Este homem que esperou
Este homem que esperou
humilde em sua casa
que o sol lavasse a cara
ao seu desgosto
Este homem que esperou
à sombra de uma árvore
mudar a direcção
ao seu pobre destino
Este homem que pensou
com uma pedra na mão
transformá-la num pão
transformá-la num beijo
Este homem que parou
no meio da sua vida
e se sentiu mais leve
que a sua própria sombra
António Ramos Rosa, in
"Viagem através de uma nebulosa", Ed. Ática, 1960
Alentejo
A luz que te ilumina,
Terra da cor dos olhos de quem olha!
A paz que se adivinha
Na tua solidão
Que nenhuma mesquinha
Condição
Pode compreender e povoar!
O mistério da tua imensidão
Onde o tempo caminha
Sem chegar!...
Miguel Torga, 1974, in
"Antologia Poética"
Ternura
Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
David Mourão-Ferreira, in
"Obra Poética"
Prepare-se para uma noite de tempestade.
Acenda a lareira,
feche as persianas,
tire um Porto da garrafeira
e ouça Norah Jones
No Central Park de Nova York,
nos anos 80,
perante um milhão de pessoas
(vintage dos anos 60)
Rui Gomes da Silva é um dos muitos deputados anónimos que decoram a Assembleia da República há várias legislaturas sem que ninguém dê por eles; neste caso , perpetua-se no grupo parlamentar do PSD.
Ninguém lhe conhece uma ideia para o país.
Durante anos, intermitentemente, e com longos intervalos, o seu nome apenas aparecia ligado a movimentos de facções no Benfica.
Com a ascenção de Pedro Santana Lopes, o seu nome apareceu como seu indefectível, manobrando, na sombra, o caminho do seu protector.
Nas circunstâncias conhecidas (fuga de Durão Barroso para o El Dorado europeu), PSL ascendeu a primeiro ministro e o seu fiel sevidor a ministro de qualquer coisa (alguém se lembra?).
Continuou o seu silêncio ensurdecedor sobre o país e os seus rumos (ou falta deles).
Um dia, farto de ser mais um anónimo a quem ninguém ligava importância, aproveitou uma ida a Viseu para dizer uns dislates sobre televisão e Marcelo Rebelo de Sousa.
Caíu o Carmo e a Trindade e o ilustre desconhecido virou capa de revista e de jornal. Pelo ridículo? Não interessa, falou-se dele!
Regressado ao limbo dos desconhecidos anónimos, anteviu o regresso à ribalta com a candidatura de Luis Filipe Meneses à presidência do PSD.
Tornar-se uma sombra obcessiva de LFM aconteceu num ápice.
Com o mesmo fervor com que corria atrás de PSL passou a seguir a sombra de LFM; e apesar do seu servilismo ter sido recompensado com um lugar de topo na cupula politica do PSD, a verdade é que a ninharia politica que era, ninharia politica continuou.
Assim, como ganhar protagonismo e agradar ao chefe?
Um dia, soube por uma personagem igual à sua, com a única diferença de ser do Porto (alguém reteve o seu nome? - Branquinho, parece), que uma senhora chamada Fernanda Câncio, jornalista do Diário de Noticias, cuja principal notoriedade parecia ser a de manter uma relação de namoro (?) com o "Eng.º" José Sócrates, iria ser contratada para colaborar num programa da RTP.
Apesar da RTP, como aliás as outra televisões, estar cheia de nulidades, aqui d'El Rei que esta era uma nulidade que não podia ser contratada!
E porquê? Porque fazia propaganda do governo e namorava com o primeiro ministro!
Francamente! O 1º argumento não estava demonstrado, visto que ainda não foi transmitido qualquer programa; não passa, pois, de um processo de intenções, o que é democráticamente condenável; o 2º é ridículo e impróprio de uma mente sã.
Assim, com colaboradores destes, meu caro Luis Filipe Meneses, não é preciso ter inimigos e o Sr. Pinto de Sousa estará descansado com os resultados das próximas eleições.
