Mais uma "vaca sagrada" dos anos 60.
Escrevia-se o poema, compunha-se a música
tocava-se viola, harmónica e cantava-se!
Tudo isto com algum charme e muita qualidade.
Neil Young, o canadiano meio esquecido, para ouvir sempre.
Mais uma "vaca sagrada" dos anos 60.
Escrevia-se o poema, compunha-se a música
tocava-se viola, harmónica e cantava-se!
Tudo isto com algum charme e muita qualidade.
Neil Young, o canadiano meio esquecido, para ouvir sempre.
Ontem, ao fim da tarde, em S. Salvador da Aramenha
(que nome poético!)
as cores do Outono
com Marvão ao fundo, nos píncaros das escarpas graniticas.
Uma originalidade no lugar da Rasa, concelho de Marvão:
uma antiga escola primária abandonada, por falta de crianças,
tranformada em capela.
Caso único no país?
Outra vez o pátio vidrado da manhã.
Vais surgir e dizer: eu vi um barco.
Era quando aos lábios me chegava
a porosa argila doutros lábios.
Estava então a caminho de ser ave.
Eugénio de Andrade,
in "Matéria solar"
Acabo de ouvir o Ministro da Justiça, Alberto Costa (mas este homem ainda existe?), afirmar, na rádio, que é necessária uma revisão constitucional para permitir as escutas telefónicas pelos serviços de informação (as "secretas").
Se as escutas autorizadas por Juíz, em sede de processo criminal são o que são (e sabemos pouco...), imagine-se feitas pelas secretas.
Que Deus nos livre rapidamente destes socialistas marxistas-leninistas!
Marmelos bem maduros prontos para quem os colher
e os quizer saborear!
(nos Olhos de Água - Marvão)
para acabar bem um domingo de sol
Recado
Regressar ao brilho das manhãs,
como se antes houvesse
escuridão, e agora voltasse o Verão.
Francisco José Viegas
in "Metade da vida", Edições Quasi, 2002
(3 versos, apenas, tão simples, e valem um livro inteiro!)
O melhor discurso politico
sobre as maravilhas económicas do governo
está aqui,
nos Gatos Fedorentos!
Além disso: subiram os impostos,
desceram as regalias sociais,
diminuiram os serviços prestados
e aumentou a despesa do Estado!
Com a cabeça fria, passada a espuma dos acontecimentos e com o distanciamento que uma semana e meia permite, um olhar em 12 itens sobre o Congresso do PSD que decorreu em Torres Vedras, de 12 a 14 deste mês.
1. O sal e a pimenta que temperavam os Congressos do PSD, que empolgavam os militantes e, através dos directos da comunicação social, monopolizavam as conversas dos portugueses, perderam-se completamente a partir do momento em que o principal motivo de interesse já estava resolvido 2 semanas antes - a eleição do líder em directas.
O Congresso arrastou-se, assim, com intervenções, na sua generalidade, irrelevantes .
Daí toda a gente considerar o Congresso como morno - na realidade foi incolor, inodoro, e insípido .
Sou, no entanto, favorável às directas pois, como se viu, permite um inegável aumento da participação dos militantes nas decisões mais importantes da vida do partido e, portanto, produz um acréscimo de democraticidade interna.
É, também, o maior obstáculo ao fabrico prévio de líderes por parte da aristocracia que ainda domina o aparelho partidário.
2. Expurgado dos debates das candidaturas a líder e respectivas moções de estratégia, é um disparate (e uma perda de tempo) um Congresso com uma duração de 3 dias.
O sábado chegava perfeitamente e permitia significativas economias ao partido e aos participantes.
3. As moções, por serem inúmeras e, geralmente, marcadamente sectoriais, são apresentadas de afogadilho e em ambiente não propicio a uma discussão profícua.
Na realidade, a moção importante - a de estratégia global do líder, já está prévia e tacitamente aprovada.
Aliás, dá a impressão que uma boa parte das moções se destinam, apenas, a marcar terreno nas concelhias e distritais.
