Rio Sever (praia fluvial e complexo de piscinas e parque de lazer)
na Portagem (assim chamada, porque nela os judeus expulsos da Espanha
dos Reis Católicos, pagavam a "portagem" para entrar em Portugal pela ponte romana
ainda existente no local, bem como a torre militar que, então, fazia fronteira).
Acima, ao fundo, na escarpa granitica a pique as muralhas, o castelo e o casario de Marvão.
Alguma coisa onde tu parada
fosses depois das lágrimas uma ilha
e eu chegasse para dizer-te adeus
de repente na curva duma estrada
alguma coisa onde a tua mão
escrevesse cartas para chover
e eu partisse a fumar
e o fumo fosse para se ler
alguma coisa onde tu ao norte
beijasses nos olhos os navios
e eu rasgasse o teu retrato
para vê-lo passar na direcção dos rios
alguma coisa onde tu corresses
numa rua com portas para o mar
e eu morresse
para ouvir-te sonhar
António José Forte
(deu origem a uma das melhores canções portuguesas de sempre, nas vozes dos manos Salomé - Janita e Vitorino)
Do blogue "Poesia distribuída na rua" rapinei, com gosto, os textos que se publicam em baixo; conhecia os versos da Sophia mas desconhecia os de Fernando Pessoa; são mais uma contribuição para desmascarar as vergonhosas manobras de branqueamento a que a TV do "serviço público" se tem dedicado.
[Salazar e a Poesia - II]
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
O VELHO ABUTRE
O velho abutre é sábio e alisa as suas penas
A podridão lhe agrada e seus discursos
Têm o dom de tornar as almas mais pequenas
(de Livro Sexto, 1962)
(nestes tempos em que parece que a TV pública(!) aposta em baralharar os mais novos e recuperar (branqueando!) um passado doloroso e vergonhoso para o povo português, retomo este poema de Manuel Alegre , para que ninguém se esqueça da fome, do analfabetismo, das prisões politicas, da fuga à guerra colonial, da emigação ilegal massiva (1 milhão de emigrantes ilegais no inicio dos anos 70), fosse por motivos económicos fosse por motivos politicos )
Solitário
por entre a gente eu vi o meu país.
Era um perfil
de sal
e abril.
Era um puro país azul e proletário.
Anónimo passava. E era Portugal
que passava por entre a gente e solitário
nas ruas de Paris.
Vi minha pátria derramada
na Gare de Austerlitz. Eram cestos
e cestos pelo chão. Pedaços
do meu país.
Restos.
Braços.
Minha pátria sem nada
despejada nas ruas de Paris.
E o trigo?
E o mar?
Foi a terra que não te quiz
ou alguém que roubou as flores de abril?
Solitário por entre a gente caminhei contigo
os olhos longe como o trigo e o mar.
Éramos cem duzentos mil?
E caminhávamos. Braços e mãos para alugar
meu Portugal nas ruas de Paris.
Manuel Alegre
Parece que Portugal vai ter que gastar alguns milhares de milhões de € num novo aeroporto.
3 mil milhões dizem; mas como estamos habituados a que as obras do Estado multipliquem os custos previstos, não custa a acreditar que chegue aos 6 ou 9 mil milhões!
Não contesto a necessidade de um novo aeroporto (faltam-me conhecimentos), mas de tudo o que se lê e ouve das várias partes intervenientes, parece ( a um leigo na matéria como eu) que a Ota será:
Assim sendo porquê a teimosia do governo, especialmente do 1º ministro?
E o que levou o ministro Mário Lino a mentir em público e em directo, na SIC, negando a existência do rela tório da NAV (empresa pública de gestão do tráfego aéreo), altamente desfavorável à Ota?
Será que o ministro pensa que Portugal é a "Pátria do Sol Nascente", onde os seus, até há pouco, camaradas podem riscar com o lápis vermelho da censura de "esquerda" tudo o que não lhes dá geito?
É que até propagandistas tão zelosos e eficientes do governo como Jorge Coelho e António Vitorino mostram incomodidade com a situação e levantam dúvidas sobre a bondade da opção pela Ota!
12
Era uma vez duas serpentes que não gostavam uma da outra. Um dia encontraram-se num caminho muito estreito e como não gostavam uma da outra devoraram-se mutuamente. Quando cada uma devorou a outra não ficou nada. Esta história tradicional demonstra que se deve amar o próximo ou então ter muito cuidado com o que se come.
Ana Hatherly
Talvez pela falta de consistência politica dos primeiros ministros que se seguiram à fuga de António Guterres (Durão Barroso e José Sócrates; o intervalo Chapitôo - sem ofensa para a Tété- entre os dois não conta) as figuras tutelares governamentais têm sido os Ministros das Finanças: Manuela Ferreira Leite e Teixeira dos Santos.
Teixeira dos Santos contando com um estado de espirito nacional já anteriormente preparado para a contenção orçamental e com um Presidente da República cooperante e com as mesmas ideias sobre o déficite (longe vai o tempo em que havia mais vida para além do deficite!) pôde ir incomparavelmente mais longe do que Manuela Ferreira Leite.
