Em gestão corrente ...como o País...

Agosto 26 2007

       

Alegoria floral

   

Um dia em que a mulher nasça do caule da roseira

que cresce no quintal; ou um dia em que a nuvem

desça do céu para vestir de névoa os seus

seios de flor: seguirei o caminho da água nos

canteiros que me levam ao caule, e meter-me-ei

pela terra em busca da raíz.

   

Nesse dia em que os cabelos da mulher se

confundirem com os fios luminosos que o sol

faz passar pela folhagem; e em que um perfume

de pólen se derramar no ar liberto da névoa:

procurarei o fundo dos seus olhos, onde corre

uma tranparência de ribeiro.

   

Um dia irei tirar essa mulher de dentro da flor,

despi-la das suas pétalas, e emprestar-lhe o véu

da madrugada. Então, vendo-a nascer com o dia,

desenharei nuvens com a cor dos seus ~lábios, e

empurrá-las-ei para o mar com o vento brando

da sua respiração.

  

Depois, cobrirei essa mulher que nasceu da roseira

com o lençol celeste; e vê-la-ei adormecer, como

um botão de rosa, esperando que a nuem desça

do céu para a roubar ao sonho da flor.

    

Nuno Júdice,

in "O estado dos campos", 2003

   


 

emgestaocorrente às 18:39

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