Cansado de ser homem durante o dia inteiro
chego à noite com os olhos rasos de água.
Posso então deitar-me ao pé do teu retrato,
entrar dentro de ti como um bosque.
É a hora de fazer milagres:
posso ressuscitar os mortos e trazê-los
a este quarto branco e despovoado,
onde entro sempre pela primeira vez,
para falarmos das grandes searas de trigo
afogadas na luz do amanhecer.
Posso prometer uma viagem ao paraíso
a quem se estender ao pé de mim,
ou deixar uma lágrima nos meus olhos
ser toda a nostalgia das areias.
Eugénio de Andrade
in "As palavras interditas"
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zêlo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei-de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes
in "O Poeta Apresenta o Poeta"
José Pacheco Pereira publica, hoje, no seu blogue Abrupto o excelente texto que abaixo, e com a devida vénia, se transcreve.
12:37 (JPP)
O caso Sócrates começou por uma trivialidade: o político Sócrates usava sem rigor classificações e títulos académicos antes de os ter e quando não os tinha. Era pouco importante, mas era noticiável numa democracia em que se espera rigor da biografia oficial dos governantes. Podia ter imediatamente admitido que isso fora um engano, uma leviandade, um “uso social” descuidado, ou mesmo uma reivindicação (as escolas por onde tinha andado para se formar como “engenheiro técnico” reivindicavam a titularidade de “engenheiro”). Mesmo que admitisse ter sido um erro, a questão morria logo ali sem danos especiais para o Primeiro-ministro. Corrigia a sua biografia oficial e fechava o assunto.
Sócrates fez exactamente o contrário. Acantonou-se em versões progressivamente mais contraditadas e para cada cavadela saiam várias minhocas. Ele parece ter um toque de Midas especial: qualquer documento que lhe diz respeito tem alguma coisa de errado. Ou são as disciplinas, ou são as notas, ou são as datas, ou são as versões, ou são as contradições. Até a Universidade Independente, no seu estertor, admite haver “falsificações”. Ele pode de facto estar a ser vítima de uma conspiração, mas não é pelas questões que lhe são colocadas pelo seu trajecto académico, é pelos papéis que estão nos seus dossiers.
Depois, ele próprio e o seu poderoso gabinete – digo poderoso porque vários jornalistas andaram a gabar a sua capacidade de “controlar” a agenda, o que é um interessante atestado de menoridade a si próprios – fizeram tudo para impedir as notícias. Primeiro, fizeram tudo para impedir o Público de dar o salto crucial de levar a informação que já existia nos blogues para a imprensa “séria”; depois fizeram tudo para impedir que outros jornais pegassem na notícia e, em particular, que chegasse à televisão; por fim, invadiram o espaço público de sucessivas e contraditórias explicações para aumentar a confusão.
Agora está-se na fase de demonizar quem ainda quer esclarecer aquilo que não está esclarecido. Não é difícil. Muitos órgãos de comunicação social só pegaram na questão a contra-gosto, e quando não a podiam evitar. Desenvolveu-se uma interpretação conveniente para encerrar o assunto com a entrevista do Primeiro-ministro, que todos sabem não respondeu (nem foi perguntado) sobre muita coisa. Mostrando uma rara contenção muitos órgãos de comunicação fecharam-se num silêncio que não é apenas silêncio: é uma crítica aos seus colegas que continuam a interessar-se pelo assunto.
Por fim, não há governo, seja este seja outro (com excepção do de Santana Lopes e mesmo assim...) que não concite a nossa mecânica do “consenso” que junta sempre poderosos interesses à sua volta, materiais e espirituais. Este, até pela sua maior legitimidade política e pelo mérito do que fez, pelo apoio institucional que recebeu nos momentos decisivos do PR e da PGR, e pela sensação de falta de alternativa, ainda mais “consenso” produz. Por isso se cobrirá tudo com uma redoma ao mesmo tempo frágil e blindada e o tempo fará o seu efeito de esquecimento. Até um dia.
