciclo laranja de hoje.
[Da coluna do Correio da Manhã.]


Categorias: política


[ Publicado por FJV ]
           

Maio 05 2008

              

 Pedro Correia  no "Corta-fitas", com a devida vénia:   

        

Pedro Passos Coelho

Pedro Passos Coelho, ouço dizer e vejo escrito a todo o momento, é demasiado jovem e inexperiente para poder liderar o PSD e ainda mais para assumir o cargo de primeiro-ministro. Vai fazer 44 anos. Recordo: Francisco Sá Carneiro tinha 39 anos quando fundou o PPD e 45 anos quando chegou a primeiro-ministro. Aníbal Cavaco Silva tinha 40 anos quando assumiu a pasta das Finanças no primeiro Governo da Aliança Democrática e 45 quando chegou a líder do partido. Durão Barroso ascendeu à presidência dos sociais-democratas com 42 anos. E olhemos para Espanha: Rodríguez Zapatero assumiu a liderança do PSOE em 2000, com 39 anos. Quatro anos depois, venceu as legislativas e tornou-se presidente do Governo espanhol. Sem ter desempenhado funções governativas até então.

Daqui se conclui que, ao contrário do que garantem os "analistas" dos costume, Pedro Passos Coelho não é demasiado jovem nem a sua alegada inexperiência governativa o diminui politicamente, como o exemplo de Zapatero tão bem demonstra. E o facto de não ter sido ministro de Barroso e de Santana acaba por funcionar afinal a seu favor. Direi mais: é um verdadeiro atestado de competência.


Etiquetas: politica-psd


publicado por Pedro Correia
     

emgestaocorrente às 19:05

Maio 05 2008

   

   Ainda em reflexão, como muitos outros companheiros, encontrei este post no "Blasfémias", que nos dá algumas pistas que podem ser importantes para uma decisão.

   Com a devida vénia.      

Analogias ou imitações * (com Adenda)

Publicado por CAA em 5 Maio, 2008

        

                      

Em Setembro de 2004 o PS fez a sua escolha em directas. Manuel Alegre era o revivalismo da esquerda, feito de baladas fora de época e de romagens aos cemitérios – locais, aliás, onde as suas ideias pareciam fazer mais sentido. João Soares era um filho do partido, com uma imagem muito cultivada de modernaço habituado aos corredores do poder. Depois vinha Sócrates. Tinha pouco currículo. Também era um menino do partido, onde se tinha feito gente. Mas sem pedigree político. Nem preparação especial ou profissional. A sua experiência de vida limitava-se àquilo que o ‘aparelhês’ lhe tinha oferecido. É certo que já tinha sido ministro – só que de Guterres, naquele que foi o pior Governo que a nossa democracia consentiu.
Mas percebeu-se logo uma fronteira: Alegre e Soares representavam o passado; Sócrates era o candidato de um PS novo, capaz de atrair eleitores que raramente preferiam os socialistas.
Agora, nas directas do PSD, as coisas podem não ser muito diferentes. Ferreira Leite e Santana Lopes são a repetição de soluções já ensaiadas num arrepiante déjà vu. De modos distintos, simbolizam aquilo que o PSD foi desde 1995: um partido sem ideias, emaranhado em lutas intestinas obsessivamente fulanizadas e com péssimos resultados governativos.
Passos Coelho é o único que mostra alguma inovação ideológica no discurso e na atitude. Só ele faz pensar que, após as directas, o seu partido pode virar a triste página em que está. Tal como Sócrates em 2004.

* Heresias, Correio da Manhã, 4.V.2008

                    

ADENDA: Já depois deste artigo, li estas declarações de Passos Coelho. Tal como escrevi aqui, face à possibilidade de vitória o grande perigo é que PPC procure ser igual aos seus adversários. O centralismo está outra vez na moda, desta vez na versão perfidamente chamada ‘descentralização política’ - o que significa que o Governo central mantém os poderes administrativos intactos enquanto oferece alguns rebuçados de vago cariz político. Nesse modelo, Portugal permaneceria como o país mais centralizado da Europa. O que PPC vem defender é a manutenção do status quo. Nem mais nem menos.

Publicado em Partidos, Política nacional | 23 Comentários »

             


 


Maio 05 2008

          

   Com a devida vénia, aqui rapino um extraordinário texto de José Pacheco Pereira sobre o desemprego das mulheres e suas consequências, para elas e para  o país.

   Sem dúvida, um texto vintage, como só José Pacheco Pereira é capaz (mesmo quando com ele não se concorda).

