Em gestão corrente ...como o País...

Abril 17 2008

Ternura

      

Desvio dos teus ombros o lençol,

que é feito de ternura amarrotada,

da frescura que vem depois do sol,

quando depois do sol não vem mais nada...

      

Olho a roupa no chão: que tempestade!

Há restos de ternura pelo meio,

como vultos perdidos na cidade

onde uma tempestade sobreveio...

     

Começas a vestir-te, lentamente,

e é ternura também que vou vestindo,

para enfrentar lá fora aquela gente

que da nossa ternura anda sorrindo...

     

Mas ninguém sonha a pressa com que nós

a despimos assim que estamos sós!

     

David Mourão-Ferreira, in

"Obra Poética"

   

 


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