Em gestão corrente ...como o País...

Agosto 12 2007

   

   Para ver e ouvir, clique em baixo

   

<embed src="https://imgs.sapo.pt/sapovideo/swf/flvplayer-sapo.swf?file=https://rd3.videos.sapo.pt/53DZLvnaRE5vlyyFOzww/mov/1" type="application/x-shockwave-flash" width="400" height="325" wmode="transparent"></embed>

   

 


 


Agosto 12 2007

  

   No dia do centenário do nascimento de Miguel Torga, um poema, cheio de actualidade, de 1977.

   

   Voz Activa

   

   Canta, poeta, canta!

   Violenta o silêncio conformado.

   Cega com outra luz a luz do dia.

   Desassossega o mundo sossegado.

   Ensina a cada alma a sua rebeldia.

  

    Miguel Torga

    in "Diário XIII", 1983

    


emgestaocorrente às 17:37

Agosto 12 2007

  

   Miguel Torga, pseudónimo do médico Adolfo Rocha, nasceu há precisamente cem anos.

   Natural e criado no planalto transmontano, do qual nunca se desligou, fez toda a sua vida profissional e literária em Coimbra onde tinha um consultório, no Largo da Portagem, com uma vista fantástica sobre o Mondego e Santa Clara.

   Tive o privilégio de, em criança, ter sido consultado por ele por causa de um problema de ouvidos (Miguel Torga era otorrinolaringologista).

   Até hoje os meus pais referem, com muito orgulho, que Miguel Torga no final da consulta, além de ter elogiado o meu comportamento - pouco habitual em crianças, referiu  que eu tinha um olhar inteligente e uma cabeça semelhante à do Napoleão!

   Este exagero simpático do grande mestre exacerbou-me de tal modo o ego que o primeiro livro que li, mal comecei a soletrar letras e sílabas foi, claro, "O Senhor Ventura", logo seguido por "Os Bichos".

   Na esteira dos grandes escritores portugueses do século XIX (Eça e Camilo) e do século XX (Aquilino, Ferreira de Castro, José  Rodrigues Migueis, Carlos Oliveira, o injustamente esquecido Fernando Namora) Miguel Torga foi o último dos grandes senhores da literatura portuguesa a deixar-nos, com uma idade já provecta.

   Eterno candidato ao Nobel, nunca o recebeu - não viveu em tempos politicamente correctos para essa atribuição; coube a outro, com bem menos qualidades literárias, humanas e politicas a honra do Nobel; paciência, não foi a última vez que se cometeram injustiças!

   Hoje, dia do centenário do seu nascimento, Coimbra comemora a efeméride, inaugurando uma casa museu onde o escritor viveu várias décadas.

   Miguel Torga, personalidade independente de todas as amarras, disciplinas e jogos partidários, nunca escondeu simpatia pelo PS, tendo apoiado públicamente o PS em diversas fases da democracia portuguesa.

   Mário Soares, enquanto governante ou Presidente, nunca foi a Coimbra sem visitar Miguel Torga.

   A Câmara Municipal de Coimbra, promotora das celebrações, é presidida pelo Dr. Carlos Encarnação, do PSD.

   O Governo, presidido por um engenheiro com a licenciatura tirada nas condições que se conhecem, é do PS.

   Ninguém do governo se deslocou a Coimbra à homenagem a Miguel Torga. Nem aquela figura risível a imitar uma rameira do Bairro Alto nem o careca, estalinista até ao dia em que o PS lhe deu cama, mesa, tacho e roupa lavada.

   António Arnaut, fundador do PS e "pai" do SNS já protestou.

   Enfim, mais um episódio de Salazarismo sem Salazar!

    


 


Agosto 12 2007

    

   No dia do centenário do nascimento de Miguel Torga, um poema publicado em 1958.

   Recorde-se que, então, Salazar governava com mão de ferro, censura à comunicação social, PIDE e prisões politicas (para quem "abusava", pensando pela sua própria cabeça) e assassinatos quando não ia de outro modo!

   O regime salazarento/fascista ainda não tinha sofrido o "abalo" do General Humberto

 Delgado.

   (Porque será que sinto que, infelizmente, este poema voltou a ter plena actualidade?)

    

    

   Flor da Liberdade

    

   Sombra dos mortos, maldição dos vivos.

   Também nós... Também nós... E o sol recua.

   Apenas o teu rosto continua

   A sorrir como dantes,

   Liberdade!

   Liberdade do homem sobre a terra,

   Ou debaixo da terra.

   Liberdade!

   O não inconformado que se diz

   A Deus, à tirania, à eternidade.

  

   Sepultos, insepultos,

   Vivos amortalhados,

   Passados e presentes cidadãos:

   Temos nas nossas mãos

   O terrível poder de recusar!

   E é essa flor que nunca desespera

   No jardim da perpétua primavera.

    

   Miguel Torga,

   in "Orfeu Rebelde", 1958

    


 


Agosto 12 2007

 

   No dia do centenário do nascimento de Miguel Torga, um poema de 1950

     

   Quase um poema de amor

   

   Há muito tempo já que não escrevo um poema

   De amor.

   E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!

   A nossa natureza

   Lusitana

   Tem essa humana

   Graça

   Feiticeira

   De tornar de cristal

   A mais sentimental

   E baça

   Bebedeira.

    

   Mas ou seja que vou envelhecendo

   E ninguém me deseje apaixonado,

   Ou que a antiga paixão

   Me mantenha calado

   O coração

   Num intimo pudor,

   - Há muito tempo já que não escrevo um poema

   De amor.

   

   Coimbra, 7 de Fevereiro de 1950

   Miguel Torga,

   in "Antologia Poética", 1985

     

 


emgestaocorrente às 15:49

mais sobre mim
Agosto 2007
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4

5
6
7
8
9
10
11

13
14
16
17

19
20
21
22
23
24
25

31


links
pesquisar
 
subscrever feeds
blogs SAPO