O Boletim Económico da Primavera do Banco de Portugal, publicado na 3ª feira menciona um novo record para as receitas fiscais em Portugal.
Com efeito a receita fiscal atingiu 37% da riqueza produzida no país, medida pelo PIB (Produto Interno Bruto).
De 2005 para 2006 a receita fiscal aumentou 6,1%.
Se você não é socialista, não foi nomeado para nenhum job, não tirou cursos universitários ao domingo com trabalhos de 1 página A4 e não tem terrenos na Ota, as minhas condolências!
A revista Visão, citada pelo Portugal Diário, afirma que estão a ser feitos planos para uma megacidade com uma "mancha gigante de indústrias de ponta e serviços empresariais variados" junto do futuro aeroporto da Ota.
O projecto está a ser estudado pela "Augusto Mateus e Associados " (ex-ministro da Economia de Guterres - o que fugiu do pântano em que colocou o país).
Os terrenos possíveis estão a ser estudados com as Câmaras de Alenquer (PS), Azambuja (PS), Benavente (PCP), Cartaxo (PS) e Rio Maior (PS).
A NAER (empresa pública do novo aeroporto) estima em mais de 4.000 hectares de terrenos necessários (4.000 estádios de futebol).
Segundo uma imobiliária consultada pela revista Visão, um terreno agrícola no Carregado custa 3 € por m² ; para espaço industrial subirá para 150 € - uma valorização superior a 4.900% !!!
Se você é um socialista prevenido que já comprou terrenos agrícolas naquel zona, parabéns! Acaba de ganhar um jackpot!
que eu sempre fui bom cavaquista
nem é preciso repeti-lo:
anos depois já só se avista
tanto canário, tanto grilo,
tanto gorgeio, tanto trilo
que de promessas se guarnece:
um mundo e outro, isto e aquilo,
e o povo tem o que merece.
vi engrossar de boys a lista,
vi saltitar mais do que esquilo,
de galho em galho ser artista,
e armar o estado em crocodilo.
voracidade? era do estilo.
economia? ai que arrefece!
vi Portugal vendido ao quilo
e o povo tem o que merece.
vi muito pássaro na pista
já de asa murcha e intranquilo,
já sem alface nem alpista
e já sem grão dentro do silo,
secou a teta e o mamilo,
chegou a hora, chega o stress.
há vários anos que eu refilo,
e o povo tem o que meece.
senhor, na entrada deste asilo,
mordeu-se a isca da benesse
e o povo tem o que merece.
Vasco Graça Moura
(feito durante o interregno guterrista, novamente actual - pobre país!)
De 2ª a 6ª às 17h55 e às 22h55.
Programa de 13.04.2007, com Sonny Stitt.
Para ouvir clique no símbolo abaixo
Com a noite me deito
com o dia me levanto
canta-me um pássaro no peito
vai-me a tristeza no canto
vai-me a tristeza no canto
como um cavalo no prado
seca-me a água do pranto
deste rio desatado
Luis Pignatelli
in "Obra Poética", 1999
(Vitorino, com este poema, fez uma extraordinária canção)
Marques Mendes, líder do PSD, defendeu ontem, em Coimbra, várias reformas na politica de educação (do pré-escolar ao secundário), das quais se destacam:
Estas medidas são de uma necessidade tão evidente que parece impossível a realidade consistir exactamente no contrário.
Entretanto, recorde-se que Portugal já é o país que mais gasta em educação (expresso em termos de percentagem do PIB) mas continua a ser o que piores resultados apresenta!
E já agora: porque não estender estas medidas a outros sectores (como a saúde) onde o centralismo está cada vez mais asfixiante, servindo as ARS e os seus boys apenas como correia de transmissão da vontade ditatorial do ministro e para o pouparem aos custos politicos dos primeiros embates dos constantes conflitos por ele, arrogantemente, provocados?
Carlos Farinha Rodrigues (Professor do ISEG) revelou ontem, na conferência sobre inclusão organizada pelo Presidente da República que:
(com base a reportagem publicada no Público de hoje)