   Foi publicado no Público e no "ABRUPTO" 

     

4.5.08


(JPP)

DESEMPREGO



Pelo meu intratável e malévolo esquerdismo genético, que evidentemente nos ex-esquerdistas é considerado um defeito de carácter (nos direitistas, antigos fascistas ou "situacionistas", pelos vistos não é, porque ninguém os acusa de estarem presos psicologicamente ao seu passado, bem pelo contrário podem ser democratas sem mancha e sem memória), sempre insisti nas campanhas eleitorais em que participei em visitar as fábricas, em encontrar os trabalhadores "à saída das fábricas" e em escapar ao interminável percurso pelas "instituições de solidariedade social", ou seja, lares de idosos cujo director era dos "nossos".

Poucas coisas mais deprimentes aconteciam do que ouvir um zeloso director a falar com uma velhinha - "sabe que a Mariazinha tem noventa e cinco anos e ainda canta, canta aqui ao senhor deputado, canta" - e desejar veemente que a terra se me abrisse à frente e enviasse a senhora Maria para o Céu, onde certamente está, e a mim para o Inferno, porque entre as suas piores penas não está assistir à humilhação alheia, de quem já não tem defesa do seu querer. Talvez a senhora Maria gostasse daquela última atenção e seja eu que esteja enganado, mas é por essas e por outras que abomino o populismo e não sirvo para certas coisas.

Voltemos à "saída das fábricas", lugar que se tornou maldito depois do dr. Menezes dizer que aí estaria em permanência. Nessas campanhas eleitorais passei por várias grandes fábricas, não só em dimensão como no número de trabalhadores que, já na altura, não abundavam no país, cuja desindustrialização fizera desaparecer muitas que a nossa sempre débil industrialização tinha feito. Todas essas fábricas, todas sem excepção, desapareceram nos últimos dez anos. Em tão poucos sítios é possível ver a história a fazer-se como se fosse um filme acelerado. Estava lá ontem, hoje já não está.

Eu, que sou portuense, sabia que poucas coisas se abatem mais rapidamente do que as grandes fábricas. No Porto, tudo o que era amplo espaço urbanizável nas décadas de setenta e oitenta estava no lugar vazio de uma grande fábrica, quase sempre têxtil, e as novas urbanizações para a classe média alta tinham o nome das fábricas como a William Graham na Avenida da Boavista. (ver foto) Desaparecidas as fábricas têxteis de Salgueiros, da Torrinha, das Sedas, para além das fábricas de fósforos e de cerveja, a cidade substituía as imensas construções fabris por apartamentos. Num artigo do Expresso, um dos primeiros escritos em Portugal sobre a salvaguarda do património industrial, ainda tentei que se preservasse alguma coisa da Fábrica de Salgueiros, um exemplar típico da arquitectura industrial então em ruínas, mas o efeito do artigo foi que o que sobrava foi deitado abaixo logo a seguir, não fosse haver alguém que se lembrasse de prestar a atenção à nova (por cá) concepção de arqueologia industrial e dificultasse o caminho aos bulldozers.


Esta semana, com o despedimento de centenas de trabalhadores da Yasaki Saltano de Gaia, recordei-me de outra grande fábrica desaparecida, a Clark"s de Castelo de Paiva, uma daquelas onde estive "à saída da fábrica". Por muito boa vontade que se tivesse em fazer política, distribuir uns papéis, falar com pessoas, na "saída das fábricas", a Clark"s era um sítio péssimo para o fazer. A saída era espectacular, mas muito, muito, rápida. Nos breves momentos que durava, um mar de raparigas, mulheres jovens e na meia-idade, o maior número de gaspeadeiras que alguma vez vi na vida, saía como uma mola das portas interiores e corria, literalmente corria, para os portões e desaparecia pelas ruas e caminhos, em motocicletas, algumas em carros. Dez minutos depois, não havia ninguém e os papéis dados à pressa no meio daquelas almas fugidias desapareciam com elas tão depressa como a noite se punha.

A corrida tinha uma razão de ser, iam para casa o mais cedo possível cuidar dos filhos e do marido, cuidar da casa, não tinham tempo a perder com políticas. Como na Yasaki Saltano, a maioria dos trabalhadores são trabalhadoras, mulheres, muitas bastante jovens, muitas com poucas qualificações e que abandonaram a escola antes do tempo, a face visível do "insucesso" e do "abandono escolar", para irem trabalhar e constituir família numa idade em que os mais abastados ainda se arrastam pelo 12.º ano ou pelos primeiros anos da universidade e vivem em casa dos pais. A atracção do emprego e da família, da "sua" família, marido e filhos, não é apenas motivada pela necessidade económica, mas sim pela procura de autonomia, de uma vida própria na teia demasiado densa das famílias ainda próximas da ruralidade. Castelo de Paiva não é propriamente o centro do mundo urbano e Gaia ainda tem muitas aldeias.