4. Foi penoso ver (e ouvir) a sucessão de gente que subiu ao palco apenas para lembrar a Luís Filipe Menezes que o apoiaram durante a campanha para as directas.
O que, em politiquês , significa: "não te esqueças de mim quando houver distribuição de lugares"...!
5. Ainda mais penoso foi ver (e ouvir) a fila de apoiantes de Luís Marques Mendes, declarar esse facto (o que era do conhecimento público ) mas acrescentar que estavam ali para apoiar a unidade do partido e colaborar lealmente com o novo líder.
O que, em politiquês , significa : "não te esqueças de mim na próxima distribuição de lugares porque sou indispensável para a unidade do partido"...!
E de lealdades, em politica, estamos conversados...
6. Este foi um Congresso essencialmente "popular".
Com a quase completa ausência de barões e outros fidalgos (hão-de reaparecer quando Luís Filipe Menezes ganhar as próximas legislativas), o parque automóvel sofreu uma visível e muito notada alteração: as fogosas máquinas de topo de gama que atafulhavam , antigamente, as imediações dos congressos, deram lugar a carros normais, de gente normal.
7. Teve imensa piada ver os poucos barões presentes circularem sozinhos sem as numerosas comitivas de atentos, veneradores e obrigados seguidores de outrora.
Neste Congresso, além de deambularem sozinhos tentavam (oh! milagre dos céus!) cumprimentar, pessoalmente, todas as pessoas com quem se cruzavam (onde a pose superior e o cumprimento fugaz e sobranceiro de outros tempos?).
8. Foi penoso ver e ouvir uma das referências do partido actuar, uma vez mais, à António Vitorino, desaparecendo sempre que algum desafio partidário exige a sua candidatura.
Com efeito, Manuela Ferreira Leite saiu diminuída deste Congresso: além de se furtar ao desafio que lhe foi proposto, enredou-se num discurso que, apesar de doutoral, não passou de um punhado de considerações do mais tacanho e mesquinho tacticismo .
Regionalização: não falar, porque é fracturante e quem tem compromissos com o eleitorado é o PS. Então Luís Filipe Menezes, na sua moção , não se tinha mostrado, moderaamente , favorável? E sobre os assuntos sobre os quais o PS tem compromissos o PSD não deve tomar posição? Era o que mais faltava!
Referendo do tratado europeu: não falar porque senão arriscamo-nos a ter a mesma posição que o PS! Portanto, se o PS cantar o hino nacional, o PSD deve cantar a "Joana come a papa"!, para se diferenciar!
Descida dos impostos: nem pensar, senão estamos a dizer ao eleitorado que o governo do PS governou tão bem que é possível diminuir a carga fiscal! Mas percebi bem? ou a senhora ensandeceu?
9. Aguiar Branco foi marcar terreno para uma próxima disputa para líder.
Parece que teria sido um excelente Ministro da Justiça se tivesse tido tempo para isso.
Como putativo líder, enredou-se num fastidioso e interminável discurso sobre elites e militantes a que ninguém, saudavelmente, ligou importância.
10. Deste Congresso, sem dúvida , os únicos salvados que vão ficar para o futuro são os dois excelentes discursos de Luís Filipe Menezes: o de abertura e o de encerramento (especialmente este, apesar de um pouco longo).
Marcou a agenda dos próximos tempos e lançou um repto que vai alimentar muitas e boas discussões nos próximos anos: a necessidade de uma nova Constituição expurgada dos pressupostos ideológicos marxistas que marcam a Constituição vigente .
Voltaremos com mais vagar e detalhe a estes discursos.
11. A grande debilidade do Congresso: as listas, especialmente a mais importante - a da Comissão Politica Nacional.
Para quem ganhou em eleições directas e com tal expressividade, que sentido faz apresentar listas com tantas irrelevâncias politicas, alguns fantasmas esquecidos do passado, sem renovação , sem aparente capacidade mobilizadora de militantes e, mais importante, dos eleitores?
A ver vamos se traduzem uma opção pessoal ou cedência a pressões de alguém.
