Em gestão corrente ...como o País...

Agosto 30 2007

             

   E continuamos com cálices de vintage.

   Agora o último trovador português: Pedro Barroso.

   Ao vivo, no próximo domingo à noite, na Feira de Artesanato e Gastronomia do Crato (Alto Alentejo), a anteceder os Vaya Con Dios.

 

  

                             

Menina dos olhos de Água

                          

Menina em teu peito sinto o Tejo
e vontades marinheiras de aproar
menina em teus lábios sinto fontes
de água doce que corre sem parar

                 

menina em teus olhos vejo espelhos
e em teus cabelos nuvens de encantar
e em teu corpo inteiro sinto o feno
rijo e tenro que nem sei explicar

             

se houver alguém que não goste
não gaste - deixe ficar
que eu só por mim quero-te tanto
que não vai haver menina p'ra sobrar

             

aprendi nos "Esteiros" com Soeiro
aprendi na "Fanga" com Redol
tenho no rio grande o mundo inteiro
e sinto o mundo inteiro no teu colo

           

aprendi a amar a madrugada
que desponta em mim quando sorris
és um rio cheio de água levada
e dás rumo à fragata que escolhi

              

se houver alguém que não goste
não gaste - deixe ficar...
que eu só por mim quero-te tanto
que não vai haver menina p'ra sobrar

       

(música e letra de Pedro Barroso
in álbum "Cantos da borda d'água" 1985)



Agosto 30 2007

  

Bob Dylan e Joan Baez em 1969

 

   Outra do Bob Dylan (o vinho do Porto continua a ser servido neste blogue).

   Ouça o resto da noite!              


emgestaocorrente às 21:57

Agosto 29 2007

 

 

   

 


 


Agosto 29 2007

      

   E já que estamos em maré de vinho do Porto, aqui vai outro cálice de vintage, servido por um canastrão canadiano que se agarrou à country como uma lapa.

   Ora ouçam com atenção.            

  

 


emgestaocorrente às 22:35

Agosto 29 2007

    

As amoras

    

O meu país sabe às amoras bravas

no verão.

Ninguém ignora que não é grande,

nem inteligente, nem elegante o meu país,

mas tem esta voz doce

de quem acorda cedo para cantar nas silvas.

Raramente falei do meu país, talvez

nem goste dele, mas quando um amigo

me traz amoras bravas

os seus muros parecem-me brancos,

reparo que também no meu país o céu é azul.

    

Eugénio de Andrade

emgestaocorrente às 19:17

Agosto 28 2007

  

 

       

   Mais vinho do Porto.

   Desta vez é vintage. Ouça o resto da noite e dispense o Prozac.  

   

 


 


Agosto 28 2007

          

  

   Mais vinho do Porto.

   Um octogenário (BB King) e um rapaznho do meu tempo (Eric Clapton).

   Para ouvir 3 vezes seguidas.

  


emgestaocorrente às 22:15

Agosto 28 2007

     

    Depois dos sessenta é melhor?

     Bob Dylan, como só ele!   

     

 


emgestaocorrente às 21:36

Agosto 27 2007

   Nem sempre estou de acordo com João Gonçalves, mas o seu blogue "Portugal dos pequeninos" deve fazer parte da ementa diária da navegação pela net. Com a devida vénia, transcrevo 2 post que subscrevo inteiramente.

25.8.07

A BANDA LARGA

 

José Sócrates regressou ao seu posto de trabalho. Com a proverbial falta de imaginação que o caracteriza, foi até Setúbal dar computadores e falar pela enésima vez na "banda larga". Guterres, quando já não tinha mais nada para dizer, também se agarrou à "internet" como gato a bofe. E perdeu todas as suas batalhas, a começar pela "paixão" educativa e a da qualificação. Sócrates não tem um terço das qualidades - sobretudo humanas - que, apesar de tudo, Guterres possuia. A segunda metade do mandato, depois das passadeiras vermelhas, vai ser dura. Vamos ver quanto tempo dura.

 


Agosto 27 2007

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Cito, de memória, das rádios:

23 anos, nascido na Nigéria, a viver em Portugal desde os 5 anos.

Convidado, por diversas universidades americanas de prestigio, para ir estudar para os USA, recusou por preferir Portugal e continuar perto da familia.

Para que conste:

Entrvistado pela Antena 1, exprimiu-se num português muito mais escorreito e gramaticalmnte correcto que muitos portugueses com outras responsabilidades, designadamente dirigentes associativos, sindicais e, até, politicos.

À maneira beirã:

Bem hajas, Nelson Évora!

  

 


 


Agosto 27 2007

     

   O último Jorge Palma (clique para ouvir).

