Alberto João Jardim é como é e não deve estar arrependido.
Sempre violentamente polémico, exagerando frequentemente a boçalidade que lhe é natural, encenando (quando lhe convém) um ar de psicopata etilizado, ameaçando tudo e todos sempre que precisa de sacar mais verbas ao orçamento do estado, recorrendo à chantagem da separação e independência sempre que os primeiros ministros e os ministros das finanças não se mostram suficientemente brandos e colaboracionistas para com a sua avidez de verbas, tem levado a água ao seu moinho e pode apresentar, na região que domina, obra feita, infra-estruturas como não há no resto do país e um nível de PIB per capita que é o 2º nacional e que já ultrapassa a média europeia.
Compare-se com os Açores e percebe-se porque é que ganhou sempre todos os actos eleitorais, sempre com maiorias absolutas e sempre com mais do dobro do maior partido da oposição regional.
Evidentemente, o PSD nacional sempre teve uma atitude dúplice em relação a A. J. Jardim; por um lado gostaria de se demarcar das inconveniências e boçalidades de tal personagem, por outro, quando tudo corre mal (como nos últimos anos) a Madeira e o seu caudilho é o que resta para manter a chama da esperança na militância das suas hostes.
Apesar de tudo Cavaco Silva, enquanto primeiro ministro (e de certo modo, agora, como Presidente da República) foi o único que se opôs à gula rapina de Jardim sobre o orçamento do estado; sempre que o governo era PS, os cofres abriam-se miraculosamente logo que Jardim abria a boca perante a comunicação social com mais umas ameaças e alarvadices. O inefável Eng.º Guterres que o diga.
O problema, actualmente, é que José Sócrates, com a ganância autoritária e autocrática que lhe é reconhecida, resolveu acabar com o único reduto que lhe foge ao poder quase absoluto (um pouco à maneira dos imperadores romanos em relação à Gália de Astérix); para isso mandou aprovar pela anémica, medíocre e submissa maioria parlamentar socialista uma nova lei de financiamento regional com o único fito, públicamente assumido de quebrar a espinha (financeiramente falando) a Jardim e preparando, assim, o assalto ao governo regional.
A tarefa estava facilitada pela previsível colaboração de Cavaco Silva, visceralmente adverso a gente como Jardim e, de certo, não esquecido dos insultos que este, anteriormente, lhe dirigira (quem não se lembra de Jardim com faces afogueadas e rubicundas exigir ao PSD nacional a imediata expulsão do "Sr. Silva"?).
A verdade é que, se em hora de sacrificios orçamentais, todos devem colaborar e contribuir com a sua quota parte, a lei de finanças regionais foi feita para beneficiar os Açores (de maioria socialista) e prejudicar a Madeira e A. J. Jardim.
E este comportamento é éticamente reprovável e politicamente inaceitável.
E A. J. Jardim, por uma vez, fez figura de grande senhor e demitiu-se, forçando eleições antecipadas.
Com efeito, eleito com um programa que era viável sob uma certa expectativa orçamental, perdia viabilidade com as novas realidades financeiras e, portanto, impunha-se uma ida às urnas para apresentar um novo programa ajustado ao novo orçamento disponível.
Por outro lado impõe-se que o povo madeirense, através do voto, dê uma resposta politica a a José Sócrates e diga se está disposto a vergar-se à chantagem governamental ou se mantém a confiança politica em Jardim, mesmo em condições orçamentais adversas.
E assim, Alberto João deu uma lição de ética politica a quem tanto se pavoneia com ela mas que, na prática não passa de um jogador de cartas viciadas.