O desemprego é devastador para todos, mas é-o mais para estas mulheres jovens e de meia-idade. Não é apenas a sua condição económica, a sua condição de vida que é afectada, é também a sua autonomia como mulheres, a sua capacidade de terem no salário e no emprego uma vida e uma dignidade próprias como mulheres, num mundo em que esta afirmação ainda é crucial. Recebida a notificação do desemprego, passado o período da agitação, as notícias e contranotícias de que pode haver um plano de integração na fábrica ao lado, ou a cinquenta quilómetros dali, que pode haver um supermercado que as aceite prioritariamente, que a câmara vai cuidar delas, que os sindicatos vão obter uma melhor indemnização, etc., etc., chega uma altura em que acabou. Acabou mesmo, está desempregada.

Nesse momento, em que o dinheiro que se levava para casa começa a faltar, a mulher começa a fazer contas e a cortar nas despesas. E não corta no pão, no infantário, na luz, na casa, no telemóvel - há-de vir a cortar - corta nas suas despesas, nas despesas consigo. Vai menos vezes ao cabeleireiro, arranja-se menos, compra menos roupa, tudo coisas que parecem fúteis para quem tem tudo, mas que representam um caminho para uma menor auto-estima, um desleixo que pode vir a crescer com os anos, se passar definitivamente de operária a dona de casa. É um caminho invisível, um passo atrás em que ninguém repara a não ser as próprias.

Elas sabem o que é não ter emprego, ou ter que mudar para outro emprego menos qualificado, mais solitário, mais dependente, socialmente menos reconhecido. Elas sabem que podem fazer menos coisas sozinhas, com o seu dinheiro, sem prestar contas a ninguém. Elas sabem o que significa ficar mais dependente do marido ou dos pais, ter menos esperança para os filhos, desistir de coisas que achava até então possíveis: umas férias baratas no Algarve, um carro melhor, mais visitas às lojas do Arrábida Shopping, não para ver as montras, mas para entrar lá dentro e comprar aquela roupa para o "bebé", ou aquela blusa. E sabem que saem menos e vêem mais televisão.

O desemprego pode suscitar mil e uma discussões teóricas, e ser inevitável como "destruição criadora", como "reconversão" da nossa economia, como efeito de políticas erradas que assentam na ilusão de um "modelo social europeu" insustentável face à natalidade e à globalização, tudo isso. Também eu penso que a deslocalização das fábricas é inevitável e que muito tecido industrial que temos não resiste à realidade da economia actual e que, com a nossa baixa qualificação da mão-de-obra, não temos a plasticidade para encontrar alternativas que tornem "criadora" a "destruição" schumpeteriana. A trabalhadora da Yasaki Saltano que disse que ia aproveitar a "oportunidade" para completar o 12.º ano tem toda a razão e aponta o caminho, mas nem por isso deixa de ter todas as dificuldades e não é certo que possa vir a poder utilizar as suas novas qualificações.

Mas nem por não se ter qualquer solução a curto prazo, a sociedade, nós todos, devemos deixar de olhar para cada um destes desempregos colectivos de mulheres sem a preocupação de vermos e sentirmos a devastação que ele tem por trás, o atraso social que isto significa para Portugal. Estas mulheres não vão educar os seus filhos da mesma maneira, vão reproduzir melhor o Portugal antigo do que preparar o novo. Elas sentem que falharam, tinham algumas ilusões que perderam. Mas nós falhamos mais se não temos a consciência de fazer alguma coisa. Porque se pode, na acção cívica, no voluntariado, no mundo empresarial, na política, fazer muita coisa por estas mulheres. O que é preciso é vê-las e à sua condição e não as cobrir com o manto diáfano da inevitabilidade. A começar pelo Governo, que mais uma vez se vai voltar para o betão e não para as pessoas.


(Versão do Público, de 3 de Maio de 2008.)


(url)

          


 


Maio 04 2008

          

             


 

emgestaocorrente às 20:31
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emgestaocorrente às 12:35

Maio 04 2008

     Segunda-feira, Abril 28, 2008

Tear

 

        
 Num reino de bruma, entre os ramos
de árvores quase secas e breves trilhos,
o ar libertava uma vaga espuma,
e a luz soltava líquidos brilhos.

Numa clareira, sombras de saudade
caíam sobre arbustos rasos, e um canto
de campo enchia de sede os vasos
que o tempo partiu num dobrar da idade.

Colhi antigas papoilas, e colei-as
no álbum do horizonte, com o cuspo
do poente, enquanto uma voz distante
rezava o fim de uma oração doente.

E na água parada da lagoa, com os
braços soltos como remos sem uso,
uma parca branca vogava, à toa,
tecendo o destino na linha do seu fuso.

 


 

emgestaocorrente às 10:04

Maio 02 2008
                                              
             
De volta à pintora Graça Martins,
de quem me tornei fã.
   
The Key, 83x60, acriico e colagem s/ tela
     

emgestaocorrente às 16:21

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