É de saudar a descida do déficite do Orçamento do Estado para 3,9% do PIB em 2006 (abaixo de todas as previsões e abaixo do Pacto com a UE), mas não nos podemos esquecer que esta descida foi feita , essencialente, à custa da subida na arrecadação de impostos (por aumento de eficiência da cobrança mas, também, por aumento da carga fiscal) e da descida brutal do investimento público (ver post de 21.03.2007 - Portugal no seu pior (9)).
O grande problema é que o "monstro" está praticamente intacto e a despesa corrente primária do Estado não baixou.
Paulo Portas, o trauliteiro da comunicação social nos anos 80/90, após um estágio de intenso populismo por mercados e feiras, chegou (graças à fuga do Eng.º Guterres do pântano que ele próprio tinha criado) a ministro, e logo da defesa!
Indispensável ao Dr. Barroso para formar governo, tornou-se europeísta, transferiu-se das feiras para as discotecas mais in , vestiu-se à Lord (com fatos às risquinhas e gravatas inglesas), compôs pose de estado e tentou ganhar a credibilidade que nunca tinha tido.
Beneficiando do desastre que foi a actuação do sucessor do Dr. Barroso, chegou mesmo a ser uma das figuras de referência desse governo.
Com o desastre eleitoral que se seguiu, fez uma declaração de retirada das lides partidárias activas e, com alguma pompa e circunstância, anunciou uma licença sabática nos USA para inicio de uma promissora carreira académica, para a qual não faltavam convites das mais prestigiadas instituições americanas!
Claro que ficou por cá, ocupando o seu lugar de deputado e iniciando uma discreta carreira de comentador politico numa tribuna televisiva quinzenal, generosamente colocada à sua disposição pela SIC.
Nessa tribuna adoptou um estilo bem comportado, passível de ser aproveitado por um PS ou um PSD que, no futuro, viesse a necessitar dos seus votos para se manter ou ascender ao poder.
Paralelamente, manobrava, na sombra, o grupo parlamentar composto na sua quase totalidade de fieis seguidores.
Estando
o que terá levado o Dr. Portas a subitamente estalar o verniz e mostrar-se como é (um trauliteiro sem princípios nem educação, um corsário que não olha a meios para atingir os seus fins)?
O que se tem passado na chamada "Universidade" Independente ultrapassa a imaginação de qualquer argumentista de filmes de gangsters , série B , na Chicago de Al Capone .
As invasões por grupos de cadastrados eufemisticamente designados como "seguranças"), a soldo das várias facções, sucedem-se e nunca se sabe quem ocupa, a cada momento, a direcção da instituição.
Presentemente já nem se sabe quem detém a propriedade das acções daquele estabelecimento.
A "justiça" portuguesa ajuda à festa e se um tribunal entrega a direcção a um dos figurantes, logo outro tribunal o manda prender.
Enquanto, interminavelmente, vão decorrendo estas cenas vergonhosas e indecorosas, muitas centenas de estudantes (e de famílias ) vão pagando propinas, sem aulas, sem exames e, provavelmente , sem futuro.
Entretanto, pasme-se!, o Ministro do Ensino Superior (o inefável Mariano Gago) assobia para o lado, desaparece (como faz, aliás, uma boa parte dos governantes sempre que há problemas) e, ao fim de duas semanas de sucessivos escândalos , declara com ar seráfico, à SIC, que falará quando considerar oportuno!
E se tudo isto acontece quando os mais credíveis órgãos de comunicação social publicam documentos que indiciam falsas habilitações literárias do 1º Ministro, com a provável conivência daquela "Universidade", como não inferir que a inacção do governo tem algo a ver com este facto?
O Rio Douro entre Freixo de Espada-À-Cinta e a barragem de Aldeavilla
(Parque Natural - santuário de aves)
Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luis de Camões
O Diário Económico de hoje, com este título, noticia que o investimento público em 2006 decresceu 155 em relação ao ano interior.
Descontando o efeito inflação, este corte no investimento público só é comparável aos ocorridos em 1983 e 1984, período de crise económica e de grande instabilidade politica.
Recorde-se que essa crise originou as condições favoráveis à 1ª vitória eleitoral de Cavaco Silva, à frente do PSD, em 1985.
Em 2006, o investimento público foi de 3.558 M de € (4.183 em 2005) ou seja 2,3% do PIB português, o valor mais baixo em 30 anos e, pela 1ª vez, inferior à média da UE.
Mesmo assim, o governo insiste nas megalomanias das Otas e dos TGVs.
O Diário Digital de hoje, citando o Infarmed , noticia que, em 2006, os portugueses consumiram 20 milhões de embalagens, no valor de 82 milhões de €, de ansiolíticos , sedativos e hipnóticos.
Com o actual estado do país (desemprego galopante - quem se lembra dos 150 mil novos empregos do Eng.º (?) Sócrates?, diminuição dos salários reais, retrocessos e incerteza sobre a sustentabilidade das reformas e da segurança social em geral , desindustrialização acelerada do país por deslocalização das empresas (estrangeiras e portuguesas!), diminuição acelerada dos cuidados de saúde e insegurança de pessoas e bens a um nível inimaginável há poucos anos, compreende-se o uso e abuso de ansiolíticos e, até, antidepressivos.
Mas sedativos e hipnóticos? Então os portugueses já não vêem o "Prós e Prós" (acertada designação de Pacheco Pereira (www.abrupto.blogspot.com) antes de irem para a cama?