QUE A VIDA FOSSE A MESMA FESTA SEMPRE
E OS OLHOS ENCONTRASSEM TEU SORRISO
Pedro Barroso
FALEI-TE
SEM QUERER DE COISAS BELAS
COMO QUEM ABRE JANELAS
PARA LÁ DO HORIZONTE
(Pedro Barroso)
Se ficasses para sempre
nos olhos que em ti medi
naquele balouçar
de vestal e puta eternamente
serias o sonho prolongado
que não há
Mas os anos amiga
os anos que passaram
fizeram de borracha a tua pele
e o desespero das rugas
enfeitou o teu rosto
num rasgo de ti mesma
E desdobras-te em cascatas de gestos
em busca do que foste
sem saber
e há qualquer coisa de injusto em tudo isso
porque os meus olhos são da mesma idade
E o tempo
esse carrasco lento
fez de nós uma referência
uma memória esconsa do que fomos
E hoje são talvez as tuas filhas
quem desdobrou de ti o alçamento
a graça de garça
e o altar de espanto
Mas tu amiga
aqueles teus seios de mármore
que eu mordi de amante
esses roubaram-mos de inveja
o tempo e a lonjura
Por isso recuso ver-te hoje
sem ser nessa memória
Dizem que é assim
isto de viver
mas há tudo de cru, injusto e triste
nessa amargura
porque a beleza extrema
nunca houvera de morrer
E tudo o que me estrago
a mim não magoa
que eu nunca contei muito
para o belo que me deste
Sempre vou ser isto
mais coisa menos coisa
cada vez mais velho e mais agreste
Mas tu tinhas direito à eternidade
o teu rosto o teu corpo as tuas mãos
moram para mim ainda e sempre
na ideia em que te guardo
e há qualquer coisa de injusto em tudo isto
porque os meus olhos são da mesma idade
COMPANHEIRA
Letra, música e voz de PEDRO BARROSO
(para ouvir a música, clique no botão Play)
Deixei pousar minha boca em tua fronte
toquei-te a pele como se fosses água
escorreguei em teu ventre como o vento
e atravessei-te em mim como se fosse farpa
Deixei crescer esta vontade devagar
deixei crescer no peito um infinito
ai eu morri de morte lenta no desejo
em cada beijo abafei um grito
Quando desfolho o livro velho da memória
sinto que o tempo passado à tua beira
é um espaço bom que há na minha história
e foi bonito ter dito companheira
Inventei mil paisagens no teu peito
e rebentei de loucura e fantasia
quando me olhavas devagar com esse geito
eu descobri tanta coisa que não via
Havia em ti uma forma grande de incerteza
que conseguias converter em alegria
havia em ti um mar salgado de beleza
que me faz sentir saudades em cada dia
Quando desfolho o livro velho da memória
sinto que o tempo passado à tua beira
é um espaço bom que há na minha história
e foi bonito ter dito companheira
Após um período de ausência
(preguiça, 1 semana de férias em local mal servido pela Vodafone mobile, período de grande energia criadora na pintura, etc.)
retomei as actividades rotineiras e "blogueiras".
Tive a sorte de coincidir com a chegada de um e-mail do meu amigo
PEDRO BARROSO
em que me dava conta de uma nova música sua colocada na net.
Apresso-me a dá-la a conhecer aos meus leitores.
É, como sempre(!),
um Pedro Vintage!
Anúncio confidencial
Arranja-me um fio de prata dois silêncios um sorriso
e desaperta no peito dois botões pró paraíso
e dá-me beijos na testa quando começar o dia
sorri-me longa a manhã no teu corpo devagar
sendo horas de nascer tu sabes o teu lugar
de ti estamos distantes como quem não dá por isso
mas pressentimos no corpo uma espécie de feitiço
responde à posta restante anúncios confidenciais
se não existires eu faço-te
já esculpi outras que tais
que às vezes ao fim da tarde quando me vem o cansaço
vou atirar-me para o maple e encontro o teu regaço
e tu dizes coisas feias andas zangada comigo
e eu fico na plateia nem sei bem o que digo
e irritada tu beijas resvalas mordes ondulas
e eu que andava por tão longe quando m'insultas (e pulas)
eu transformo-me da pedra em ondas gaivotas mar
e eu que não estava ali reparo nas tuas pernas reparo na tua boca
e passo de novo a estar reparo na tua boca que eu nunca soube explicar
e sinto incêndios nas veias e sinto incêndios no mar
vêm aí horas ternas são horas de mergulhar
desculpa mundo já demos são horas de te esquecer
são horas de enlouquecer desculpa lá vou fechar
Pedro Barroso, CD "de viva voz"
Clique no símbolo em baixo
para ouvir
o mais bonito poema sobre os anos que passam
dito pelo próprio autor
Pedro Barroso
Hoje é o aniversário da minha mulher
(desde há cerca de 40 anos!).