Isto é: se vão servir para alguma coisa ou, se pelo contrário, Luís Filipe Menezes vai actuar e decidir apenas com base na sua visão pessoal embora assessorada pela sua entourage inicial (que, aparentemente, parece estar pouco representada as listas).
Voltaremos, também, a este assunto.
12. Finalmente, duas questões centrais para os próximos actos eleitorais: juventude e mulheres.
A juventude, em geral, e a JSD, em particular, ficaram célebres em campanhas eleitorais de antanho: quem se esqueceu do papel e da importância da juventude nas vitórias de Aníbal Cavaco Silva?
Neste Congresso, no seguimento dos imediatamente anteriores, quase não se viram (nem se ouviram) jovens; o alheamento da juventude está a tomar proporções inquietantes.
A paupérrima representação das mulheres (havia delegadas? - não se notou!) e os rarísimos e subalternos lugares a elas reservados nas listas, foram chocantes.
O período áureo de Cavaco Silva marcou uma progressiva subida das mulheres aos cargos de responsabilidade partidária e governamental.
Desde Durão Barroso que as mulheres parecem só servir, no PSD, para enfeitar jantares de apoio a homens.
Todavia são já, hoje, a maioria dos técnicos superiores em qualquer ramo das actividades profissionais, mesmo das, outrora, mais tradicionalmente masculinas.
Em que órgãos do partido está traduzida esta realidade?
Constituem mais de 54% do eleitorado em geral.
Em que órgãos do partido está traduzida esta realidade?
Voltaremos, sem dúvida, a esta questão
E já que estamos em período de revivalismos, encontrei esta preciosidade da primeira metade dos anos 60 (já lá vão mais de 40!!!).
Houve algum adolescente, mesmo que com a Revolução e o Che no coração, que não se tivesse apaixonado por esta figura frágil e graciosa, com voz meiga e a promessa romântica de longos passeios pelas ruas de Paris, com as mãos nas mãos e os olhos nos olhos?
E quantas inflamadas (e sinceras...) juras de amor não se fizeram, ao som desta canção, nos bailes das quartas-feiras à tarde no Grémio e aos sábados à noite no Clube (dos ricos...!), em Lagos?
Por mim não consigo responder (nem me convém - a minha mulher pode ler este post)!
Ouçam e vejam, então, o encanto que estas coisas tinham antigamente...
A respeito do Vento circulam rumores , murmuram-se suspeitas, dizem-no velhaco e atrevido, capadócio a quem é perigoso dar ousadia.
Citam-se as brincadeiras habituais do irresponsável: apagar lanternas, lamparinas, candeeiros, fifós para assombrar a Noite; despir as árvores dos belos vestidos de folhagens, deixando-as nuinhas.
Pilhérias de evidente mau gosto; no entanto, por incrível que pareça, a Noite suspira ao vê-lo e as árvores do bosque rebolam-se contentes à sua passagem, umas desavergonhadas.
A caçoada predilecta do Vento é meter-se por baixo da saia das mulheres, suspendendo-as com malévola intenção exibicionista.
Truque de seguríssimo efeito nos tempos de antanho, traduzindo-se em risos, olhares oblíquos e cobiçosos, contidas exclamações de gula, ahs! e ohs! entusiásticos.
Antigamente, porque hoje o Vento não obtém o menor sucesso com tão gasta demonstração: exibir o quê, se tudo anda à mostra e quanto mais se mostra menos se quer ver?
Quem sabe, as gerações futuras lutarão contra o visível e o fácil, exigindo, em passeatas e comicios, o escondido e o dificil.
Jorge Amado,
in "O Gato Malhado E A Andorinha Sinhá - Uma História De Amor", Publicações Dom Quixote,
Lisboa, 2004, 9ª ed.
(escrito em1948, para o filho João Jorge, no seu 1º aniversário)
Manhã vem chegando devagar, sonolenta; três quartos de hora de atraso, funcionária relapsa.
Demora-se entre as nuvens, preguiçosa, abre a custo os olhos sobre o campo, ai que vontade de dormir sem despertador, dormir até não ter mais sono!
Se lhe acontecer arranjar marido rico, a Manhã não mais acordará antes das onze e olhe lá.