PS (abrenúncio!):
Declaração de interesses:
É impossível ficar indiferente à constituição do novo governo de Zapatero. Anunciado ontem oficialmente perante uma bateria de jornalistas, fotógrafos e câmaras de TV, ficámos a saber que há mais ministras do que ministros e que, pela primeira vez em Espanha, há uma mulher na pasta da Defesa.
Carme Chacón, 37 anos, grávida de 7 meses, foi a estrela do dia. Passou revista às tropas perfiladas com o seu antecessor ao seu lado, e soube manter a pose e o aprumo que a circunstância exigia. A passagem de testemunho entre ministros da Defesa teve um impacto brutal em quem assistiu. Primeiro pela circunstância de Carme ser mulher e depois por estar à espera de um filho que nasce daqui a dois meses.
Esta primeira imagem oficial de Carme Chacón fez disparar instantaneamente a popularidade de Zapatero e do seu novo governo. Mas houve mais! Zapatero apostou forte e decidiu criar uma nova pasta: o Ministério da Igualdade.
Bibiana Aído, de 31 anos, é a nova Ministra do novo Ministério da Igualdade e a sua nomeação não deixa de ser igualmente surpreendente. Passe a redundância, a realidade desta nomeação mostra que Zapatero quer ir muito 'à frente' no seu tempo. Por dar lugar e poder às mulheres e por confiar nas gerações mais novas.
Os 31 anos de Bibiana Aído e a gravidez evidente (e quase de termo) de Carme Chacón dizem muito nos dias que correm. Embora não seja fã de Zapatero tiro-lhe o chapéu pela ousadia com que rasga o horizonte governamental e institucional. Não só investe na competência e inteligência femininas, como não se importa de 'esperar' que a nova ministra da Defesa tenha o seu filho e fique de baixa nos primeiros tempos. Mais, acredita que após o parto Carme continua a ser a mulher mais apta para o serviço.
Zapatero contraria assim a lógica em vigor em muitas empresas, que desaconselham as mulheres a terem filhos para poderem evoluir na carreira e serem produtivas. Pobres empregadores estes que acreditam que uma mulher é mais produtiva e mais eficiente se a sua vida pessoal e a sua evolução profissional forem condicionadas (ou mesmo prejudicadas) pelo facto de quererem constituir família.
Gostei do que vi ontem e fico atenta à performance das novas ministras espanholas e destas duas em particular.
Do "Público" de hoje:
Um excelente editorial de José Manuel Fernandes no "Público" de hoje.
A ler na totalidade.
Uma coisa é combater a fraude e a evasão fiscal. Outra coisa é cobrar impostos sem conta, peso e medida.
...
Em Portugal, criou-se a ideia de que todos fogem ao fisco excepto os trabalhadores por conta de outrem, que não podem fugir. Esse discurso levou ao aumento da pressão da máquina, mas de forma que também provocou o aumento do número de queixas junto do Provedor de Justiça, que produziu um relatório onde apontou para abusos dos serviços oficiais que resultam, por regra, em prejuízo para o contribuinte.
...
Mas pouco se fala da forma como o nosso sistema fiscal é draconiano a cobrar juros sobre as dívidas fiscais (fá-lo à taxa usurária de um por cento ao mês, ou seja, numa taxa composta de 12,7 por cento ao ano...) e relapso a repor o que cobrou a mais, aplicando às suas dívidas apenas uma fracção dos juros que cobra. Mas esta é apenas uma das muitas iniquidades de um sistema que trata os cidadãos, por regra, como criminosos até prova em contrário. Sobretudo os que não podem recorrer a advogados, têm menos possibilidades de se defender e conhecem pior a lei, nem chegando a perceber que estão a ser vítimas de uma máquina cada vez mais implacável e, também, injusta.
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Se não há almoços grátis, também não há milagres, razão pela qual o aumento da carga fiscal suportada pelos portugueses (só com este Governo passou de 22,8 por cento para 24,8 por cento de toda a riqueza gerada no país) não se explica pelo aumento de alguns impostos, mas pela forma como a administração fiscal tem cortado a direito, muitas vezes recuperando dívidas reais, muitas outras maximizando as cobranças para além do que a lei permite.