Compartilha comigo o mesmo gosto pelas trovas/canções
do nosso amigo Pedro Barroso,
a melhor voz e o melhor cantautor português.
Esta trova teria sido escrita e cantada por mim e a ela dedicada
se tivesse o talento do Pedro.
Parabéns mulher!
Obrigado Pedro!
Pedro Barroso, o maior (e último?) trovador português, actuou ontem nas festas do Crato.
Estive presente (sou vizinho, de coração) e o encantamento foi o mesmo de sempre.
Pedro Barroso é um vinho do Porto vintage!
Como recordação aqui se publica o poema e se dá a ouvir uma das canções do alinhamento do espectáculo: Bonita (clique para ouvir).
Até sempre Pedro! (Tenho 1 CD com as suas músicas que nunca sai do carro).
Obrigado Câmara Municipal do Crato, por manter, numa pequena e quase ignota vila do norte alentejano, umas festas com tal nível.
Bonita
Primeiro foram as mãos que me disseram
que ali havia gente de verdade
depois fugi-te pelo corpo acima
medi-te na boca a intensidade
senti que ali dentro havia um tigre
naquele repouso havia movimento
olhei-te e no sol havia pedras
parámos ambos como se parasse o tempo
parámos ambos como se parasse o tempo
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
atrevi-me a mergulhar nos teus cabelos
respirando o espanto que me deras
ali havia força havia fogo
havia a memória que aprenderas
senti no corpo todo um arrepio
senti nas veias um fogo esquecido
percebemos num minuto a vida toda
sem nada te dizer ficaste ali comigo
sem nada te dizer ficaste ali comigo
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
falavas de projectos e futuro
de coisas banais frivolidades
mas quando me sorriste parou tudo
problemas do mundo enormidades
senti que um rio parava e o nevoeiro
vestia nos teus dedos capa e espada
queria tanto que um olhar bastasse
e não fosse no fundo preciso
queria tanto que um olhar bastasse
e não fosse preciso dizer nada
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
é tão dificil encontrar pessoas assim pessoas
(música e letra de Pedro Barroso
in álbum "Roupas de Pátria, Roupas de Mulher ",1987)
E continuamos com cálices de vintage.
Agora o último trovador português: Pedro Barroso.
Ao vivo, no próximo domingo à noite, na Feira de Artesanato e Gastronomia do Crato (Alto Alentejo), a anteceder os Vaya Con Dios.
Menina dos olhos de Água
Menina em teu peito sinto o Tejo
e vontades marinheiras de aproar
menina em teus lábios sinto fontes
de água doce que corre sem parar
menina em teus olhos vejo espelhos
e em teus cabelos nuvens de encantar
e em teu corpo inteiro sinto o feno
rijo e tenro que nem sei explicar
se houver alguém que não goste
não gaste - deixe ficar
que eu só por mim quero-te tanto
que não vai haver menina p'ra sobrar
aprendi nos "Esteiros" com Soeiro
aprendi na "Fanga" com Redol
tenho no rio grande o mundo inteiro
e sinto o mundo inteiro no teu colo
aprendi a amar a madrugada
que desponta em mim quando sorris
és um rio cheio de água levada
e dás rumo à fragata que escolhi
se houver alguém que não goste
não gaste - deixe ficar...
que eu só por mim quero-te tanto
que não vai haver menina p'ra sobrar
(música e letra de Pedro Barroso
in álbum "Cantos da borda d'água" 1985)