Cortinas nas janelas para evitar a luz violenta, café servido na cama.
Sonhos de donzela casadoira, outra a realidade da vida, de uma funcionária subalterna, de rígidos horários.
Obrigada a acordar cedíssimo para apagar as estrela que a Noite acende com medo do escuro.
A Noite é uma apavorada, tem horror às trevas.
Com um beijo, a Manhã apaga cada estrela enquanto prossegue a caminhada em direcção ao horizonte.
Semi-adormecida, bocejando, acontece-lhe esquecer algumas sem apagar.
Ficam as pobres acesas na claridade, tentando inútilmente brilhar durante o dia, uma tristeza.
...
Jorge Amado, abertura do livro "O Gato Malhado E A Andorinha Sinhá - uma história de amor", D. Quixote, 9ª edição, 1999.
(escrito em 1948 para o filho João Jorge, no seu 1º aniversário)
Não gosto de Durão Barroso: tratou da sua vida, borrifou-se no país e no partido e fez o mesmo que o seu antecessor - fugiu do pântano em que o Eng.º Guterres deixou Portugal.
Gosto de Luís Amado: desde jovem que é um indivíduo ponderado, aberto, inteligente e com um "faro" politico invulgar (aliás, na sua terra - Porto de Mós, sempre foi conhecido como o Luís Politico!).
Detesto, sem cordialidade, José Sócrates!
Mas a verdade é que ontem foi um dia histórico para Portugal, com a assinatura do "Tratado de Lisboa".
Tive pena que Francisco Lucas Pires, esse grande português, que, ao morrer precocemente, não chegou à Presidência da República, não estivesse presente.
Ontem, a Intersindical conseguiu mobilizar mais de 200.000 pessoas para se manifestarem contra o governo.
Há mais de 20 anos que não se registava uma manifestação tão grande.
Aconteceu, até, que, ao contrário do que é habitual, Carvalho da Silva estimava o número de manifestantes em 150.000, enquanto a policia declarava que ultrapassavam os 200.000!
Normalmente estamos habituados a que as organizações sindicais declarem 10 mil e que as autoridades policiais estimem em 2 mil.
Este número impressionante de manifestantes, muito raro mesmo em países com o décuplo da nossa população, só pode significar que os portugueses estão fartos deste governo e do "Eng.º" Sócrates.
Com o principal partido da oposição (e único que pode ser alternativa governamental) a mudar de líder, apresentando, finalmente, um rosto credível, a conclusão a tirar é que o ciclo politico está a entrar em curva descendente e que a possibilidade de o PSD ganhar as legislativas em 2009 é, agora, real!
Razão tinha o "animal politico" Mário Soares ao dramatizar a vitória de Luís Filipe Menezes declarando que esta vitoria era uma desgraça para o país (leia-se PS).
eira do cata-vento
3. setembro
agora o outono chega, nos seus plácidos
meneios pelas vinhas, um dos vizinhos passa
um cabaz de maçãs por sobre a vedação:
redondas, verdes, o seu perfume vai
dentro de quinze dias ser mais forte.
a noite cai mais cedo e apetece
guardar certos vermelhos da folhagem
e amarelos e castanhos nas ladeiras
de setembro. a rádio fala no tempo variável
que vem aí dentro de dias. talvez caia
uma chuvinha benfazeja, a pôr no ponto certo
os bagos de uva. e há poalhas morosas, mais douradas.
aproveita-se o outono no macio
enchimento dos frutos para colhê-lo a tempo.
devagar, devagar. é mais doce no outono a tua pele.
Vasco Graça Moura,
in "Poesia 2001/2005", Quetzal Editores, 2006
Mais uma canção de Adriano Correia de Oliveira, com letra de Manuel Alegre.
Na 1ª fotografia reconhecem-se os seus acompanhantes predilectos: António Portugal, cunhado de Manuel Alegre, excelente guitarrista, já falcido; Rui Pato, o menino de ouro da viola, médico pneumologista (actualmente a presidir ao Centro Hospitalar de Coimbra) e Durval Moreirinhas de que perdi o rasto.