   Como o vinho do Porto?

    

   


emgestaocorrente às 18:51

Agosto 26 2007

       

Alegoria floral

   

Um dia em que a mulher nasça do caule da roseira

que cresce no quintal; ou um dia em que a nuvem

desça do céu para vestir de névoa os seus

seios de flor: seguirei o caminho da água nos

canteiros que me levam ao caule, e meter-me-ei

pela terra em busca da raíz.

   

Nesse dia em que os cabelos da mulher se

confundirem com os fios luminosos que o sol

faz passar pela folhagem; e em que um perfume

de pólen se derramar no ar liberto da névoa:

procurarei o fundo dos seus olhos, onde corre

uma tranparência de ribeiro.

   

Um dia irei tirar essa mulher de dentro da flor,

despi-la das suas pétalas, e emprestar-lhe o véu

da madrugada. Então, vendo-a nascer com o dia,

desenharei nuvens com a cor dos seus ~lábios, e

empurrá-las-ei para o mar com o vento brando

da sua respiração.

  

Depois, cobrirei essa mulher que nasceu da roseira

com o lençol celeste; e vê-la-ei adormecer, como

um botão de rosa, esperando que a nuem desça

do céu para a roubar ao sonho da flor.

    

Nuno Júdice,

in "O estado dos campos", 2003

   


 

emgestaocorrente às 18:39

Agosto 18 2007

    

O poema que a seguir se publica pertence a um livro editado em 1960, em pleno sufoco salazarengo.

Porque será que, repentinamente, soa tão actual?

A todos os funcionários, especialmente aos públicos, vitimas de ataques de uma ferocidade que não existia nem sequer antes do 25 de Abril.

    

 O funcionário cansado

  

   A noite trocou-me os sonhos e as mãos

   dispersou-me os amigos

   tenho o coração confundido e a rua é estreita

   estreita em cada passo

   e as casas engolem-nos

   sumimo-nos

   estou num quarto só num quarto só

   com os sonhos trocados

   com toda a vida às avessas a arder num quarto só

  

   Sou um funcionário apagado

   um funcionário triste

   a minha alma não acompanha a minha mão

   Débito e Crédito Débito e Crédito

   a minha alma não dança com os números

   tento escondê-la envergonhado

   o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente

   e debitou-me na minha conta de empregado

   Sou um funcionário cansado dum dia exemplar

   Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?

   Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?

    

   Soletro velhas palavras generosas

   Flor rapariga amigo menino

   irmão beijo namorada

   mãe estrela música

   São as palavras cruzadas do meu sonho

   palavras soterradas na prisão da minha vida

   isto todas as noites do mundo uma noite só comprida

   num quarto só

     

António Ramos Rosa,

in "Viagem através duma nebulosa", 1960

   


 


Agosto 18 2007

    

A rapariga do sweater vermelho

    

   Para os que gostam de fruta tu tens o sabor almiscarado.

   Entre os balubas serias uma fêmea baluba cor de cera.

   No Egipto era uma flor de lótus o teu penteado

   para os insectos serás outra variedade de pêra.

   

   Na cama dos solitários andrenídeos

   és um corpo apetecido pelas abelhas

   e se em teus dedos nascer a flor dos suicídios

   és um pecado venial de unhas vermelhas,

  

   venial volumosa e branca muito odorífera

   dando claridade à sombra dos quartos de aluguer.

   Para os assassinos serás uma arma mortífera

   para os pederastas a raiva de não serem mulher.

   

   Para os anjos és talvez a alternativa

   de em ti encarnar a graça que eles têm no ar.

   É de ti mesma que estás arborizada e viva

   ou serás como as rosas apenas para ver e cheirar?

    

Natália Correia,

in "O vinho e a lira", 1966

   


 

emgestaocorrente às 14:17

Agosto 15 2007

                       

 

     

Leão esculpido em granito numa parede de Trancoso.

Alguém sabe a história da casa e o significado da figura?

    


 


Agosto 12 2007

   

   Para ver e ouvir, clique em baixo

   

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Agosto 12 2007

  

   No dia do centenário do nascimento de Miguel Torga, um poema, cheio de actualidade, de 1977.

   

   Voz Activa

   

   Canta, poeta, canta!

   Violenta o silêncio conformado.

   Cega com outra luz a luz do dia.

   Desassossega o mundo sossegado.

   Ensina a cada alma a sua rebeldia.

  

    Miguel Torga

    in "Diário XIII", 1983

    


emgestaocorrente às 17:37

Agosto 12 2007

  

   Miguel Torga, pseudónimo do médico Adolfo Rocha, nasceu há precisamente cem anos.