...
Sobretudo quando, nas repartições de Finanças, as instruções são para não negociar o pagamento em prestações de dívidas fiscais, recomendando antes aos devedores que recorram a empréstimos bancários. E, nos balcões de muitas instituições bancárias, são cada vez mais os contribuintes que, sem terem cometido outro crime para além de estarem a enfrentar mais encargos com os juros da compra da sua casa ou terem visto diminuir os seus rendimentos reais, têm dificuldades em pagar o acerto no IRS. Ou que estão a ir à banca porque o Estado não lhes pagou ainda dívidas mas já lhes está a cobrar o imposto sobre verbas que não receberam, como também acontece.
...
As primeiras chuvas
As primeiras chuvas estavam tão perto
de ser música
que esquecemos que o verão acabara:
uma súbita alegria,
súbita e bárbara, subia e coroava
a terra de água,
e deus, que tanto demorara,
ardia no coração da palavra.
Eugénio de Andrade, in
"Rente ao dizer"
Publicado por CAA em 10 Abril, 2008
O primeiro-ministro disse esta quinta-feira, em Abrantes, que a educação «está no coração» do Governo. Para o seu maior era uma «paixão». Os resultados são os que se sabem. O PS, hoje e sempre, não consegue perceber que este sistema falhou e julga que derramando milhões em cima do descalabro a coisa melhora…
Que bom seria se o PSD apresentasse uma renovação completa das suas ideias acerca deste tema. Algumas sugestões: descentralização completa do sistema de ensino, fortíssima autonomia das escolas (incluindo selecção própria dos docentes), hierarquização da estrutura escolar, banimento efectivo das teses do ‘eduquês’, estabelecimento de uma lógica de mérito e de recompensa do esforço dos alunos, e, ainda, dupla possibilidade de escolha para as famílias: da escola pública preferida (independentemente do lugar da residência ou trabalho dos pais) e do tipo de escola com o cheque-educação. Para quando?
Do Diário de Noticias de hoje:
Arrumador processa Rui Rio por difamação
JOÃO PAULO MENDES
Carlos Moreira, 53 anos, não gostou de ver a sua foto em revista camarária
A fotografia, publicada na edição de Julho de 2007 da revista Porto Sempre, ilustra um trabalho sobre o fim do Programa Porto Feliz, intitulado Governo suspende tratamento de "arrumadores". "Fui constituído arguido por ter saído uma fotografia na revista da Câmara Municipal do Porto de um arrumador que, por sinal, está com o chapéu enterrado na cabeça até ao nariz e nem se reconhece quem possa ser", disse o autarca, revelando que desde que assumiu a liderança do executivo já foi ouvido três vezes no DIAP . "Antes, nunca cá tinha entrado", disse.
O que acabaram de ler é tão absurdo que os únicos comentários que apetece fazer é aplicar alguns palavrões a estes "agentes judiciários" que instruem processos e marcam julgamentos a anciãs acusadas de furtarem cremes hidratantes no Lidl (sim, essa inocente e cândida cadeia de supermercados que contrata detectives para espiolhar a vida privada dos seus funcionários) no valor de 1,2 €, que deixam prescrever processos no valor de dezenas de milhões de € Partex , UGT ), que libertam assassinos confessos (morte de um inspector da Policia Judiciária) e que mandam prender sargentos que fizeram o que os pais biológicos não quiseram fazer (até serem obrigados legalmente e depois de se aperceberem que poderiam receber choruda indemnização )!
Francamente!
Arguido? Com termo de identidade e residência?
Pela publicação de uma fotografia de um dos inúmeros parasitas que por toda as terras se dedicam a esportular moedas aos cidadãos que cedem com medo das represálias dessa cáfila (riscos nas pinturas, pneus furados, etc )?
Mas estão a gozar com quem?
Connosco , cidadãos contribuintes que somos obrigados a pagar os mais altos salários da função pública a tal gente?
Haja Deus!
E como um canastrão nunca vem só,
2 grandes amigos,
ao vivo (enquanto o Johnny foi vivo),
2 autênticos vintage