   Natural e criado no planalto transmontano, do qual nunca se desligou, fez toda a sua vida profissional e literária em Coimbra onde tinha um consultório, no Largo da Portagem, com uma vista fantástica sobre o Mondego e Santa Clara.

   Tive o privilégio de, em criança, ter sido consultado por ele por causa de um problema de ouvidos (Miguel Torga era otorrinolaringologista).

   Até hoje os meus pais referem, com muito orgulho, que Miguel Torga no final da consulta, além de ter elogiado o meu comportamento - pouco habitual em crianças, referiu  que eu tinha um olhar inteligente e uma cabeça semelhante à do Napoleão!

   Este exagero simpático do grande mestre exacerbou-me de tal modo o ego que o primeiro livro que li, mal comecei a soletrar letras e sílabas foi, claro, "O Senhor Ventura", logo seguido por "Os Bichos".

   Na esteira dos grandes escritores portugueses do século XIX (Eça e Camilo) e do século XX (Aquilino, Ferreira de Castro, José  Rodrigues Migueis, Carlos Oliveira, o injustamente esquecido Fernando Namora) Miguel Torga foi o último dos grandes senhores da literatura portuguesa a deixar-nos, com uma idade já provecta.

   Eterno candidato ao Nobel, nunca o recebeu - não viveu em tempos politicamente correctos para essa atribuição; coube a outro, com bem menos qualidades literárias, humanas e politicas a honra do Nobel; paciência, não foi a última vez que se cometeram injustiças!

   Hoje, dia do centenário do seu nascimento, Coimbra comemora a efeméride, inaugurando uma casa museu onde o escritor viveu várias décadas.

   Miguel Torga, personalidade independente de todas as amarras, disciplinas e jogos partidários, nunca escondeu simpatia pelo PS, tendo apoiado públicamente o PS em diversas fases da democracia portuguesa.

   Mário Soares, enquanto governante ou Presidente, nunca foi a Coimbra sem visitar Miguel Torga.

   A Câmara Municipal de Coimbra, promotora das celebrações, é presidida pelo Dr. Carlos Encarnação, do PSD.

   O Governo, presidido por um engenheiro com a licenciatura tirada nas condições que se conhecem, é do PS.

   Ninguém do governo se deslocou a Coimbra à homenagem a Miguel Torga. Nem aquela figura risível a imitar uma rameira do Bairro Alto nem o careca, estalinista até ao dia em que o PS lhe deu cama, mesa, tacho e roupa lavada.

   António Arnaut, fundador do PS e "pai" do SNS já protestou.

   Enfim, mais um episódio de Salazarismo sem Salazar!

    


 


Agosto 12 2007

    

   No dia do centenário do nascimento de Miguel Torga, um poema publicado em 1958.

   Recorde-se que, então, Salazar governava com mão de ferro, censura à comunicação social, PIDE e prisões politicas (para quem "abusava", pensando pela sua própria cabeça) e assassinatos quando não ia de outro modo!

   O regime salazarento/fascista ainda não tinha sofrido o "abalo" do General Humberto

 Delgado.

   (Porque será que sinto que, infelizmente, este poema voltou a ter plena actualidade?)

    

    

   Flor da Liberdade

    

   Sombra dos mortos, maldição dos vivos.

   Também nós... Também nós... E o sol recua.

   Apenas o teu rosto continua

   A sorrir como dantes,

   Liberdade!

   Liberdade do homem sobre a terra,

   Ou debaixo da terra.

   Liberdade!

   O não inconformado que se diz

   A Deus, à tirania, à eternidade.

  

   Sepultos, insepultos,

   Vivos amortalhados,

   Passados e presentes cidadãos:

   Temos nas nossas mãos

   O terrível poder de recusar!

   E é essa flor que nunca desespera

   No jardim da perpétua primavera.

    

   Miguel Torga,

   in "Orfeu Rebelde", 1958

    


 


Agosto 12 2007

 

   No dia do centenário do nascimento de Miguel Torga, um poema de 1950

     

   Quase um poema de amor

   

   Há muito tempo já que não escrevo um poema

   De amor.

   E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!

   A nossa natureza

   Lusitana

   Tem essa humana

   Graça

   Feiticeira

   De tornar de cristal

   A mais sentimental

   E baça

   Bebedeira.

    

   Mas ou seja que vou envelhecendo

   E ninguém me deseje apaixonado,

   Ou que a antiga paixão

   Me mantenha calado

   O coração

   Num intimo pudor,

   - Há muito tempo já que não escrevo um poema

   De amor.

   

   Coimbra, 7 de Fevereiro de 1950

   Miguel Torga,

   in "Antologia Poética", 1985

     

 


emgestaocorrente às 15:49

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